sábado, março 10, 2018

Biografia do ex-chefe da polícia política soviética Lavrenti Béria



Texto publicado na Agência Lusa:

O livro do jornalista José Milhazes sobre Lavrenti Béria, ex-dirigente da polícia política de Estaline, refere que a Rússia atual "ainda mantém a herança" das figuras históricas do antigo regime totalitário soviético.

"Há atuais dirigentes dos serviços secretos russos que apontam Béria como autor de alguns desvios, mas realizador de grandes feitos. Isto é grave", disse à Lusa o investigador e jornalista José Milhares considerando que a "força dos serviços de informações" na Rússia contemporânea ainda se mantém.

"São os serviços secretos que estão no poder. Nasceram na União Soviética e não têm vergonha de dizer que são a continuação dos serviços secretos soviéticos. O que é mais curioso é que o presidente Putin condena a repressão estalinista e no dia seguinte o chefe dos serviços secretos vem desdize-lo", afirma.

As mesmas conclusões e perspetivas sobre a "herança" dos serviços secretos da ex-URSS são referidas na biografia de Lavrenti Béria (1899-1953) que vai ser lançada na terça-feira.

No livro, o historiador escreve que Alexandre Bortnikov, atual diretor do Serviço Federal de Segurança (FSB), "herdeiro das funções" dos serviços secretos soviéticos "considera que a sua organização é herdeira da história dos órgãos repressivos, não nega que tenha havido exageros, mas considera que eles terminaram quando Lavrenti Béria passou a dirigir o NKVD".

O livro "Lavrenti Béria -- o Carrasco ao Serviço de Estaline" traça a história do dirigente soviético que se manteve na cúpula do poder entre 1931 até ter sido executado, poucos meses após a morte do ditador Estaline, em 1953.
A investigação que utiliza documentos recentes, memórias e documentos do Partido Comunista da ex-URSS refere que - de entre todos os chefes da polícia política e dos serviços secretos - Béria é aquele que mais discussão provoca, ultrapassando Felix Dzerjinski, criador da TCHECA (Comissão Extraordinária de Combate à Contra-Revolução e à Sabotagem) e Iúri Andropov, um dos últimos dirigentes do KGB (Comité da Segurança do Estado).

O livro destaca o papel de Béria na reorganização da polícia política durante a permanência de Estaline no poder referindo-se à doutrina sobre as práticas de tortura, processos de deportação de milhões de civis e militares para campos de prisioneiros, além de limpezas étnicas.

A investigação recupera também os documentos divulgados após a queda da URSS, em 1989, sobre o papel desempenhado por Lavrenti Béria no massacre de milhares de polacos, sobretudo oficiais do Exército de Varsóvia, na floresta de Katyn, em 1940 e o envolvimento no assassinato de Lev Trotski, ex-dirigente bolchevique rival de Estaline, exilado no México.

"Entendendo-se Béria entende-se que o ditador Estaline não é uma pessoa - é uma máquina com várias peças - e que o chefe dos serviços secretos era um segmento importante: um braço do estalinismo", diz José Milhazes sublinhando que a luta pelo poder no final do estalinismo acabou por ser fatal para Béria.

"Este sistema só tinha uma forma de funcionamento e quem não conseguia era liquidado e ele conseguiu sobreviver até à morte do ditador. Mas, quando os camaradas dele veem em Béria a continuação do estalinismo, liquidam-no para não serem liquidados e utilizando os mesmos métodos que o chefe dos serviços secretos usava", explica José Milhazes.

O livro incluiu partes do processo contra Béria que acaba por ser condenado à morte e executado no dia 23 de dezembro de 1953 com um tiro na nuca.

"Este homem concentrava em si a essência do regime. Não acreditava nem em comunismo nem em coisa nenhuma. Estamos perante cínicos. Não havia preocupações nem pela classe operária nem pelos trabalhadores. Essa gente há muito que tinha deixado de existir", diz José Milhazes recordando que Estaline chegou a identificar Béria como o "Himmler" soviético.

"Estes regimes não funcionam de outra maneira. Quer sejam de direita, quer sejam de esquerda. É por isso que o camarada Estaline dizia que Béria era um "Himmler". Quando Rosevelt um dia lhe pergunta quem é senhor de óculos na sala Estaline diz : 'Este é o Himmler soviético'", conclui José Milhazes referindo-se ao líder das SS do regime da Alemanha nazi.

José Milhazes, jornalista e investigador, viveu em Moscovo entre 1977 e 2015, é autor, entre outros, dos livros "Cunhal, Brejnev e o 25 de Abril", "Golpe de Nito Alves" ou "Antologia do Pensamento Geopolítico e Filosófico Russo séculos XX -- XXI".

"Lavrenti Béria -- O Carrasco ao Serviço de Estaline" (Oficina do Livro), de José Milhazes incluiu fotografias e documentos oficiais e vai ser lançado na terça-feira.


1 comentário:

Anónimo disse...

Felizmente temos o Sr José Milhazes para demonstrar e comprovar o carácter asqueroso da URSS..
Porque a verdade oficial martelada nos média livros de História e kultura esconde e censura os milhões de inocentes massacrados pelo comunismo soviético