sábado, janeiro 05, 2013

“A Profecia de Marques Júnior”






Sei que este texto chega um pouco atrasado, mas não tinha comigo o livro quando me chegou a notícia triste de que o capitão de Abril António Marques Júnior falecera.
Não o conheci pessoalmente, mas pareceu-me ser um homem e político honesto, qualidade cada vez mais rara no firmamento nacional.
Ao ouvir a notícia, recordei-me que Eduard Kovaliov, um dos muitos coronéis do KGB (serviço de espionagem soviética) que passaram por Lisboa após o 25 de Abril de 1974, a coberto de correspondentes de órgãos de informação da URSS, escrevera nas suas memórias algo sobre o capitão Marques Júnior. Mas não tinha comigo o livro.
Agora que peguei nele, vi que tinha razão e aqui deixo o capítulo, intitulado “A Profecia de Marques Júnior” onde ele fala do capitão de Abril. Depois de terminar o seu trabalho em Portugal, Eduard Kovaliov está sentado no avião que o irá conduzir a Moscovo e recorda um dos últimos encontros no nosso país: “Recordo até hoje uma dessas conversas com António Marques Júnior, um dos membros do Conselho da Revolução (órgão supremo do Movimento das Forças Armadas), nessa altura já dissolvido. Ao despedir-se de mim, ele pronunciou palavras verdadeiramente proféticas: “Eduardo, faz boa viagem e bom regresso à Pátria… Eu e os meus camaradas desejamos-te, do fundo do coração, todas as felicidades e êxitos em Moscovo! Aí, lembra-te de nós e do nosso pobre país, da nossa luta para que os deserdados passem a viver pelo menos um pouco melhor. E digo-te uma coisa mais: tu podes ficar ofendido, mas parece-me que, dentro em breve, talvez demasiadamente em breve, terás de passar na União Soviética aquilo que nós já vivemos… Quando fores participar na vossa revolução soviética, semelhante à que se deu no nosso país a 25 de Abril, lembra-te dos deserdados… Mas, por enquanto, desejo-te muita, mas muita felicidade e novos êxitos”.
Estas palavras foram pronunciadas por Marques Júnior em 1977. Sete anos depois, Mikhail Gorbatchov dava início às reformas na União Soviético e, em 1991, o comunismo ruiu como um baralho de cartas no Leste da Europa.

1 comentário:

Anónimo disse...

Isto parece uma história da carochinha...
JM