segunda-feira, novembro 23, 2015

O Longo Braço do Kremlin

Texto envido pelo leitor João Gil Freitas:

"A anexação de facto da península da Crimeia e a eternização do conflito com a Ucrânia na região do Donbass levam a crer que Moscovo não desistiu do objectivo primordial de manter uma importante posição de controlo sobre a Ucrânia, país que considera fulcral para a sua posição no continente europeu. A Rússia de Putin, mau grado o agudizar da crise económica interna, persiste numa estratégia mais alargada, cujo vértice central assenta em se afirmar internacionalmente enquanto player global. 
Neste sentido, a assertividade da política externa russa ganhou um novo impulso com a recente aprovação de uma nova doutrina militar, que vem sustentar oficialmente o que tem sido o comportamento do país face a assuntos sensíveis na sua vizinhança próxima. Ao contrário do que acontecia previamente, a Rússia de Putin referencia os EUA e a OTAN como os grandes desafios à sua integridade territorial e ao seu estatuto internacional. O que em tempos recentes era identificável mas implícito tornou-se, mais do que nunca, explícito. 
Uma explicação pode residir no centralismo autoritário de Putin, que corporiza uma expressão de grandeza do país. A ideia imperial, advinda do nacionalismo e do discurso anti-ocidental é intrínseca à ideologia prevalecente no Kremlin e continua a ser bem acolhida no país. A projecção de uma imagem de liderança esclarecida por parte do Presidente ajuda a minar o papel da oposição como contrapeso ao actual poder. A postura da actual liderança está estreitamente ligada ao estado de acossamento do país em assuntos internacionais, motivado por dois factores fundamentais, um de ordem interna e outro de ordem externa: o estado de estagnação económica e o permanente estado de alerta que o país vive desde a eclosão da crise ucraniana. 
Se olharmos para a crise económica que vem afectando a Rússia, e se vem agravando desde o último ano, conclui-se que é o corolário do rumo que o país vem seguindo nos últimos quinze anos. A aposta no sector energético é basilar e vital para a economia russa, pelo que a tendência de descida dos preços das matérias-primas energéticas nos mercados internacionais tem acarretado consequências muito negativas para a economia russa. Para 2015, está prevista uma contracção da do PIB de aproximadamente 4%, e não há garantias de que em 2016 seja ainda um ano de retoma. Perspectivas preocupantes para um país que necessita de uma economia vigorosa para sustentar uma estratégia internacional de projecção de poder na sua vizinhança próxima. 
É neste quadro de deterioração do clima político e económico interno que Putin tem actuado no quadro das crises ucraniana e síria. Putin sabe que é fundamental para a sua posição enquanto Presidente centralizar tanto quanto possível o papel desempenhado pela Rússia na resolução das grandes questões internacionais do momento. Pelo mediatismo incontornável que ganhou desde os acontecimentos de Paris, olhemos para o contexto sírio. 
Para Moscovo, é fulcral estar no centro da decisão relativamente a este conflito, tendo sido essa a principal motivação para o aprofundamento da sua intervenção militar. O objectivo é ser chamado ao palco de decisão, em paridade com as potências ocidentais, em relação a um futuro roteiro para a paz na Síria. Isto é, assegurar-se de que não há solução pacífica com hipóteses de sucesso para o maior conflito do nosso tempo que não passe também por Moscovo. 
Uma outra motivação não despicienda prende-se com o facto de a Rússia pretender substituir o problema ucraniano pelo problema sírio, uma via a explorar tendo em vista o melhoramento das relações com o Ocidente. Por outras palavras, a estratégia russa passa por esperar que intervenção na Síria obrigue à secundarização do impasse diplomático ditado pela guerra na Ucrânia, com consequências positivas não apenas para o estado das relações externas do país, mas também para a evolução da sua situação económica, a partir de uma possível suavização das sanções internacionais. 
Os recentes atentados de Paris e a consumação da prova de que o Daesh esteve por detrás da queda do avião russo de passageiros veio dar força a esta política, tendo-se verificado um maior alinhamento da acção militar russa no terreno com a que tem sido encetada pelos intervenientes ocidentais, nomeadamente pela França e pelos EUA, o que até recentemente não acontecia. 
Vários Estados-membros da UE têm chamado a atenção para a necessidade de separar o contexto sírio do contexto ucraniano. Essa posição tem partido de países que tradicionalmente assumem uma posição mais dura relativamente a Moscovo. A divisão no seio da UE é também algo que a Rússia procura explorar em seu proveito. Neste contexto, uma possível divisão interna da UE pode fazer com que a aplicação dos Acordos de Minsk soçobre definitivamente perante a sua fragilidade, em prol de um tratamento bilateral das questões internacionais do topo da agenda – designadamente com Paris e Washington – o que atiraria uma solução pacífica do conflito ucraniano para a estaca zero. Perante o evoluir dos acontecimentos, é uma perspectiva que se perfila no horizonte."

4 comentários:

Anónimo disse...

oh ... nasceu mais um expert.

Fascista disse...

Este milhazes é mesmo uma canalha.

Anónimo disse...

Dr Milhazes, precisa que lhe ofereça uma vassoura?
Cumprimentos.

Basto

Anónimo disse...

" conclui-se que é o corolário do rumo que o país vem seguindo nos últimos quinze anos."
Ou seja ... para o Milhazes entre 10 de julho de 1991 – 31 de dezembro de 1999 foi a epoca de ouro da Russia, drogas , sida, mafia,bandalheira, fome e privação economica. Se fosse adorador da urss diria nos últimos 25 anos mas com esse salto de 10 anos revela que e adorador do bebado boris yeltsin (lider comunista ressabiado) de drogas , sida, mafia e bandalheira. Apreciei a mudança de forma do seu discurso mas mesmo assim continua-me a desagradar a forma basica de bicha ressabiada e nunca o contrataria para elemento de fazedor de opiniao publica. E que nos no Ocidente nao apreciamos a nada sida, mafia, homosexualidade e bandalheira que voce tando aprecia.