Álvaro Cunhal ouve atentamente a lição
Há 50 anos atrás, após a invasão da Checoslováquia por tropas
do Pacto de Varsóvia, o Partido Comunista da União Soviética, então dirigido
por Leonid Brejnev, revia a sua política interna e externa. Os países do “bloco
socialista” e os partidos comunistas tinham que obedecer a Moscovo, em nome da
luta pelo socialismo”, e a chegada do comunismo era substituída por mais uma
etapa intermediária: “o socialismo desenvolvido”.
A nova doutrina externa da URSS tinha já sido apresentada por
Leonid Brejnev, durante a sua intervenção no V Congresso do Partido Operário
Unido da Polónia: “quando as forças internas e externas, inimigas do socialismo,
tentam virar para trás o desenvolvimento de qualquer país socialista, no
sentido da restauração da ordem capitalista, quando surge a ameaça à causa do
socialismo nesse país, a ameaça à segurança da comunidade socialista em geral,
isso já é não só um problema do povo desse país, mas um problema comum, uma
preocupação de todos os países socialistas”.
Esta ideia foi desenvolvida num artigo do Pravda, órgão
máximo do Partido Comunista da União Soviética, publicado há precisamente meio
século: “Não há dúvida de que os povos dos países socialistas e os partidos
comunistas têm e devem ter possibilidade de definir a via de desenvolvimento
dos seus países. Porém, nenhuma decisão deles deve prejudicar nem o socialismo
no seu próprio país, nem os interesses básicos de outros países socialistas,
nem o movimento operário internacional que luta pelo socialismo”.
Ou seja, a direcção comunista impunha limitações ideológicas
e políticas a todos os partidos comunistas, o que contribuiu para o afastamento
entre o PCUS, e partidos comunistas como o de França, Itália e Espanha. O
Partido Comunista Português manteve-se fiel à linha soviética.
Esta política externa foi abandonada por Mikhail Gorbatchov,
que deu total independência aos países do bloco comunista para seguirem o seu
caminho. E estes escapuliram-se rapidamente.
Chegou a época da
política do “My way”, palavras retiradas de uma célebre canção de Frank
Sinatra.
Mas ela regressou com Boris Ieltsin e Vladimir Putin em
relação ao antigo espaço soviético. A sangrenta guerra na Chechénia, o apoio a
movimentos separatistas na Transdnístria (Moldávia), na Ossétia do Sul e na
Abkházia (Geórgia) levaram, em 2008, à intervenção militar russa na Geórgia;
depois veio a invasão da Crimeia e do Leste da Ucrânia em 2013-2014.
Foi também há 50 anos que os comunistas soviéticos tiveram de
“descobrir” uma nova etapa do desenvolvimento da Humanidade: o “socialismo
desenvolvido”. Poucos anos antes, Nikita Krutschov, dirigente comunista
destronado por Brejnev em 1964, prometera o comunismo para os anos de 1980,
mas, quando os ideólogos soviéticos viram que se tratava de mais uma das metas
impossíveis, criaram o “socialismo desenvolvido”, uma espécie de antecâmara
onde os soviéticos deveriam esperar a entrada no comunismo.
Como é sabido, os soviéticos cansaram-se de esperar, perderam
a paciência e, à primeira oportunidade, acabaram com a ditadura comunista.
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