O general Alexandre
Bastrikin (na foto), dirigente do Comité de Investigação da Rússia (organização
equivalente à Polícia Judiciária portuguesa), foi acusado pelo jornal Novaya
Gazeta de ter ameaçado de morte o jornalista Serguei Sokolov, que trabalha
nesse órgão de informação.
Segundo Dmitri
Muratov, director do jornal, o general levou Sokolov para uma floresta, onde
teve uma “conversa dura” com ele.
“A verdade cruel é
que você ameaçou brutalmente de morte o meu adjunto [Sokolov]. E ainda gozou
dizendo que iria conduzir, em pessoa, a investigação sobre a sua morte”,
denunciou Muratov.
Como medida de
precaução, o jornal enviou Sokolov para um país estrangeiro, não fosse as
ameaças tornarem-se realidade.
Num artigo
publicado a 4 de junho, o jornalista acusara o general e outros investigadores
da comissão de encobrirem um grupo terrorista, responsável pela morte de 12
pessoas, em novembro de 2010.
Recordo que Anna
Politkovskaia, jornalista assassinada em 2007, trabalhava nesse jornal.
Escusado será dizer que, até agora, a instituição dirigida por Bastrikin ainda
não descobriu nem os executores, nem os mentores desse crime.
A denúncia de
Muratov provocou uma onda de indignação não só entre os jornalistas, mas também
entre aqueles russos que querem viver num país dirigido por pessoas adequadas.
Claro que poucas
eram as esperanças de que o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, ou o
primeiro-ministro Dmitri Medvedev, tomassem uma posição pública e exigissem o rápido
esclarecimento da situação, isto porque, em qualquer país do mundo, a ameaça de
morte, tanto mais vinda da boca de um general, é um crime.
O porta-voz de
Putin apenas revelou que o Presidente russo estava ao corrente do caso.
O primeiro a
reagir foi o próprio Bastrikin, mas um dia depois das acusações. No site do
Izvestia, próximo do poder, o general Bastrikin tinha qualificado de “delírio”
as acusações da Novaya Gazeta.
Delírio ou não,
mas o certo é que Bastrikin aceitou um encontro com Dmitri Muratov, aberto à
imprensa, para esclarecerem a situação.
Segundo Muratov, “Alexander Bastrikin não
negou nada e isso foi muito correcto da sua parte. Pegou no meu telemóvel e
telefonou a Serguei Sokolov para lhe pedir desculpas. Sokolov, por seu lado,
disse que havia muita emoção de ambas as partes. E Bastrikin disse-lhe que ele
podia voltar a viver e trabalhar na Rússia.”
Ou seja, Bastrikin
reconheceu que ameaçou de morte uma pessoa (por acaso, jornalista), o director
do jornal aceitou as desculpas, cumprimentou o general e o caso foi encerrado.
Não acham isto
muito estranho? Eu acho. Como é possível encerrar um caso destes com um simples
pedido de desculpas? Se o general disse aquilo que foi escrito, devia ter sido
corrido imediatamente do cargo e ser alvo de um processo-crime. Se o jornalista
mentiu, devia ser julgado por difamação.
Ou será que
estamos perante uma forma inovadora de substituir os tribunais?
Talvez tenha sido
sobre casos como estes que um poeta russo do séc. XIX disse que “A Rússia não
pode ser compreendida pela razão”.
P.S. O jornal Novaya Gazeta é um órgão muito credível
da oposição russa, mas, depois deste “acordo”, serão muitos os que passarão a
duvidar da credibilidade deste jornal.
33 comentários:
1. "Se o jornalista mentiu, devia ser julgado por difamação"
A questáo principal aqui é exatamente esta: se o jornalista mentiu ou não. Tendo em conta que se trata de um jornalista (tanto mais de um jornalista da "N.G.") eu pessoalmente não excluo a possibilidade de ele "ter exagerado um pouco", como muitos dos jornalistas costumam fazer às vezes.
2."Num artigo publicado a 4 de junho, o jornalista acusara o general e outros investigadores da comissão de encobrirem um grupo terrorista, responsável pela morte de 12 pessoas, em novembro de 2010."
Como todos na Rússia sabem, não foi um grupo terrorista, foi um grupo criminoso, e, pelos vistos, os culpados vão receber a pena máxima. E, pelo que se vê, os investigadores não tinham nenhum motivo para encobrirem a quem quer que seja. Pelos vistos o jornalista "exagerou" um pouco, como sempre, e os investigadores ficaram indignados. Se lá houve quaisquer ameaças, ninguem sabe- Claro que este jornalista não é a fonte mais credivel neste caso.
