Talvez por “pura
coincidência”, os russófonos da Estónia decidiram também
lembrar ao mundo que estão solidários com a política da Rússia na
Crimeia.
Nos dias 12 e 20 de
Abril, o “Movimento Popular dos Russos na Estónia” organiza duas
manifestações de apoio à política do Kremlin em relação à
Ucrânia. Segundo Iúri Juravliov, um dos organizadores, a primeira
irá realizar-se junto da Embaixada da Rússia em Tallinn e a
principal palavra de ordem será: “Mundo russo, une-te! Russos na
Estónia apoiam russos na Ucrânia”.
Na segunda, que irá
realizar-se junto do Parlamento, ele promete apresentar “queixas às
autoridades estónias quanto ao que fizeram com a população russa
nos últimos 25 anos”.
Juravliov não exclui que
nas manifestações se avance com a exigência de um referendo sobre
o destino do Nordeste da Estónia, onde a maior parte da população
é russófona.
Porém, os objectivos
destes organizadores parecem ser mais amplos. “Eu não teria só em
conta os russos no Nordeste, em Tallinn metade são russos. Não foi
Iaroslav o Sábio que construiu Tartu (Iúriev) e Pedro I que
edifício o palácio em Kadrioga? Não foram os soviéticos que
construiram a biblioteca nacional?”, precisou Juravliov.
Este russo diz que ele e
os seus camaradas não atentam contra o Estado Estónio, mas
acrescenta que o futuro dela “passa inevitavelmente pela adesão à
União Eurasiática”, actualmente composta por Rússia, Cazaquistão
e Bielorrússia.
As autoridades estónias
autorizaram as manifestações e desdramatizaram as suas
consequências, considerando que a maioria dos russos e russófonos
na Estónia não apoiam semelhantes reivindicações.
“Na Estónia vigoram as
liberdades de expressão e reunião. Qualquer louco pode apelar às
pessoas a apoiaram OVNI's ou a protestar contra as suas acções,
manifestarem-se contra ou a favor dos direitos dos índios”,
considera o político estónio Eerik-Niiles Kross.
Mas os políticos
estónios não duvidam que por detrás desses organizadores está
Moscovo. “A notícia de que os provocadores conhecidos de todos
tencionam organizar mais uma iniciativa pró-Kremlin deve ser
recebida com calma. O objectivo dessas operações de informação é
semear o medo e a falta de confiança. É nosso dever estar acima
disso e manter a clarividência do pensamento”, considerou o
deputado Marco Mihkelson.
Não obstante a adesão
da Estónia e Letónia terem aderido à União Europeia, nesses
países existe um grande número de pessoas, fundamentalmente
russófonas, que são apátridas. As autoridades desses países do
Báltico exigem que para que elas recebam cidadania prestem exames de
língua oficial e estudem a história e a Constituição desses
Estados.
Esta política, criticada
por algumas organizações não-governamentais internacionais, é
periodicamente utilizada por Moscovo para acusar estónios e letãos
de “violarem os direitos humanos”.
Porém, os russófonos aí
residentes não têm presa de regressar à Rússia, onde o nível e
qualidade de vida são mais baixos.
Por exemplo, segundo
dados do Ministério do Interior da Estónia, no primeiro trimestre
de 2014, 432 pessoas requereram cidadania estoniana, enquanto, em
igual período do ano passado, esse número foi de 299.
Entre
2010 e 2014, o número de apátridas desceu de 104 para cerca de 90
mil, numa população de 1 238 842 pessoas.
4 comentários:
Boa noite,
Não acredito que os russo cheguem tão longe em tentar repetir o que fizeram na Crimeia ou estão a tentar fazer na Ucrânia, se esse é o plano do Kermelin mais declarar guerra a UE e NATO desde já.
Há, desde logo, uma diferença fundamental entre os países bálticos como a Estónia, ex integrantes da antiga URSS, e a actual situação da Ucrânia.
Os países bálticos têm governos legítimos, logo, os russófonos locais têm um interlocutor para dele reclamarem as suas aspirações. Têm ainda as instituições europeias da EU que velam pelos direitos humanos.
É minha crença que à dupla Putin-Lavrov interessa tudo menos cair na armadilha de criar mais uma frente de batalha. As frentes Ucrânia, Síria e Snowden ( o “most wanted man” procurado pela justiça americana, vivo ou morto, pelo horrendo crime de revelar aquilo que a Administração desse mesmo país agora já deu por errado e prometeu corrigir) já lhes assacam recursos de sobra.
Ao invés, a Ucrânia é ao momento governada desde Kiev por um conjunto de exóticas personalidades cuja legitimidade não cabe em nenhum dos critérios possíveis ou aceitáveis. Se dúvidas houvessem, ainda ontem imagens correram o mundo mostrando um evento par(a)lamentar em que um deputado foi impedido de continuar a usar da palavra expulso que foi do púlpito pelo “democrático” método do soco e do empurrão, metodologia que já fora usada contra um director de um meio de comunicação como meio de o afastar, mais uma singela emanação da real natureza do novo poder que, curiosamente, na mesma sessão legislativa aprovou alterações ao código penal agravando as penas para quem atentar contra governos legítimos ( aparentemente devem gozar de total imunidade em relação à lei penal, ou então esta não lhes é aplicável por, justamente, não preencherem os pressupostos de um governo legítimo).
Na verdade, uma qualidade que não se lhes pode negar é o sentido de humor, desde o momento que uma destas criaturas proclamou que iriam constituir “uma democracia directa como em Esparta”, ou ao exigirem que, façam o que fizerem, por exemplo proibir a língua russa como uma das línguas oficiais, só podem ser premiados como imprescritível direito a serem subsidiados com gás russo abaixo dos preços de mercado. Um guionista de comédia teria dificuldades em suplantar os píncaros desta “stand up comedy”.
«Mas os políticos estónios não duvidam que por detrás desses organizadores está Moscovo» - diz.
Quais políticos estónios? E que valor tem, que pessoas não identificadas (os tais políticos) "duvidem" ou não?
Não se ofenda com esta conclusão lógica: eu duvido do rigor desta afirmação. São dúvidas...
Estónia ?
Conversa de embalar...
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