segunda-feira, janeiro 27, 2014

Guerra, Ucrânia, Rússia, UE e nós


Hoje são assinaladas duas datas importantes ligadas à Segunda Guerra Mundial, a maior matança organizada pela humanidade durante toda a sua história: o Holocausto e o fim do Bloqueio de Leninegrado (hoje, São Petersburgo). Por isso, presto homenagem aos milhões de vítimas dessas duas tragédias.
Mas os seres humanos, pelo menos um número bastante numeroso deles, parecem não estar cansados de carnifaria e mortes. Daí que vou escrever hoje, mais uma vez, sobre a Ucrânia, onde a situação resvala rapidamente para um enorme banho de sangue, com consequências imprevisíveis.
Fala-se de amanhã, dia 28 de janeiro, como podendo ser o dia X no desenrolar dos acontecimentos em Kiev e no país em geral, pois a Rada (Parlamento) vai reunir-se de emergência para tentar encontrar uma saída para a situação na Ucrânia.
(Claro que é difícil chamar a essa reunião “de emergência”, pois o conflito já vai na terceira semana. Além disso, já morreram pelo menos seis pessoas, algumas estão desaparecidas e centenas ficaram feridas).
Mesmo que a polícia consiga manter segurança suficiente para a realização da sessão parlamentar (o que é problemático), é difícil esperar resultados positivos da reunião de amanhã, pois, em situações bem menos dedicadas, os deputados ucranianos transformaram o seu Parlamento numa autêntica praça de touros. Poderão dizer-me que, numa situação tão grave, os parlamentares terão mais responsabilidade... Vou esperar para ver, mas...
Os deputados que apoiam o Presidente Ianukovitch e a sua clã até poderão dar marcha atrás e anular a sua decisão de 16 de janeiro, que foi uma das principais causas do conflito. Recordo que, nesse dia, eles aprovaram um pacote de leis que limita seriamente as liberdades de expressão e manifestação.
Mas isso não será suficiente, porque a oposição, ou melhor, as oposições querem muito mais, sendo a principal reivindicação a demissão do Presidente e do Parlamento e a realização de eleições antecipadas.
Ao mesmo tempo, apoiantes das oposições continuam a ocupar edifícios do Governo e das autoridades regionais, sendo estas operações palcos de confronto com a polícia. O edifício do Ministério da Justiça foi o último da série a ser ocupado, mas essa série vai certamente continuar.
(Verdade seja dita, os dirigentes das ocupações parecem ter alguma sensatez. Quando entraram no Ministério da Energia, o ministro lembrou-lhes que a ocupação deste edifício poderia ter causas funestas, pois é daí que se comanda o sistema elétrico do país e as quatro centrais nucleares aí existentes. Os ocupantes retiraram-se.)
Por conseguinte, começa a ser cada vez mais difícil compreender como é que os actuais dirigentes da oposição irão conseguir travar a situação mesmo que consigam ver satisfeitas as suas reivindicações. Só quem não quer é quem não vê que no interior da oposição há grupos extremistas com programas políticos muito pouco democráticos, para não falar de forma mais contundente.
É de sublinhar também que as várias partes dos confrontos na Ucrânia são apoiadas por grupos oligarcas que, antes de tudo, tentam resolver os seus problemas. Para os filhos e a família de Ianukovitch terem “engordado” em demasiada, passando a estar entre os mais ricos no país, alguém teve de se afastar e ceder.
Não fosse a violência e eu diria que já vi esta situação na Ucrânia em 2004. Nessa altura, venceram os chamados pró-europeus para grande alegria de Bruxelas e Washington, mas os problemas do país ficaram por resolver.
Por falar em Bruxelas. Amanhã também, mas em Moscovo, realiza-se mais uma cimeira da Rússia com a União Europeia, mas desta vez mais curta, mas não menos difícil.
Normalmente, as cimeiras Rússia/UE demoravam dois dias, mas, desta vez, vai durar apenas duas horas e meia. As relações entre as duas partes talvez nunca tenham sido tão gélidas desde a “guerra fria” (se exceptuarmos, claro está, a crise de Agosto de 2008, quando da guerra russo-georgiana) e não se esperam resultados visíveis desse acordo, além dos habituais blás-blás sobre que “iremos continuar a busca...”, “procurar consensos...”, etc.
Prevê-se que nessa reunião Durão Barroso e a sua comitiva abordem o problema da Ucrânia com Vladimir Putin. As partes não deverão chegar a acordo algum neste campo, mas talvez se possa ouvir algumas declarações a que o Presidente russo já nos habituou. Ou talvez não, porque, nos últimos tempos, ele tem estado mais calmo e assim deverá continuar até ao encerramento dos Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi. Putin não pode atiçar divergências antes desse acontecimento desportivo, pois apostou muito nele.

Depois outros tempos virão e não estou a ver Moscovo a renunciar à Ucrânia enquanto zona de influência. Tempos difíceis nos esperam, digo eu, mas talvez seja demasiadamente pessimista...

3 comentários:

PortugueseMan disse...

Infelizmente meu caro, a Ucrânia está condenada, por falta de consenso interno sobre o seu futuro.

A Ucrânia quer ao mesmo tempo virar-se para a UE e usufruir de energia a preços de sonho.

O país está ser puxado por ambos os lados e ou um deles larga, ou fica rasgado ao meio.

O desejo de se virar para a UE é legítimo, mas não podem exigir que a Rússia, lhes forneça energia com descontos.

A Rússia só fará isso, com um governo amigável na Ucrânia. E faz isso para não ter a NATO instalada ali.

A Ucrânia ao virar-se para a UE, entra em falência, porque não reúne as condições financeiras, nomeadamente reflectir no consumidor os preços da energia. e a UE não vai subsidiar energia a um país.

E já vimos isto acontecer. A revolução laranja empurrou a Ucrânia para esta situação, e a UE nada fez. Democracia é uma coisa, dinheiro é outra.

A Ucrânia quer democracia com dinheiro dos outros. E quem está disposto a dar dinheiro é a Rússia.

Hoje o corte da energia na UCrânia já não ameaça tanto a Europa devido ao Nord Stream, mas ainda passa muita energia pelo o país, portanto a situação ficará crítica se houver novos cortes.

Devido a um possível asfixiamento energético na Europa, esta terá que ter muito cuidado com os passos que dá.

Quando o South Stream estiver activo, a Ucrânia pode-se embrulhar numa guerra civil e a cisão do país algo inevitável.

Desde a revolução laranja que acho, que se atiraram para o precipicio e estamos simplesmente a vê-los cair e a cair cada vez mais...

Fernando Negro disse...

(Para que tenham todos uma melhor ideia do que se passa...)

Os manifestantes que andam a ocupar os ministérios ucranianos são financiados pelo "Open Society Institute", do ("ex"-nazi) Sr. George Soros, de nacionalidade estadunidense.

Saibam aqui de onde vem o dinheiro que financia o "Spilna Sprava" - e fiquem, nessa mesma notícia, a saber que este mesmo grupo colabora de perto com uma ONG alemã que é financiada pela (não eleita) Comissão Europeia.

(Mais uma vez, fica assim provado o respeito que tem o Ocidente pela soberania dos outros países...)

Alguém que tenha provas de grupos financiados pelo governo russo, faça o favor de as apresentar.

Fernando Negro disse...

E os neonazis que fazem parte deste aglomerado de manifestantes? Porque razão não falam os média ocidentais deles?