sexta-feira, agosto 26, 2016

Nem os paralímpicos russos escapam a jogos políticos sujos



Infelizmente, o emprego de doping já se entranhou de tal forma no desporto, olímpico e não só, que parece ter chegado a hora de liberalizar o seu consumo em prol de medalhas, dinheiro ou “patriotismo”. Se o principal não é participar, mas vencer, então os atletas que desejarem subir ao pódio que arrisquem as suas vidas consumindo drogas que os transformam em super-heróis.
Mas a imoralidade de certos dirigentes e políticos desportivos parece não ter limites, pois não poupam sequer atletas paralímpicos, pessoas com deficiências físicas cujos resultados desportivos também servem para mostrar que “a Rússia se está a levantar” (palavra de ordem da actual propaganda russa).
O Comité Paralímpico Internacional (CPI) decidiu afastar todos os atletas russos dos Jogos do Rio de Janeiro, a realizarem-se em Setembro, devido à política do Kremlin face ao emprego do doping no desporto.
Segundo o CPI, durante os Jogos Paralímpicos de Inverno de Sotchi 2012, onde a Rússia não podia deixar de ganhar para mostrar os cuidados depositados pelo Presidente Putin no desporto, 21 análises de sete desportistas russos foram falsificadas.
Além disso, Philip Craven, presidente do CPI, revelou que “nas tampas de 18 contentores com análises foram encontrados riscos. Isso prova que eles foram abertos e reutilizados”.
O Comité Paralímpico Russo recorreu dessa decisão para o Tribunal Arbitral Desportivo, mas as suas queixas foram recusadas, determinando o afastamento dos atletas paralímpicos russos da maior competição mundial do género.
No lugar de reflectir sobre essas decisões e tomar medidas para limpar o desporto russo do doping, demitindo, por exemplo, Viktor Mutko, ministro do Desporto altamente responsável por essas ilegalidades, o Presidente Putin faz figura de ofendido e considera que “a decisão de desclassificar os paralímpicos russos está fora do direito e da moral. É cínico vingar-se e descarregar a raiva naqueles para quem o desporto se tornou no sentido da vida. Tenho pena de quem toma semelhantes decisões. Eles não podem compreender que isso próprio é humilhante para eles”.
Ou seja, Putin repete a mesma habitual mantra de que tudo não passa de uma cabala para atingir e humilhar a Rússia. É mesmo caso para citar o ditado russo: “Não se deve culpar o espelho se se tem a cara torta”, mas o Presidente russo insiste em acusar o espelho, ou seja, todos os outros, menos “nós”, dos problemas não só no desporto russo, mas em todos os outros campos. A julgar pelos discursos dele, pode-se pensar que a Rússia é um país que só tem dificuldades e problemas é por culpa alheia.
Afinal, quem estará além do direito e da moral? Parece estarmos a assistir uma vez mais à história do “apanha que é ladrão!”
Claro que o “czar Vladimir II” não pode abandonar os seus súbditos e, num encontro com os campeões olímpicos russos no Kremlin, ordenou organizar “competições especiais, cujos resultados serão recompensados com as mesmas condecorações como se participassem nos Jogos Paralímpicos no Rio”.  Significa que ele irá mandar cunhar medalhas iguais às dos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro e, depois, presenteará os vencedores com ouro, prata e bronze, bem com automóveis BMW X-6, X-5 e X-3, como fez com os vencedores olímpicos russos?
No mesmo dia, um dos tribunais de Moscovo, talvez por “mera coincidência”, decidiu arrestar um terreno pertencente a Grigori Rodtchenkov, o especialista russo que denunciou que dezenas de desportistas russos se doparam durante os Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi. Além disso, ele está a ser alvo de um processo-crime por ter “adquirido ilegalmente substâncias nos Estados Unidos por ordem de algum dos dirigentes do WADA [Agência Mundial Antidoping]”.
Será que a paranoia, típica de tempos passados como a ditadura estalinista, volta a imperar em relação ao bom-senso na política dos dirigentes russos? Ou existe realmente uma cabala contra a Rússia que os tão famosos serviços secretos de Putin não conseguem desmascarar?

Para mim, trata-se de mais um conto de Polichinelo em vésperas de eleições parlamentares na Rússia, onde antecipadamente se sabe quem irá ganhar o “ouro”, a “prata” e o “bronze”. E para isso não é preciso doping, chega a propaganda.

2 comentários:

Manuel Galvão disse...

É só mais um capítulo da guerra tecnológica. Nos países mais avançados fazem-se drogas que não são detetadas nos testes oficiais. Veja-se o caso do ciclista americano.
Se guardassem o xixi durante uns anos esta guerra era posta em evidência.

Unknown disse...

Sr. José Milhazes, ninguém tem moral para falar sobre doping se é conivente com o seu irmão siamês, ou seja, a importação de atletas. Nos Jogos Olímpicos de Londres, 2012, por exemplo, o Reino Unido, naturalizou ( importou ) 61 atletas, os quais foram responsáveis por 24 das 65 medalhas conquistadas pelos britânicos. Portanto, o uso de substâncias proibidas tem a mesma finalidade ( obter vantagem, vencer ) do que a importação de atletas. Por que o Sr., o Observador, entre outros, não questiona do presidente do COI a proibição da naturalização ( importação ) de atletas ? Ah, não vale querer restringir o número de atletas importados, pois seria a mesma coisa que reduzir a dosagem de substâncias proibidas. Mais : questione também como esportes que são incompatíveis com os ideais olímpicos, entre eles, boxe, taekwondo e karate não são excluídos dos Jogos Olímpicos. Quanto será que o COI recebe para incluir uma modalidade esportiva ? A última do COI foi incluir a escala, esporte sem sentido, nos Jogos Olímpicos. Só faltou o futebol americano. Por falar em EU, o COI deveria excluí-lo como candidato a sede de 2024, pois já sediou por quatro vezes, enquanto há países que jamais foram sede.