Lisboa,
14 abr (Lusa) – A história de um português que ascendeu à
aristocracia russa do século XVIII é retratada agora em livro, que
aborda também as suas origens judaicas e o percurso dos seus
descendentes.
“António
de Vieira é um judeu português cuja família fugiu à Inquisição,
e encontrou com o czar Pedro I na Holanda ou na Inglaterra, que o
levou para a Rússia onde fez uma excelente carreira: esteve
envolvido na construção da cidade de S. Petersburgo, organizou os
serviços de bombeiros e de defesa civil e chegou a conde, título
que usou até morrer”, resumiu, em declarações à Lusa, o
historiador e jornalista José Milhazes.
O
livro “O Favorito Português de Pedro o Grande” conta a
“extraordinária” vida de António Manuel Luís de Vieira,
nascido “provavelmente” no Minho e que morreu em S. Petersburgo
em 1745, tendo ascendido à aristocracia da Rússia, um processo que
foi marcado também por vários problemas com as autoridades.
“Depois
da morte de Pedro o Grande, meteu-se em lutas palacianas e foi parar
à Sibéria durante 15 anos a mando de Catarina I”, explica o
historiador sublinhando que a condenação sob condições
climatéricas adversas acabou por agravar o estado de saúde do
português, que tinha sido figura influente da corte.
O
livro que cita documentos da época – registos, cartas diplomáticas
e estudos geneológicos – recorda a construção da capital fundada
pelo czar Pedro I, após a Grande Guerra do Norte (1703) no delta do
rio Neva e o papel que António de Vieira desempenhou na construção
de S. Petersburgo.
O
livro não se limita à investigação sobre o português do século
XVIII na corte de Pedro o Grande porque o autor acaba por descobrir e
estudar os descendentes de António de Vieira até aos dias de hoje.
“A
parte mais gratificante deste livro, como historiador, foi ter
descoberto os descendentes de quem não se sabia praticamente nada e
que acabei por encontrar na Rússia, na Bielorrússia e no Chipre”,
diz José Milhazes referindo que ainda em vida o conde “afrancesou
o apelido” para “Deviere”, tendo o nome sido mantido por várias
gerações.
Pintores,
jornalistas, poetas e heróis militares das guerras napoleónicas,
dos vários ramos da família, fazem parte de conhecidas figuras da
história contemporânea russa que o historiador descobriu “com
surpresa” porque inicialmente supunha que iria “encontrar”
familiares até à revolução comunista de 1917 e à guerra civil
que se seguiu.
Entre
os descendentes destacam-se, entre outros, os realizadores de cinema
Andrei e Nikita Mikhalkov, filhos de uma descendente direta de
António de Vieira.
Segundo
José Milhazes muitas das pessoas que encontrou com o apelido
“Deviere” conheciam a proveniência portuguesa do nome e a origem
judaica.
“A
História da Inquisição demonstra que Portuga (1536-1821) perdeu
pessoas de grande valor mas com a lei que foi aprovada recentemente
[permitindo o acesso à cidadania portuguesa a descendentes de
sefarditas] pode-se, pelo menos, recuperar alguns destes
descendentes”, afirma o autor da investigação.
Segundo
o autor, graças a esta investigação, uma descendente direta do
conde Vieira, uma médica dentista russa residente no Chipre, vai
pedir a nacionalidade portuguesa.
José
Milhazes, historiador e jornalista residente em Moscovo desde 1977 é
autor de vários livros de História contemporânea.
O
livro “O Favorito Português de Pedro o Grande” (Editora Livros
D’Hoje/D. Quixote, 190 páginas) inclui fotografias e reproduções
de retratos da época, foi lançado na terça-feira e pode vir a ser
traduzido para russo ainda este ano.
PSP
// PJA
Lusa/fim
2 comentários:
Já agora que é tão lesto a agredir verbalmente Putin e seus apoiantes, o que tem a dizer sobre o assassinato de Oleg Kalashnikov (entre muitos outros) pelos seus "democratas" de Kiev? Vai comentar alguma coisa no Observador sobre este assunto ou vai esconder a notícia como a maioria do pestilento jornalismo Ocidental tem feito? Por favor "esclareça-nos" senhor Milhazes.
Caro Guilherme, junte mais este - Oles Buzina - jornalista.
Que diriam os exceptionalistas se morresem 8 politicos + jornalistas em pouco menos de dois meses na Russia ?
" you are very concerned ..." e "we demand an imparcial investigation"
deve ser duro assistir a isto ... nem um piu se ouve na MSM livre
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