A miopia dos dirigentes
da União Europeia e dos EUA durante a crise na Ucrânia e os tiques
imperialistas do Kremlin de Moscovo vão fazer aquilo que o confronto
entre a oposição ucraniana e Victor Ianukovitch não conseguiram
fazer, isto é destruir como Estado o segundo maior país da Europa.
A União Europeia e os
EUA decidiram que os acordos assinados podem ser violados ou rasgados
a qualquer momento, o importante era afastar Ianukovitch do cargo de
Presidente da Ucrânia e substituí-lo por líderes da chamada
oposição pró-europeia. O estudo das consequências fica para
depois.
A oposição chegou ao
poder e começou a alterar e a fabricar novas leis a uma velocidade
tal que também não se lembrou das consequências do que estava a
fazer. O exemplo mais gritante foi a anulação da lei que concede à
língua russa o estatuto de língua regional. Esta foi uma decisão
tão impensada, num país onde 100% dos habitantes falam russo, que
um grupo de intelectuais ucranianos do Oeste da Ucrânia, onde a
língua russa é menos utilizada, apelou à realização do dia da
língua russa hoje, na cidade de Lvov, incentivando todos os
ucranianos a falarem russo.
As novas autoridades em
Kiev continuam a não conseguir formar governo, pois o regatear em
torno das pastas governamentais continua e, segundo alguns deputados,
o dinheiro e os oligarcas participam activamente neste negócio
mafioso que levou o país ao estado em que se encontra.
Quando começam a soar
gritos do separatismo do Leste e do Sul do país, Arseny Iatzeniuk, o
provável primeiro-ministro, lembra que, em 1994, a Rússia, Estados
Unidos, França e Inglaterra assinaram o Tratado de Budapeste, que
prevê que, em troca da entrega das armas nucleares ucranianas à
Rússia, esses países garantirão a “independência” e a
“integridade territorial” da Ucrânia.
Não há dúvida que se
trata de um documento importante, mas o acordo entre a oposição e
Ianukovitch também não era? Não se admirem se Moscovo fizer o
mesmo, argumentando: “se eles podem, porque é que nós não
podemos?” Esta resposta será dada também aos três antigos
Presidentes da Ucrânia que hoje acusaram a Rússia de se ingerir nos
assuntos internos do seu país.
Além disso, a direcção
da Rússia continua a considerar que ninguém “pode mexer uma
palha” nos países que faziam parte da URSS sem autorização de
Moscovo. Não, por enquanto, é pouco provável que o Kremlin
arrisque a organizar uma intervenção militar no país vizinho, mas
tem numerosas alavancas de pressão. Manifestantes pró-russos
recusam-se a reconhecer o poder de Kiev, levantam barricadas e içam
bandeiras russas na Crimeia, já tiveram lugar os primeiros
confrontos entre pró-russos e pró-Kiev.
Moscovo também já fez
saber que suspendeu empréstimo à Ucrânia e proibiu entrada de
porcos vivos e de carne de porco ucranianos na Rússia.
A história vai
repetir-se uma vez mais, com consequências imprevisíveis, mas,
provavelmente, catastróficas.
23 comentários:
JM, não se esqueças que os "tiques imperialistas" não são exclusivos de Moscovo. Washington e Berlim estão, igualmente, a exercer uma política imperialista, tudo fazendo para colocar no poder quem lhes é mais simpático, para não falar directamente nos seus fantoches (caso do camarada do UDAR, "treinado" na Alemanha). Mais ingerência do que isto, só a política da canhoneira o que, obviamente, nem os EUA nem a UE/Alemanha estão em condições de fazer.
Relembro-lhe também que, na perspectiva norte-americana, a Ucrânia constitui o "ventre mole" (soft belly) da Rússia, carecendo por isso de estar sob o controlo da potência marítima.
Suspeito que o "novo poder" saido do golpe de Estado irá ser um galinheiro cheio de galos (e uma grande galinha!) e restará saber que atitudes serão tomadas pelos neo-nazis que conquistaram as ruas mas foram arredados do parlamento.
E obviamente, se os russos da Crimeia, justamente, decidirem tomar o seu destino nas mãos, não me parece que Kiev possa fazer grande coisa a não ser arriscar uma guerra civil, com consequências que bem poderemos imaginar.
Quanto a acordos e Direito Internacional... JM, não foi o Neville Chamberlain quem disse "I have this paper with his [Hitler] signature."?
Valeu-nos de alguma coisa?
E o Kosovo, também não nos ensinou algo?
Mas depois queixam-se do bicho-papão Rússia...
