Três defesas de Sevastopol: 1854-1941-2014
Continuo com sérias
dúvidas sobre a legitimidade das novas autoridades ucranianas, bem
como da decisão das novas autoridades rasgarem o acordo com o
Presidente da Ucrânia, Victor Ianukovitch, assinado com a garantia
da União Europeia. Mas a minha posição nada importa para os
grandes jogadores da política internacional, pois cada um deles tem
uma explicação para justificar a sua posição.
A Rússia, por exemplo,
continua a considerar que as novas autoridades ucranianas não têm
qualquer legitimidade e continuam a considerar Ianukovitch o
Presidente da Ucrânia, embora o acusem de ser um dos principais
culpados da situação.
Segundo notícias não
confirmadas, Ianukovitch encontra-se refugiado numa base militar
russa.
Enquanto em Kiev os
vencedores vão dividindo as pastas governamentais e o país continua
sem controlo, Moscovo vai tomando posições no sul da Ucrânia,
região onde predominam disposições pró-russas. Hoje mesmo, Leonid
Slutzki, chefe do Comité para os países da CEI da Duma Estatal da
Rússia, chegou a Simferopol e anunciou: “A Rússia começa a
conceder passaportes segundo um processo facilitado. A Rússia exige
o cumprimento dos acordos entre a oposição e Ianukovitch. E, o
principal, se os habitantes da Crimeia decidirem em referendo ou o
Soviete Supremo (Parlamento) da Crimeia enviar à Rússia o pedido de
adesão..., a Rússia analisará essa questão muito rapidamente”.
Para os que se
esqueceram, no início dos anos 2000, a Rússia distribuiu
passaportes entre os habitantes da Abkházia e da Ossétia do Sul,
regiões separatistas da Geórgia. Em 2008, esse foi um dos
argumentos que Moscovo utilizou quando enviou tropas contra a
Geórgia: proteger os seus cidadãos.
Mais um pormenor. A lei
ucraniana não permite dupla nacionalidade, mas isso parece não
preocupar o Kremlin.
Em Sevastopol, outra
cidade da Crimeia, milhares de manifestantes proclamaram o cidadão
russo Alexey Tchaly presidente da câmara e içaram a bandeira russa
no edifício da câmara local.
Recordo que, nessa cidade
ucraniana, se encontra instalada uma base naval russa.
Mas voltemos à
distribuição de pastas governamentais em Kiev. Inna Boguslavskaia,
deputada independente, chama a atenção para o facto de as pastas
serem distribuídas à maneira antiga: “Hoje, no parlamento,
infelizmente, ocorrem processos iguais aos que aconteciam antes: por
dinheiro formam-se grupos, prometem cargos”.
Não irá contribuir
certamente para a normalização da situação a campanha eleitoral
que hoje começa no país. Até 30 de março estão abertas as
inscrições para os candidatos à Presidência da Ucrânia.
A publicação de
informação com vista a comprometer e a denegrir os candidatos já
começou. Ontem, os órgãos de informação ucranianos noticiaram
que enquanto as pessoas morriam nos combates mais sangrentos de 19 e
20 de fevereiro, Evgueni Timochenko, filha de Iúlia Timochenko,
festejam o seu aniversário num dos hotéis mais caros de Roma.
20 comentários:
Infelizmente a Ucrânia traçou o seu destino há muito.
Os governantes que por lá passaram, não souberam olhar para os interesses ucranianos.
Primeiro resolviam os seus problemas internos e depois escolhiam o caminho que quisessem.
Fizeram o mais fácil, que foi deixar tudo como estava a aproveitar os interesses externos.
A situação da dependência do gás russo barato, deveria ter sido logo atacado.
depois da "guerra" do gás em 2008, a Ucrânia sabia muito bem o que teria que fazer, mas nunca o fez, sempre ficou à espera que a Rússia lhes desse gás mais barato.
Agora, não vejo alternativas.
Não há dinheiro, o que significa que não há independência.
Vão fazer os que os outros querem que façam.
Resta saber quem são estes outros.
Ou fazem o que os russos querem, ou fazem o que os americanos/europeus querem.