Anómnimo, o único que foi condenado foi o que não denunciou o crime e por isso foi condenado a 150 mil rublos (3500 euros) de multa. Que pena máxima!
Se o general pediu desculpa, é porque houve ameaça. Imagina que Bastrikin iria pedir desculpa se não tivesse ameaçado?
A Russia é uma Matrioska dentro de uma caixa de Pandora....Gosto muito da Rússia e da sua rica história, não fosse a minha futura esposa de Sankt Petersburg.
Mas a realidade e bem dura,tanto o jornalista como este chefe da polícia demonstram algumas dúvidas quanto ás suas histórias....mesmo assim tenho mais credibilidade no jornalista. Como o jornalista não colaborou com o "sistema" teve de ser reprimido.
Um bem haja para este Blog, e um forte abraço e muitos parabéns ao excelente jornalista José Milhazes.
С уважением
Sergey!!!
Milhazes, vc é um jornaleco que faz tudo por encomenda! Vai-te embora do nosso pais!Os KGBstas já se interessaram por tua figura!
Anónimo russo, obrigado por me ter prevenido de que os KGBestas andam atrás de mim. Só vou embora da Rússia se me obrigarem ou se eu assim o quiser.
Como grande valente que é, devia assinar o seu post. Tem medo?
Não li a Novaya Gazeta, mas existe uma gravação com o pedido de desculpas?
Leitor Wandard, se sabe russo, pode ouvir o pedido de desculpas que foi feito através de vários canais de televisão russos.
Jose Milhazes disse...
"Anómnimo, o único que foi condenado foi o que não denunciou o crime e por isso foi condenado a 150 mil rublos (3500 euros) de multa. Que pena máxima!"
Nao tenho muito tempo para acompanhar toda esta história, mas, de acordo com aquilo que li, um dos criminosos reais deste grupo (cujo crime já foi provado em tribunal) já cumpre pena de 20 anos de prisão, mais dois já se suicidaram na prisão (talvez os velhos "ladrões" (os chefes do mundo criminoso) que aínda reinam nalgumas das prisões mandaram mata-los de acordo com o seu codigo onde não se pode matar criamças). E isso se chama "encobrir" alguem? Não acredito que alguem "encubra" a alguem nesta história.
JM, terei lido bem??? Você AFIRMOU que um general da polícia AMEAÇOU DE MORTE um jornalista?
Note bem, você não escreveu que o jornal ACUSOU, você disse que o general AMEAÇOU. É, portanto, uma afirmação.
Há provas dessa ameaça? Você tem provas disso, as quais possa apresentar? Ou agora basta a um jornalista dizer que foi ameaçado para que isso, automaticamente, passe a ser verdade?
Bastará uma acusação para que o acusado tenha de ser automaticamente exonerado do cargo?
Anónimo disse...
"A Russia é uma Matrioska dentro de uma caixa de Pandora....Gosto muito da Rússia e da sua rica história, não fosse a minha futura esposa de Sankt Petersburg.
Mas a realidade e bem dura,tanto o jornalista como este chefe da polícia demonstram algumas dúvidas quanto ás suas histórias....mesmo assim tenho mais credibilidade no jornalista. Como o jornalista não colaborou com o "sistema" teve de ser reprimido.
Um bem haja para este Blog, e um forte abraço e muitos parabéns ao excelente jornalista José Milhazes.
С уважением
Sergey!!!"
Vocês sabem tudo melhor que nós na Russia. Até sabem quem "colaborou" com o "sistema" e quem não. È louvavel essa capacidade de ver tudo em preto e branco, e os jornalistas mais imparciais sempre ajudam voces a tomar uma posoção correta. Só que, se vocès todos são tão corretos, porque é que não são capazes de resolver os seus próprios problemas e estão mergulhados numa crise muito profunda? Onde estão os vossos jornalistas lúcidos, porque não vos mostram o caminho de salvação?
Caro Pippo, porque razão o general pediu desculpa publica ao jornal e jornalista? O general apenas negou que o tinha levado para uma floresta, não desmentindo o resto.
Você sabe russo e pode ler todas as declarações.
Anónimo russo, se não tem muito tempo para estar ao corrente das notícias, o melhor que há a fazer a não comentá-las. Leia as notícias e entenderá a causa do incidente.
Jose Milhazes disse...