Vamos ser honestos por uma vez na vida? – Parte I
Todos vós que estão a rejubilar com o que se passa na Ucrânia, não estão minimamente interessados se eles vão viver em democracia ou não. O principal para vós será Moscovo perder um bastião e ficar debilitado, porque não toleram a Rússia como potência, muito menos autónoma e forte e a desafiar a superpotência dominante. Essa é a vossa grande euforia do momento. Como disse um político russo há uns tempos atrás, “não nos perdoarão enquanto não abdicarmos do nosso exército, enquanto não concessionarmos os nossos recursos naturais, enquanto não vendermos o nosso território”. A ofensiva a nível dos media contra a Rússia, os jogos de Sochi mais a omissão de tudo o que correu bem são um facto. Mesmo que Putin fosse mais ditador, mais totalitário não haveria problema se a Exxon Mobile estivesse no lugar da Gazprom, se a infraestrutura industrial e militar estivesse desmantelada, se para tudo o que precisassem, os russos tivessem que recorrer às multinacionais e corporações ocidentais ou associadas. Melhor ainda seria a fragmentação da Federação Russa deixando os Estados Unidos como única e hegemónica hiperpotência global, sendo o próximo alvo a grande potência regional emergente: a China. Acompanho a página de um comentador muito próximo dos EUA (dizem até as más líguas que seria eventualmente um agente desse país) e noto a sua euforia, o seu total e incondicional apoio mesmo até à irracioanlidade extremista do Svoboda.
Vamos ser honestos por uma vez na vida? – Parte II
Alguns de nós vêm todos estes acontecimentos com apreensão, não por apoiarmos Putin ou a cultura de corrupção da Rússia mas porque quem sairá vitorioso será outra espécie de Putin ou seja, serão os mesmos cujo movimento internacionalista dos “mercados livres” e do “comércio livre” nos esmaga nos nossos países também com uma mais sofisticada e dissimulada corrupção, mas não menos maligna e exclusiva. Com a Ucrânia conquistada, os adeptos das doutrinas de choque e toda a legião de Chicago Boys terão um novo fôlego para justificar, implementar e intensificar o laissez-faire económico, o neoliberalismo selvagem, o cada vez mais anti-democrático controlo sobre os media tornando aprazível e aceitável o sistema que produz percentagens de 20% de desemprego, de salários baixos, de classes médias em declínio, de miséria rompante ao lado das minorias cada vez mais injustamente ricas, tudo isto com uma oposição unicamente permitida na anacrónica caricatura do marxismo leninismo ou em extremas esquerdas tão niilistas como tolamente úteis. Quando os estupidificados ucranianos (sim, porque quem age por ódio e obsessão puras é um estupidificado) acordarem, já será tarde pois os seus novos extremistas e corruptos líderes já terão liquidado a indústria e claro, Bruxelas será implacável a impôr as cotas agrículas à Ucrânia. Para muitos de nós, qualquer tipo de União Soviética é nociva e implacável, venha ela com a foice e o martelo, com as Stars n’strips ou mesmo com as estrelinhas azuis e amarelas ao som daquele hino de Beethovan que no início soava tão bem mas que agora dá náusas ouvir, pois afundou totalmente as nossas esperanças e as nossas vidas.
Cumpts
Manuel Santos
Caro MSantos:
Parabéns pelo seu comentário, que considero muito lúcido e sensato.
As pessoas no Leste não estão tão em consenso assim pela divisão do país. A população nesses lugares está divida. Tem gente que nao quer ver o país nem dividido nem invadido.
Caro JM,
Você não incluiu na sua análise, um actor importante (sempre importante) nestas coisas. Os EUA/NATO.
A NATO também esteve muito activa a fazer declarações sobre a Ucrânia durante os tumultos.
A Ucrânia não esteve só a tentar a adesão à UE, esteve também a tentar aderir à NATO.
É claro que podemos dizer que a Ucrânia é livre de escolher o seu futuro, como é claro que a Rússia sente necessidade de se proteger e tem usado vários meios de pressão ao seu alcance para evitar essa entrada na NATO.
Apenas pelo o facto de haver o perigo de entrada na NATO na Ucrânia, a Rússia vai preferir uma Ucrânia dividida.
Agora esta situação é muito delicada também para a NATO, porque esta tem interesse numa só Ucrânia e porquê? porque a metade que potencialmente possa aderir à NATO fica sem acesso ao mar negro.
A NATO quer acesso ao Mar negro e mais importante quer tirar a base russa de lá e estreitar o acesso russo ao mar negro.
E se a isto juntarmos a situação do sistema anti míssil, tenho sérias dúvidas que a Rússia não reaja.
