Quero desde já dizer que não simpatizo de forma alguma com o Presidente da Ucrânia, Victor Ianukovitch, nem com a sua política. Acho que tem um cadastro que não se coaduna em nada com o cargo que ocupa.
Mas também não arriscaria a transformar Iúlia Timochenko, ex-primeira ministra ucraniana, numa santa. Em sistemas económicos e políticos como o ucraniano é muito difícil determinar quem são os santos e os pecadores.
Porém, como nesse país não existe um sistema judicial independente, Timochenko está a ser alvo de um linchamento claramente político. Nesse sentido, deve-se reconhecer que quando ela era primeira-ministra e o cargo de Presidente era ocupado por Victor Iuschenko, a justiça era incomparavelmente mais equilibrada.
Mas não consigo compreender o que é que levou os dirigentes da União Europeia a decidirem boicotar a "parte ucraniana" do Campeonato de Futebol da Europa. Considero que constitui um erro confundir a política com o desporto e essa decisão, se for avante, volta a ressuscitar fantasmas do passado, da guerra fria.
Se os dirigentes europeus seguirem a mesma lógica e conservarem a coragem, essa decisão pode ser um mau agoiro para o Campeonato do Mundo de Futebol na Rússia de 2018. Mikhail Khodorkovski e Planton Lebedev, antigos patrões da petrolífera russa YUKOS e actualmente a cumprir longas penas de prisão, poderão sair até lá da prisão, mas ninguém pode garantir que nessa altura não se encontrem nas prisões russas outros empresários ou políticos russos. Quem poderá garantir que não surjam novos casos como o de Serguei Magnitski, homem de negócios que morreu na prisão devido a maus tratamentos e falta de assistência médica.
Será que a União Europeia irá ter a mesma atitude face ao Kremlin, que nessa altura ainda poderá ser dirigido por Vladimir Putin? Vamos esperar para ver, mas o novo precedente da mistura do desporto e política pode ter consequências nefastas...
18 comentários:
Creio que vale, como disseram políticos alemães, “não permitir que o regime usa o evento para a auto-promoção”. A elite de Donetsk pode ter o poder e dinheiro, mas não deve tem o poder de comprar o nosso respeito.
Eu penso que boicotar plenamente o campeonato não seria justo com a Polônia. Eu acho que o que os líderes ocidentais devem fazer é: naqueles jogos em que autoridades são convidadas pra ficarem na tribuna de honra (reis, primeiro-ministro, presidente...), apenas nos jogos realizados na Polônia essas autoridades compareceriam ao evento. Elas boicotariam os convites para assistirem os jogos na Ucrânia. Isso seria uma boa resposta ao governo ditatorial do país. A Ucrânia recebeu a possibilidade de sediar a competição como recompensa pela aproximação que vinha fazendo com o Ocidente. Agora que essa aproximação acabou, os países ocidentais não tem mais obrigação de colaborar com aquele governo, ainda mais um governo fantoche da rússia e ditatorial. Naquele país há presos políticos! É de fato contrangedor posar em fotos ao lado de ditadores como o presidente daquele país. Líderes de Alemanha, França, Reino Unido e etc.. teriam que explicar a opinião pública de seus países o que estavam fazendo apoiando ditaduras. A opinião pública desses países é mais conscientizada e não tolera apoio a ditadores. Ainda dizem que o Loukashenko é o último ditador da Europa, como se diz em Francês, "doux leurre"! Os seguintes países Europeus ainda são ditatoriais na minha opinião: Arzebaijão, Armênia, Rússia, Bielorússia e Ucrânia. De todos do os países da antiga URSS apenas os bálticos, Geórgia e Modávia são mais ou menos democráticos. Principelmente os balticos. Todos os outros e sobretudo os da Ásia Central são simplesmente ditaduras brutalíssimas!
Agora outras competições que podem devem ser boicotadas são: os jogos olímpicos de inverno em 2014 e a copa do mundo de futebol em 2018. O boicote seria devido ao regime ditatorial da Rússia e presos políticos que são muitos naquele país. Sem contar a invasão da Geórgia e etc...
