Tal
como tinha prometido aos meus leitores brasileiros, aqui fica um dos protótipos
de Ostap Bender, de que falei no post anterior.
“Em
1844, o barão Nikolai Mikhailovitch Mengden passou a ser funcionário do Senado.
Devido à sua fraca saúde, ele foi autorizado a descansar 28 dias no estrangeiro
e, por recomendação dos médicos, fez uma viagem marítima entre Petersburgo e
Hamburgo. Aqui, ele gostou tanto de um enorme e belíssimo navio comercial de
três mastros que se dirigia para o Rio de Janeiro. Sem pensar muito, Nikolai
Mikhailovitch decidiu também viajar para o Brasil. Navegaram durante três
meses, pois, para desgraça deles, fazia calmaria quando atravessaram o Equador.
O
nosso embaixador ficou muito contente com a chegada do conterrâneo russo.
Nikolai Mikhailovitch pediu-lhe para conseguir uma audiência com o Imperador D.
Pedro. O embaixador dirigiu-se ao Ministério dos Assuntos Externos e transmitiu
o desejo do barão. Seguiu-se a pergunta: “Qual o cargo que o russo ocupa em
Petersburgo?”.
O
meu tio respondeu que ele “presta serviço no Senado”. Na realidade, Nikolai
Mikhailovitch era ajudante de secretário no Senado. O ministro brasileiro
compreendeu que ela era senador e D. Pedro marcou uma audiência.
Quando
Nikolai Mikhailovitch partiu de Petersburgo, ele própria não sabia porque é que
decidiu levar a farda e não imaginava que ela lhe iria ser muito útil. Porém, era
preciso comprar um chapéu e uma espada. Comprou tudo no Rio de Janeiro. O
chapéu de três bicos com plumas brancas era muito bonito.
No
dia marcado, D. Pedro, rodeado da sua corte, na sala do trono, recebeu o
senador russo. Este último, de farda de senador, espada e chapéu de três bicos
com plumas brancas, apresentou-se com a melhor das disposições ao Imperador. Don
Pedro perguntou-lhe: “O que vos trouxe ao Brasil?” Nikolai Mikhailovitch
respondeu que “interesso-me muito por este país fantástico”. Então, D. Pedro
perguntou-lhe: “Tenciona visitar o interior do país e, se assim for, dirija-se
ao ministro do Interior que ele prestará todo o apoio, pois os caminhos no país
ainda não estão em ordem”.
O
ministro fez uma profunda vénia a Nikolai Mikhailovitch. O meu tio passou o
tempo no Rio de Janeiro entre grande alegria. Quando regressou a Petersburgo, há
muito tinha sido afastado do seu cargo…”
“Das
memórias da baronesa Sofia Mengden”. Revista “Russkaia Starina, 1908, Abril, pp.
97-116.
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