Alguém terá que passar um cheque gigantesco e a Ucrânia terá que baixar a cabeça.
Anos ainda bem mais difíceis aguardam os ucranianos.
Sugiro a vcs que vejam as fotos da residência do ex-procurador da Ucrânia:
http://englishrussia.com/2014/02/24/house-of-attorney-general-who-also-fled/#more-139602
A residência do Yanukovich era tb um luxo só
A casa do ex-presidente Viktor Yanukovich:
http://englishrussia.com/2014/02/22/pillaged-residence-of-ukrainian-president/#more-139402
Bem, para quem quiser, sinta-se à vontade para defender o roubo.
Vídeo onde é possível ver activistas armados com pistolas, caçadeiras e uma kalashnikov a disparar sobre a Berkut.
http://www.youtube.com/watch?v=YfJHAz3Lcyw
Ora bem, dois problemas fundamentais que muito nos farão rir nos tempos mais próximos:
1 - a dança das cadeiras! Os radicais xenófobos e chauvinistas (não há como o negar, nem que façam o pino!) tomaram conta das ruas, forçaram a mão ao antigo poder corrupto, dispararam sobre a polícia com armas de fogo, apoderaram-se do poder e das Instituições, e agora estão - golpe palaciano - a ser ultrapassados pelos mais hábeis políticos do costume, tão ou mais corruptos do que o antigo presidente e respectiva entourage. Será que o "Sector de Direita" e o ""Liberdade"" (estes com duas aspas!) deixar-se-ão ultrapassar desta forma, ou será que irão contestar os novos senhores de Kiev de armas na mão?
2 - Os russo-ucranianos. Uma das primeiras medidas deste novo governo fascizante foi revogar a lei que dava igualdade de tratamento à língua russa em relação à ucraniana, uma medida incompreensível à luz da democracia e respeito pelos direitos humanos de que nos disseram ser defendidas pelos revolucionários. Afinal, parece que não é bem assim (quem diria?). Agora, sabendo bem o que a casa gasta e o que podem esperar dos benignos revolucionários, os russos e russófonos que vivem na Ucrânia, que são alguns milhões, viram-se para quem os pode ajudar.
A lei ucraniana não permite dupla nacionalidade? E depois? Se a Rússia der nacionalidade a uns milhões de ucranianos (e é bom que o faça rapidamente), o que é que as novas autoridade de Kiev irão fazer? Expulsa-los da sua pátria? Como? A tiro?
Muito haverá ainda por contar nesta história.
Cumpre ainda dizer (para lamento dos mais estouvados), que a Crimeia sempre fui russa, e nunca ucraniana. A actual situação em que a Península se encontra deve-se exclusivamente ao Nikita Khrushchov, portanto, é coisa para 60 anos. Mas a população sabe bem a onde pertence e com quer ficar, penso eu.
Paremos de olhar a Rússia como um papão. A Rússia (hoje de Putin, mas amanhã talvez de Alexei Navvalny) faz bem em defender os seus interesses. É assim que os EUA fazem, é assim que a União Europeia (diga-se Alemanha) faz. Deixemo-nos de ilusões. A lei agora aprovada pela Rada (revogação da antiga lei que colocava a língua russa em pé de igualdade com a lingua ucraniana nas regiões onde mais de 10% da população falassem russo) é uma vergonha´. Só isso é razão mais que suficiente para os russófonos se levantarem contra as diretrizes de Kiev. Faz muito bem a Rússia em defender os interesses daqueles que a vêm como protectora. E fazia ainda melhor a União Europeia em lembrar à União Europeia que esse acto é uma quebra inqualificável dos direitos mais elementares do ser humano. Um recuo na revogação da anterior lei talvez ainda permitisse uma evolução pacífica. Não é Ianukovithch que está em causa. Esse é uma varta fora do baralho. É a dignidade dos que falam russo na Ucrânia.
Uma grande grande partida de Xadrez.................
........
"-Tudo o que se está a passar na Ucrânia, não passa de uma grandíssima farsa -Alguém deixou que a coisa chega-se a este Estado---- o melhor ainda está para vir .