Portanto parece-me que a Ucrânia, está neste momento a um passo da destruição.
Implosão económica, divisão do país, corte de gás e possivelmente uma guerra civil que justificará a entrada dos russos, na àrea que lhes interessa e onde sejam desejados.
Resta saber até onde a NATO quer ir.
Seja como fôr o resultado não é nada bom para a Ucrânia, como já se previa há anos.
Manuel, touché! Mais uma vez, diga-se da passagem.
Para reforçar um pouco as minhas ideias, gostava de acrescentar mais uma perspectiva:
A segurança energética europeia.
1) O pipeline Nord Stream como já tinha indicado anteriormente (https://www.blogger.com/comment.g?blogID=25069983&postID=1442327786577411958), passou a poder usar a sua capacidade total, pois a UE desistiu das suas pretensões, com a situação a agudizar-se na Ucrânia, diminuindo assim parte do gás que seja necessário passar pelo o país em caso de corte.
2) O Inverno. Isto acabou por rebentar quando vamos a caminho da Primavera, ou seja as necessidades energéticas da europa vão diminuir à medida que o tempo aquece. O que dá mais uma folga em caso de interrupção de gás. Bastante conveniente...
3) o South Stream Pipeline
Enquanto as atenções estão focadas na Ucrãnia, não nos apercebemos do salto que este pipeline deu. Com a instabilidade crescente, o pipeline acabou por receber um enorme impulso:
Construction of South Stream Undersea Section to Start in Spring
...The South Stream pipeline is intended to transport up to 63 billion cubic meters of natural gas to central and southern Europe, diversifying Russian gas routes away from transit countries such as Ukraine...
http://www.novinite.com/view_news.php?id=158211
Contratos foram celebrados para a construção do pipeline:
EUROPIPE, United Metallurgical Company and Severstal to supply pipes for first line of South Stream’s offshore section
The South Stream Transport B.V. headquarters in Amsterdam (the Netherlands) hosted today the signing of contracts with regard to supply of 75 thousand 12-meter pipes for the first line of South Stream's offshore section.
The pipes will be supplied by German EUROPIPE (50 per cent of the whole volume), United Metallurgical Company (35 per cent) and Severstal (15 per cent). The total value of the contracts is approximately EUR 1 billion...
http://www.gazprom.com/press/news/2014/january/article183356/
De reparar que os alemães estão no contrato de fornecimento...
Portanto para o ano, vamos ter mais um pipeline a fornecer gás à Europa, minimizando a importância de um país trânsito como a Ucrãnia (e daqui realço que quem ficou prejudicado na guerra do gás de 2008, não foi a Rússia como fornecedora, mas sim a Ucrânia, como país de trânsito), o que abre janela a uma situação, a UE pode aguentar a Ucrânia com euros (e muitos) até ter salvaguardado a sua segurança energética, ou seja, a UE terá que agentar a Ucrânia pelo menos um ano. Isto se a NATO estiver fora do assunto, se esta estiver, a Rússia entra em acção e o cenário será bastante diferente.
Seja em que cenário fôr, a Ucrânia a meu ver, está condenada e só não vai se transformar numa Síria, porque parte do país irá estar protegida pela Rússia, mas até estes entrarem, muito sofrimento já terá passado...
P.S. Relativamente a pipelines, onde anda o Nabucco, pipeline esse que é tão patrocinado pelos os EUA/UE?
Os tartáros colocaram para correr os militantes pró-russos em frente ao parlamento da Criméia. Eles sabem bem o que sofreram nas mãos dos russos. Foram quase todos deportados para Sibéria. A Criméia pertencia a Turquia antes de ser tomada por Catarina.
José Milhazes
A comunicação social do ocidente boicotou por completo os Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi. Em vez dos jogos a Europort transmitia competições como o dardo, ténis de mesa, etc. Em Portugal, pagando, podia-se ver alguma coisa na SporTV. A célebre patinagem artística que tão apreciada é passou completamente em branco. É assim o comportamento democrático do ocidente. Ai como eu gosto desta Democracia…
J. Monteiro
Chegou a hora de ver colunas de tanques T90 a rolar em direcção a Kiev.
A brincadeira já foi longe demais.
Se a Ucrânia cai nas mão dos porcos globalistas em breve começam as construções de centenas de mesquitas em Kiev.
As paradas Gay/Lésbicas passam a ser obrigatórias todos os meses.
A Ucrania vai a caminho de se tornar em mais um estado Gay tal como todos os restantes países Europeus.
