segunda-feira, outubro 01, 2018

“Soberania limitada” e “socialismo desenvolvido”


Álvaro Cunhal ouve atentamente a lição




Há 50 anos atrás, após a invasão da Checoslováquia por tropas do Pacto de Varsóvia, o Partido Comunista da União Soviética, então dirigido por Leonid Brejnev, revia a sua política interna e externa. Os países do “bloco socialista” e os partidos comunistas tinham que obedecer a Moscovo, em nome da luta pelo socialismo”, e a chegada do comunismo era substituída por mais uma etapa intermediária: “o socialismo desenvolvido”.

A nova doutrina externa da URSS tinha já sido apresentada por Leonid Brejnev, durante a sua intervenção no V Congresso do Partido Operário Unido da Polónia: “quando as forças internas e externas, inimigas do socialismo, tentam virar para trás o desenvolvimento de qualquer país socialista, no sentido da restauração da ordem capitalista, quando surge a ameaça à causa do socialismo nesse país, a ameaça à segurança da comunidade socialista em geral, isso já é não só um problema do povo desse país, mas um problema comum, uma preocupação de todos os países socialistas”. 

Esta ideia foi desenvolvida num artigo do Pravda, órgão máximo do Partido Comunista da União Soviética, publicado há precisamente meio século: “Não há dúvida de que os povos dos países socialistas e os partidos comunistas têm e devem ter possibilidade de definir a via de desenvolvimento dos seus países. Porém, nenhuma decisão deles deve prejudicar nem o socialismo no seu próprio país, nem os interesses básicos de outros países socialistas, nem o movimento operário internacional que luta pelo socialismo”.

Ou seja, a direcção comunista impunha limitações ideológicas e políticas a todos os partidos comunistas, o que contribuiu para o afastamento entre o PCUS, e partidos comunistas como o de França, Itália e Espanha. O Partido Comunista Português manteve-se fiel à linha soviética.

Esta política externa foi abandonada por Mikhail Gorbatchov, que deu total independência aos países do bloco comunista para seguirem o seu caminho. E estes escapuliram-se rapidamente.

 Chegou a época da política do “My way”, palavras retiradas de uma célebre canção de Frank Sinatra.

Mas ela regressou com Boris Ieltsin e Vladimir Putin em relação ao antigo espaço soviético. A sangrenta guerra na Chechénia, o apoio a movimentos separatistas na Transdnístria (Moldávia), na Ossétia do Sul e na Abkházia (Geórgia) levaram, em 2008, à intervenção militar russa na Geórgia; depois veio a invasão da Crimeia e do Leste da Ucrânia em 2013-2014.

Foi também há 50 anos que os comunistas soviéticos tiveram de “descobrir” uma nova etapa do desenvolvimento da Humanidade: o “socialismo desenvolvido”. Poucos anos antes, Nikita Krutschov, dirigente comunista destronado por Brejnev em 1964, prometera o comunismo para os anos de 1980, mas, quando os ideólogos soviéticos viram que se tratava de mais uma das metas impossíveis, criaram o “socialismo desenvolvido”, uma espécie de antecâmara onde os soviéticos deveriam esperar a entrada no comunismo.

Como é sabido, os soviéticos cansaram-se de esperar, perderam a paciência e, à primeira oportunidade, acabaram com a ditadura comunista.




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