Grande Mestre entrega Torres e Rainha - ficando com "cavalos" e "bispos" para em seguida dar Cheque MATE!
aferreira
Também já mandei a minha "opinadela" sobre a situação:
http://www.historiamaximus.blogspot.pt/2014/02/euromaydan-quais-as-consequencias-para.html
Cumpts,
João José Horta Nobre
historiamaximus@hotmail.com
Muita gente a fazer futurologia com o que vai passar na Ucrânia. Neste momento, olhando para o que se está a passar, só posso emitir o desejo de que as forças moderadas e democráticas vençam sem margem para dúvidas as eleições. Parece-me neste momento a única via de esperança para a estabilização política do país. Isto é tanto mais importante quanto se sabe que essa é a premissa fundamental para a estabilização económica.
João Gil, as "forças moderadas e democráticas" são quais, as do partido Pátria, representadas pela Yulia Tymoshenko, ou as do Partido "Liberdade", representadas pelo Oleg Tyagnybok?
É que entre corruptos e fascistas, não sei bem onde estará essa tal moderação e democracia...
um artigo a ler de Paul Craig Roberts.
http://www.paulcraigroberts.org/2014/02/23/democracy-murdered-protest-ukraine-falls-intrigue-violence/
...só posso emitir o desejo de que as forças moderadas e democráticas vençam sem margem para dúvidas as eleições...
forças moderadas e democráticas? eu confesso não ver nenhuma...
eu nem estou a perceber com quem é que a UE anda a falar.
O país parece-me estar numa situação completamente caótica sem se perceber o que vai sair dali.
seja lá o que fôr, não vai ser coisa boa...
Tendo em conta o espectro político ucraniano, acho que está bom de ver que as forças moderadas são o "Pátria" e o UDAR. Vejo também vantagens numa solução governativa que inclua o Partido das Regiões, ainda que numa posição não maioritária. O Partido das Regiões poderá ainda ter um papel importante a desempenhar. Apesar de ser um defensor de que o melhor caminho que a Ucrânia pode seguir é o de aproximação à UE, é lógico que não pode de forma alguma ostracizar nem hostilizar a Rússia. O futuro da Ucrânia (se quer ter um futuro digno desse nome) terá que passar por uma solução de consenso mínimo que tenha por princípios básicos a defesa das liberdades individuais, a democracia e o estado de direito.
Policiais ucranianos pedem perdão a Nação:
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/policiais-pedem-perdao-de-joelhos-apos-conflitos-na-ucrania/
Só algumas notas.
O poder nas ruas foi tomado de assalto por gangs paramilitares, que de facto fizeram o Golpe de Estado.
O poder no parlamento foi tomado por oligarcas corruptos, estando estes numa azáfama legislativa, mas tudo o que foi produzido carece de legalidade e viola a constituição, em suma, as leis aprovadas nada valem.
O acordo assinado dia 21 de Fevereiro por todas as partes e testemunhado pelos ministros dos negocias estrangeiros da Alemanha, França e Polónia não está a ser respeitado. O vazio de poder é total, não há polícia nas ruas, os edifícios públicos são controlados por milícias armadas.
Em Kharkov, que foi a capital da Ucrânia até 1934. dia 22 foi feita uma reunião magna de deputados das regiões russófonas, a breve trecho avançarão para a criação de um parlamento local porque não reconhecem a Rada em Kiev.
Na Crimeia, as bandeiras Ucranianas foram queimadas e substituídas por bandeiras russas, inclusive no edifício do governo regional.
A Rada em Kiev tem “produzido” legislação ditatorial que atenta contra os direitos das minorias Russas, como a proibição da língua Russa e das televisões russas. O Svoboda e Pravy Sektor estão a ameaçar igrejas fidelizadas ao patriarcado de Moscovo.
Tudo isto representa uma ameaça grave à estabilidade e já de si frágil unidade da Ucrânia, em vez de acalmarem as coisas, atiram lenha para a fogueira. Os media ocidentais ocultam por todos os meios a verdadeira situação da Ucrânia, legitimando partidos extremistas de ideologia nazi e anti-semitas.
