A União Soviética entra na corrida ao desarmamento, porque foi uma corrida ao desarmamento a que se assistiu… cede onde pode e não pode, mas iriam ter o apoio do ocidente. Neste caso, Gorbatchov foi amaldiçoado pelos russos, exatamente porque confiou em coisas que não se deve confiar… Porque em Relações Internacionais não há amizade, há apenas interesses!
Isto de “amigos, amigos, negócios à parte”, e foi o que aconteceu a Gorbatchov, que teve azar… claro que agora temos mais facilidade em criticar, porque o tempo dele já passou, mas imaginemos naquele tempo… Gorbatchov pediu um apoio de 100 mil milhões de dólares aos Estados Unidos e ao Ocidente, para o apoiarem nas reformas. O Ocidente naquela altura já tinha em vista a queda de Gorbatchov e a chegada ao poder de Ieltsin, e na sequência disso não achou por bem, continuar a “enterrar dinheiro” para a manutenção do poder e das reformas de Gorbatchov, ou seja, nem a apoiar Gorbatchov, e não lhe deu o apoio pedido.
E nesta altura, coloca-se uma questão?
E se, por exemplo, os russos em vez de terem pedido ajuda, tivessem dito à Alemanha “ou vocês põem em cima da mesa 100 mil milhões de marcos ou então as nossas tropas não vão sair da Alemanha oriental e de Berlim”.
Como sabem a União Soviética, retirou as tropas que tinha no antigo sector de influência soviética praticamente de “forma gratuita”, o que levou a uma grande degradação dentro do corpo militar russo, porque muitos oficiais voltaram para a União Soviética e não tinham onde dormir. Alguns deles dormiam com a família no avião que tinham tripulado, ou no helicóptero ou no tanque, porque não havia mais nada, ou então, alguns viviam em campo aberto.
Isto criou um grande descontentamento entre os militares e numa grande debanda, principalmente entre os oficias, que começaram a ver que poderiam organizar a sua vida, muito melhor, fora das Forças Armadas.
Mais tarde, percebemos que muitos dos homens ricos da Rússia são pessoas que estiveram ligados às altas patentes das forças armadas ou dos serviços secretos…
E entramos nos anos 90 e na queda da União Soviética, e lembro-me, em Portugal de ouvir alguns analistas dizerem que a Rússia estava arrumada e que não tinha qualquer potencial para se transformar numa grande potência, talvez regional, mas a nível mundial, não.
E digamos que este tipo de política aliada à desilusão dos russos (do povo), nos anos 90, que esperavam ser integrados na tal sociedade ocidental e começaram a ver que estavam a ser enganados… cria um ambiente ideal para que apareça uma figura como Vladimir Putin.
Claro que Vladimir Putin aparece numa tentativa de a elite Russa encontrar um sucessor para Boris Yeltsin, mas … um sucessor que continuasse a política de Yeltsin, ou seja, que estivesse sobre o controlo daqueles “oligarcas e mafiosos” que dirigiam o país.
No entanto, saiu-lhes o tiro pela culatra. Apareceu um homem, que veio dos serviços secretos, e que tentou dar aos russos, ou compensar os russos, pelas humilhações que eles tinham sofrido, quer em termos internos, quer em termos internacionais. Em termos internos, quis “acabar” com os oligarcas, que afinal não acabou, apenas os substituiu por amigos. No campo externo, quis fazer com que a Rússia voltasse a ser ouvida, na tomada de decisões.
O primeiro sinal de Putin nesse sentido, primeiro do ponto de vista militar, para pôr ordem na casa, de uma forma absolutamente brutal e cruel, foi a chamada segunda guerra da Tchetchénia, em que matando centenas de milhares de pessoas, restabelece o poder da Rússia na Tchetchénia.
Perante estes acontecimentos, o Ocidente teve que aceitar, porque se tratava de território da federação da Rússia, e aparece, mais tarde, um sinal, que para alguns já foi mais preocupante, para outros ainda um pouco vago, que é 2008!
E é 2008, que é quando se dá a invasão da Geórgia.
Invasão esta à qual o Ocidente reagiu mal, porque não entendeu que se tratava claramente do regresso da Rússia à política da subordinação de zonas de influência.
Vão a correr a Moscovo, Sarkozy e Durão Barroso, no sentido de assinar um tratado de paz, para travar o conflito entre a Geórgia e a Ossétia do sul e Geórgia-Abecásia, que hoje, são países quase independentes, reconhecidos pela Rússia e por outros países mais pequenos. E assim, como os países europeus tinham tanta pressa em acabar com a guerra, quando assinaram o acordo com Medvedev, nem se quer se deram conta de como estava estabelecido esse acordo, sobre a colocação dos capacetes azuis da OSCE no terreno.
(Continua)
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