"Anónimo russo, se não tem muito tempo para estar ao corrente das notícias, o melhor que há a fazer a não comentá-las. Leia as notícias e entenderá a causa do incidente."
Pelos vistos, já li mais que o senhor.
Porque não foi eu quem escreveu o seguinte:
"Anómnimo, o único que foi condenado foi o que não denunciou o crime e por isso foi condenado a 150 mil rublos (3500 euros) de multa"
Porque eu li alguma coisa e soube logo que não só esse individuo já tinha sido condenado
"Ou seja, Bastrikin reconheceu que ameaçou de morte uma pessoa (por acaso, jornalista),"
...e por acaso se não fosse? Vocês jornalistas acham-se mesmo intocáveis e uma classe à parte. Um jornalista é igual aos demais e ultimamente só têm revelado que podem ser tão maus profissionais como os outros.
Portanto ameaçou de morte de uma maneira construtiva, amigável, no espírito de camaradagem quase...
Isso tudo me lembrou o verso do Shenderovich sobre Estaline (algo assim):
Sim, velhotes, sim crianças, sim chechenos e inguches, que mal fará, pois somos nossa gente!
JM, o meu russo não é assim tão bom...
Em primeiro lugar, presumo que haja imagens e som, para nós vermos os dois a conversar e o general a admitir que tinha ameaçado o jornalista de morte, certo? É que uma coisa é um jornal escrever, outra coisa é vermos o próprio a afirma-lo.
Segundo, se de facto o general "não negou que tinha ameaçado o jornalista de morte" (o que não é exactamente o mesmo que admiti-lo), então porquê a sua frase "Se o general disse aquilo que foi escrito, devia ter sido corrido imediatamente do cargo e ser alvo de um processo-crime. Se o jornalista mentiu, devia ser julgado por difamação."
Então, em que ficamos, o general ameaçou mesmo (e temos imagens e som disso, ou pelo menos do próprio a admiti-lo), ou não temos?
Arranja-nos os links das imagens e som desse telefonema?
Pippo não consegui encontrar nenhum vídeo original dos noticiários no qual o general apareça pedindo desculpas, apenas as imagens de vídeo de Dmitri Muratov declarando que o general pediu desculpas e não negou nada e que o jornalista ficou emocionado.
Onde estão as gravações (imagem e som) do general pedindo desculpas????????
Wandard, procure você. Veja se a euronews transmitiu as desculpas do general.
http://pt.euronews.com/2012/06/15/general-da-policia-russa-pede-desculpas-ao-jornalista-pelas-ameacas-de-morte/
Desculpe lá, JM, mas acho que desta vez você só pode estar a gozar com o pagode! :0)
Em momento algum na Euronews se vê o oficial a abrir o bico.
Portanto, o que temos é um director de um jornal que DISSE que o jornalista foi ameaçado por um general e que DISSE que o general não desmentiu nada e até pediu desculpas.
Ou seja, o que temos são alegações ou acusações, mas você apresenta-o como sendo um FACTO.
Como o director de um jornal DISSE, isso constitui PROVA INILIDÍVEL, é isso!?!?!
Há imagens e som desse acontecimento? temos vídeos das ameaças ou da conversa ao telefone? Pelos vistos não.
E se em vez de ser o director de um jornal, se for um trabalhador normal qualquer, um gajo sem carteira profissional de jornalista, a palavra dele também serviria de prova, seria A verdade, ponto final?
Caro Pippo, você sabe russo. Faça uma busca na net e ouça o que o general disse em público, perante as câmaras de televisão.
Pois é, caro JM, até a Википедия já tem um artigo sobre o caso, com os links devidos, mas olhe que em lado nenhum eu vi links para o vídeo onde o Bastrikin admite ter ameaçado o jornalista.
Também procurei no Youtube e... nada.
O que eu encontro, sim, são vários artigos escritos onde se diz que ele pediu desculpas pela conversa que "assumiu contornos quentes", mas isso é tudo.
Não sei, devo ser eu que devo estar a perceber mal as coisas, mas se um alto funcionário do "Império do Mal"* me tivesse realmente ameaçado, não bastaria um pedido de desculpas para ficarmos novamente amigos...
* pois é assim que a Rússia é aqui constantemente retratada...
"Wandard, procure você. Veja se a euronews transmitiu as desculpas do general."
"http://pt.euronews.com/2012/06/15/general-da-policia-russa-pede-desculpas-ao-jornalista-pelas-ameacas-de-morte/"
Sr. Milhazes,
Agradecido por responder de forma educada e atenciosa.