A Ucrânia não é um estado-nação, é um país com pouco mais de 20 anos, que surgiu dos escombros da URSS. Desde revolução russa e até há década de 90 foi uma republica soviética, tendo feito parte do Império Russo do séc. XVI até á revolução Bolchevique de 1917, data da criação da RSS da Ucrânia.
Do séc. XII ao séc. XVI fez parte da comunidade Polaco-Lituana, antes disso foi o berço da Rússia, através do Principado de Kiev, no séc. X e XI. Ou seja, as ligações com a Rússia são milenares, Rus de Kiev, Rússia Kieviana, chamem-lhes o que quiserem.
Kiev foi a primeira capital dos Eslavos/Russos, que depois se expandiram para leste e se fixaram na Moscóvia, transferindo para lá a capital, hoje Moscovo. Kiev é uma espécie de Guimarães dos Russos, foi ai que tudo começou, da Russa Kieviana evoluíram para a Rússia Moscovita.
Por fim, resta lembrar que quem manda de jure no pais é Ianukovitch, e que o SBU e as Forças Armadas não reconhecem o golpe de estado em Kiev, e já deram conta disso ao auto-intitulado presidente, Alexander Turchinov.
Mas o "Pátria" é um antro de corrupção e de esquemas políticos, e e o UDAR não passa de uma fachada para os interesses alemães em Kiev (os seus dirigentes até foram "mentorados" em Berlim). Como é que esses dois partidos podem ser credíveis?
E porque é que o Partido das Regiões não poderá ser maioritário?
Ora, se o futuro da Ucrânia passa por defender os princípios básicos da "defesa das liberdades individuais, a democracia e o estado de direito", então temos aqui um grave problema: as liberdades individuais estão a ser suprimidas (revogação da lei que estatuía o russo como língua oficial nas províncias com mais de 10% de russófonos) e o estado de direito.. foi o que foi abolido com o golpe de Estado que agora triunfou.
Restará, eventualmente, a democracia, mas não sei de que tipo e com que qualidade.
O Nobre de fraca nobreza conspurca espaços alheios não permitindo que tal lhe façam. Tal atitude é imprópria, injusta e descabida.
Conheço nobres que honram e dignificam a sua nobreza ao invés deste opinador de opinadelas, que é sempre algo opinadamente inconclusivo. Milho? Isso é próprio de pardais de talhado. Qualquer pequeno zimbabwé se zimzabwa em camadas de milho à moda inglesa. Nunca à moda alentejana pois que o milho serve apenas de alimento aos animais e outros que tais.
Claro que o Partido das Regiões pode ser maioritário. Dificilmente obterá o mesmo nível de votação, mas poderá obter um nível de votos que obrigue à sua entrada no Governo. Se isso representar um factor de estabilização, vejo-o como positivo. Seria bom que das eleições saísse um Governo sustentado numa forte legitimidade popular. Um Governo assim seria um melhor interlocutor com todos: UE, EUA e Rússia.
Em relação às medidas tomadas nos últimos dias, acho que não são boas nem contribuem para a pacificação interna do país. Percebo a necessidade de marcar a diferença e o ímpeto reformista, mas não é possível ostracizar a Rússia, nem ignorar a influência a todos os níveis que esta tem na Ucrânia.
Caro Anónimo das 01:04,
Em primeiro lugar, eu não conspurquei nenhum espaço alheio, o professor Milhazes só publicou o meu comentário porque quis.
Se o Anónimo quiser entrar em contacto comigo, só tem de enviar o seu lixo para o meu endereço de email que está disponibilizado a todos.
Em Segundo lugar, falta de honra e dignidade tem o senhor que vem para aqui ofender-me a mim e ao professor Milhazes a coberto do anonimato. Como já deve ter reparado, nem eu, nem o professor Milhazes nos andamos a esconder sob capas "anónimas".
De que é que o Anónimo tem medo para não se identificar? Vamos lá comunalha, identifique-se de uma vez por todas!
Cumpts,
João José Horta Nobre
Contacto: historiamaximus@hotmail.com
Enviar um comentário