Foi apenas um desabafo depois de assistir a tanta desinformação que antigamente era clássica dos lados desonestos e de ver tanta gente a aplaudir libertações que nunca existiram, quando do lado da barricada dos vencedores estão os que lhes andam a extorquir os rendimentos, os empregos, a liberdade e até a própria vida.
Cumpts
Manuel Santos
É agradável verificar que nem todos em Portugal se deixaram cegar por um comunicação social nada honesta e que só se mostra disposta a fazer um certo jogo. Sejamos claros num ponto: sou um dos maiores críticos de Putin, tal como era de Ianukovitch. Mas não sou menos crítico de uma certa forma suja de fazer política e de fazer informação. Dá-se especial destaque aos confrontos (???) em Simferopol entre pro-Russos e Tártaros, com uma morte a assinalar (ao que parece uma morte por ataque cardíaco), mas omite-se um facto essencial: na Crimeia há 10 russos para um tártaro. Pergunto: algum tártaro sairia à rua se o clima social não fosse «democrático»? Os Tártaros sairam em força porque sempre tiveram liberdade para o fazer. Mas os Russos definitivamente não sabem fazer propaganda, e perdem na guerra da propaganda com o Ocidente.
A Rússia não vai permitir abusos e afrontas destas.
A Rússia vai intervir na Ucrânia e diga-se de passagem carregada de razão.
Milhazes,
Provas da corrupção do governo de Yanukovich, o "Ianukovich leaks":
http://pt.euronews.com/2014/02/26/ianukovitch-leaks-provam-fortuna-desviada-do-erario-publico-ucraniano/
PortugueseMan, existe sim uma alternativa ao South Stream. Será feito um gasoduto do Azerbaijão, passando por toda Turquia, a Grécia, a Albânia e se conectando com o sul da Itália. A Itália e a Austria não aderiram ao South Stream, o que me faz duvidar uma pouco da credibilidade do projeto. Esse South Stream é anti-economico, o lucro não irá compensar os custos visto que se interligará apenas com país pobres, aliados da Rússia (Sérvia, Bósnia, Croácia, Macedônia...), o que demonstra tb que o gasoduto foi feito mais por razões políticas que econômicas. Como vc mesmo falou, evitar a Ucrania e deixar o país vulnerável. Austria e Itália perceberam isso e abandonaram o projeta. O Nabuco foi feito muito antes do South Stream, mas foi sendo boicotado e sabotado. Muitos, devido a pressão e seduçao da Rússia, abandonou o Nabuco e aderiu ao South Stream. O gasoduto alternativo ao Nabuco chama-se TAP e aproveita parte de um gasoduto que corta o Arzeaijão, Geórgia e a Turquia. Veja:
http://pt.euronews.com/2013/06/28/gasoduto-tap-ganha-corrida-ao-gas-do-azerbaijao/
Europeísta,
Essa sua interpretação quanto à importância do South Stream para a Europa está incorrecta.
Só para a Itália está projectado receber metade da capacidade do South Stream, que é o mesmo que a capacidade TOTAL do Nabucco.
Relativamente ao TAP, tem a noção que estamos a falar de pipelines de "ligas" diferentes?
O Nabucco tem metade da capacidade do South Stream.
O TAP tem 1/6 da capacidade do South Stream.
Blá blá blá "O barco vai de saída ... adeus ó meus amores...http://actualidad.rt.com/video/actualidad/view/121078-ucrania-evitar-situacion-impago
aferreira
Estou vendo que os comunistas unidos
de cá estão a dar uma ajudinha à recomposição da URSS a mando do KGB
V. Putin.
aferreira, a letra é ""O barco vai de saída ... adeus ó CAIS DE ALFAMA (...)"
Fausto (Bordalo Pinheiro)
:)
Caro J. Monteiro das 20:20,
Obrigado por ter abordado a questão do boicott aos jogos olímpicos de inverno em sochi. Relembrou-me de abordar um assunto do qual já me tinha esquecido.
Aqui fica:
http://historiamaximus.blogspot.pt/2014/02/o-lobby-gay-e-o-boycott-aos-jogos.html
Cumpts,
João José Horta Nobre
Contacto: historiamaximus@hotmail.com
Gostei do artigo, João, e o que lá está é correcto.
"Curiosamente" não me lembro de ver grandes boicotes aos JO da China, esse grande país respeitador dos direitos humanos...
Caro Pipo das 14:58,
Obrigado.
O boycott por parte do lobby gay aos Jogos Olímpicos teve um "empurrãozinho" por parte da UE e dos EUA. Como só podia...
Cumpts,
João José Horta Nobre
Contacto: historiamaximus@hotmail.com
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