Pippo,
O que consegui encontrar não aparece nenhum pedido de desculpas gravado, apenas as declarações de reconciliação de Muratov e o general. Tentei RBC, RTR E MIR, mas não encontrei nada diferente, se conseguir alguma informação agradeço.
Companheiros, vocês não estão a encontrar, pois procuram algo que não existe!!! Digamos ameaçou, e depois? Agora já não é possível ameaçar um jornalista? É um exemplo de neo-liberalismo e perca da identidade cultural nacional!
Jest,
O texto é claro "Segundo Muratov, “Alexander Bastrikin não negou nada e isso foi muito correcto da sua parte. Pegou no meu telemóvel e telefonou a Serguei Sokolov para lhe pedir desculpas."
Onde estão as provas do ocorrido? O encontro está registrado e as declarações de Muratov também, mas aonde estão as provas do "reconhecimento" e "pedido de desculpas"?
2 Wandard 11:52
Não me interesso pelo caso do general at all, pois nasci na URSS e sei o que podem fazer os “órgõs”, acredite que podem fazer TUDO e cidadão não pode fazer praticamente nada... dai estou me simplesmente a rir da vossa discussão meio inútil...
2 Jest
Está a rir-se mas não deveria, pois o autor do blog escreveu taxativamente "General da polícia ameaça jornalista".
Uma coisa é dizer "Jornalista acusa General da polícia de o ameaçar de morte" (que foi o que aconteceu: o jornalista disse que o general o havia ameaçado); outra coisa muito diferente é dizer, tout court, que "fulano ameaçou cicrano".
Ao escrever o que escreveu, o JM está a AFIRMAR que o tal general, comprovadamente e sem qualquer sombra de dúvida, ameaçou o jornalista, o que implica que, das duas uma, ou o JM testemunhou o facto, ou tem provas do que afirma.
Ora, o que é que nós temos no meio disto tudo? Apenas a palavra de um indivíduo. Isso faz fé, serve de prova inabalável e inilidível? Porquê? Só porque a "vítima" é jornalista? Ou é porque o "criminoso" é um "órgão" do Estado?
Se assim for, então basta alguém acusar um funcionário público/ polícia/juiz, etc de uma qualquer patifaria para o tipo ser de imediato culpado e condenado, só porque é um "órgão" do Estado.
Isso é absurdo e todos o sabemos bem.
Pippo, já aqui que escrevi que o general pediu desculpa ao jornalista pelas ameaças feitas, o que significa que o general fez essas ameaças. Você sabe russo e pode ler sobre tudo isso.
Jest,
Você pode estar a rir, mais eu estou muito mais.
Foi escrito pelo Sr. Milhazes que houve um pedido de desculpas por ameaça de morte a um jornalista, é só ler a transcrição do texto, é claro que a notícia não é de autoria em primeira mão do Sr. Milhazes, mas este a endoçou em seu blog e como jornalista ao levá-la adiante, porém não existem gravações que provem o pedido de desculpas, somente gravações com declarações de Muratov e da própria reunião na sede da Interfax, todos que consultei em todos os locais de mídia, fóruns de discussão na Rússia que regularmente visito desconhecem o pedido de desculpas (gravado imagem e som) do general ao jornalista.
Se ele existe, e a mim por não ser jornalista é inacessível então que seja revelado, pois sem isto o texto aqui escrito não tem nenhuma veracidade.
"Pippo, já aqui que escrevi que o general pediu desculpa ao jornalista pelas ameaças feitas, o que significa que o general fez essas ameaças. Você sabe russo e pode ler sobre tudo isso."
Com todo respeito à pessoa e profissional que é o Sr. Milhazes, mas este comportamento é se esquivar de uma resposta concreta sobre o assunto.
Se o general pediu as desculpas, só pode pedir por algo que fez, ninguém se desculpa por algo que não fez. Estranho que general se dignou a desculpar-se, geralmente seguem a máxima do Lenine "Moralmente aceite tudo que contribui para a revolução", no caso deles "para o poder do Estado sobre os cidadãos"...
E o general pediu desculpas? Cadê?
Bom, o Wandard já disse o que eu tinha a dizer...
O general pediu desculpas, disse "olhe, desculpe tê-lo ameaçado", etc.? Imagens e som, sff.
De resto, só temos a palavra de UM homem o que, para mim, que lido com factos e elementos concretos no meu dia a dia, não vale nada.
Enviar um comentário