Desta vez concordo parcialmente com a sua posição, José Milhazes. Para prenderem a Julia, também deviam encarcerar o antigo presidente Iushenko que na minha opinião foi mais nocivo, pois as suas ligações aos interesses norte-americanos eram incontornáveis e transformou a Ucrânia num mero peão do jogo Rússia-EUA com as consequências que já todos conhecemos. Foram esses mesmos jogos que dotaram a Rússia de determinação para avançar com os gasodutos alternativos (Nord e South Stream) e relegaram a Ucrânia para um papel ultradependente do fornecimento russo de gáz sem qualquer poder de negociação.
E este boicote arrisca-se a ser contraproducente pois se Ianukovich oscila entre a UE e a Rússia, este processo poderá empurrá-lo para os braços da Rússia e claro, Vladimir Putin agradecerá.
Cumpts
Manuel Santos
No entanto há algo muito estranho em tudo isto que é o facto de as lideranças europeias exigirem a libertação de Julia Timoshenko para que esta seja tratada em hospitais fora da Ucrânia.
Ela padecerá de doença para que o melhor hospital da Ucrânia não tenha tratamento?
Porque tem forçosamente de ser fora da Ucrânia?
Não será também uma forma de alimentar de fora uma oposição para vir a tomar o poder?
Cumpts
Manuel Santos
E provavelmente a UE não terá a mesma atitude em relação ao Kremlin por este contar com aliados económicos dentro da UE além de ter na sua mão a torneira do gáz.
Cumpts
Manuel Santos
Início do fim do Yanukovych:
http://www.radiosvoboda.org/content/blog/24565526.html
"Será que a União Europeia irá ter a mesma atitude face ao Kremlin, que nessa altura ainda poderá ser dirigido por Vladimir Putin?"
Não. Porque não é interessante para UE se indispor com um país no qual são altamente dependentes quando assunto é energia.
Ora, mas ainda há muitos chefes de estados que ele (o presidente da Ucrania) poderia convidar: tem o Loukasheko da Bielorússia, por exemplo. Formariam um belo par!
É isso mesmo! Nenhuma colaboração com ditadores!
Hoje Putin anunciou que a Rússia se oferece para dar os cuidados médicos que Timochenko necessita. Obviamente que sempre esteve disposta a tal e tem-se preparado para lhe tratar da saúde convenientemente. Aquilo a que os nazis chamavam tratamento especial.Quem conhece os esmeros do czar, sabe que é melhor que ela morra da doença do que de tal cura.Até onde irá a falta de vergonha do governo ucraniano para agradar ao monstrengo?
Até agora 6 chefes de estado e do Governo da UE já avisaram que não vão visitar Ucrânia, além disso, EU não irá ratificar o acordo com Ucrânia por causa do tratamento dado a Yulia Tymoshenko.
"Até agora 6 chefes de estado e do Governo da UE já avisaram que não vão visitar Ucrânia, além disso, EU não irá ratificar o acordo com Ucrânia por causa do tratamento dado a Yulia Tymoshenko."
Considero uma decisão acertada, aguardo agora que os demais líderes da União Européia sigam o mesmo caminho.
"Até agora 6 chefes de estado e do Governo da UE já avisaram que não vão visitar Ucrânia, além disso, EU não irá ratificar o acordo com Ucrânia por causa do tratamento dado a Yulia Tymoshenko."
Considero uma decisão acertada, aguardo agora que os demais líderes da União Européia sigam o mesmo caminho.
6 eram antes de ontem, hoje já são 11, incluindo Alemanha e Itália, além disso TODOS os comissários europeus...
Muito bom,
Espero qur os líderes da UE continuem firmes.
parece que já são 12, pobre Yanukovych...
já não haverá a cimeira, regime entendeu evitar a desgraça em termos de RP: http://www.mfa.gov.ua/mfa/ua/news/
detail/81102.htm
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