sexta-feira, julho 10, 2015

Rússia apela ao diálogo entre governo grego e credores



Logo a seguir ao anúncio dos resultados de sondagens à boca das urnas, que deram a vitória do “não” no referendo grego”, algumas agências de informação apressaram-se a noticiar que “o Kremlin considera que a vitória do “não” como um passo de Atenas para a saída da União Europeia”, citando incorrectamente as declarações de Alexei Likhatchov, vice-ministro da Economia da Rússia.
Likhatchov disse, em declarações à agência russa TASS, que: “A recusa das medidas económicas apoiada pelos cidadãos não pressupõe a saída imediata da Grécia da zona euro. Mais, é evidente que, na segunda-feira, as conversações entre as autoridades da Grécia e a comissão europeia serão mais activas. Não podemos não compreender" que foi um passo para a saída da zona euro, no entanto é prematuro afirmar que a Grécia irá até ao fim do caminho".
Esta atitude cautelosa foi expressa pelo Presidente russo Vladimir Putin numa conversa com o primeiro-ministro grego Alexis Tsipras numa conversa telefónica. “Desejamos aos nossos parceiros gregos que cheguem o mais rápido possível a um compromisso com os credores e tomem as decisões que contribuam de melhor forma para a estabilidade económica e social no país”.
Konstantin Kossatchov, dirigente do Comité de Relações Internacionais do Conselho da Federação (câmara alta) do Parlamento Russo, frisou que “a saída da Grécia pode significar para Atenas ainda mais dificuldades do que as que tem hoje”, e considera que o compromisso com os credores será alcançado.
Esta posição poderá parecer paradoxal, mas só à primeira vista. A crise grega impede a União Europeia de se concentrar noutros problemas, nomeadamente na solução da situação na Ucrânia, e que as divergências na UE obriguem ao abrandamento ou levantamento das sanções contra a Rússia.
Além disso, a saída da Grécia do euro e da UE poderá fazer com que Atenas caia nos braços de Moscovo, que, desse modo, conseguiria excelentes posições estratégicas no Mar Mediterrâneo.
Porém, as coisas não são assim tão lineares. Primeiro, a economia russa atravessa um período difícil e o Kremlin não tem meios financeiros para acudir a mais um potencial aliado. Por enquanto, o discurso é: “Atenas não nos pediu ajuda” e as promessas de Moscovo são para o futuro, por exemplo, caso seja construído o gasoduto “Corrente Turca”, que ainda não passou da fase de projecto.
Moscovo também não está interessado na desestabilização das economias da União Europeia, pois esta é o maior parceiro comercial da Rússia e o agravamento da crise conduzirá, entre outras coisas, à redução de importação de combustíveis russos.
Também não é de menosprezar o facto de a Rússia possuir parte das suas reservas financeiras em títulos de dívida pública de países da UE.

Porém, a situação em torno da Grécia terá de ser resolvida com alguma operatividade, pois a sua deterioração irá enfraquecer ainda mais a Europa e poderá torná-la ainda mais impotente face à actual política externa russa.

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