sexta-feira, setembro 15, 2006

Futura adesão da Ucrânia à NATO provoca crise política em Kiev


O Presidente da Ucrânia, Victor Iuschenko, acusou o primeiro-ministro, Victor Ianukovitch, de não defender os interesses nacionais ao anunciar que o país não estava pronto para cumprir o plano de acções para a adesão da Ucrânia à Aliança Atlântica.
“A posição de Ianukovitch é errada, não corresponde aos interesses nacionais e deve ser corrigida” – declarou Iuschenko numa conferência de imprensa em Kiev, capital da Ucrânia, acrescentando que o primeiro-ministro e o seu partido se opuseram sempre à aproximação da Ucrânias às instituições euro-atlânticas.
Na quinta-feira, Ianokovitch foi a Bruxelas explicar ao Secretário-Geral da NATO, Jaap de Hoop Scheffer (na foto),que a baixa popularidade da Aliança Atlântica no país ditava uma pausa no processo de aproximação da Ucrânia a essa organização, revelando também que este processo poderia prejudicar as relações entre Kiev e Moscovo. “Devemos convencer a sociedade” – declarou o político pró-russo na sua primeira visita à sede da NATO desde que se tornou primeiro-ministro em Agosto passado.
Estas declarações provocaram um vendaval político no país, visto que, no acordo de unidade nacional, assinado pelos apoiantes de Iuschenko com a oposição, todas as partes aceitaram o rumo europeísta da política externa. Não obstante, a fim de superar a crise política, o partido pró-presidencial “Nossa Ucrânia” aceitou a exigência de Ianukovitch e dos comunistas de submeter a adesão à NATO a um referendo.
Os ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, que são directamente nomeados por Iuschenko, juntaram-se ao coro dos críticos das declarações de Ianukovitch, tendo Boris Tarassiuk, chefe da diplomacia ucrania, lembrado que “a política externa é uma prorrogativa do Presidente que o primeiro ministro deve seguir”.
Tarassiuk reconheceu que as discrepâncias entre Iuschenko e Ianukovitch quanto à Aliança Atlântica levam a que a NATO não convide a Ucrânia a ingressar na Organização na sua próxima cimeira, marcada para Novembro em Riga.
Se este conflito não tivesse desplotado, a NATO teria sérias dificuldades em dar esse passo, porque ele implicaria uma agudização das relações com a Rússia, que tudo tem feito, nomeadamente desestabilizando a situação política nalgumas regiões ucranianas, para impedir a adesão da Ucrânia à Aliança. Assim, Ianukovitch retirou um pesado fardo das costas dos dirigentes da NATO.
Quanto às relações da Ucrânia com a União Europeia, Benita Ferrero-Waldner, Comissária para os Assuntos Internacionais da UE, declarou, num encontro com Ianukovitch, que a adesão potencial da Ucrânia a essa organização “não está na ordem de dia”, prometendo apenas um novo acordo de ampla cooperação depois da entrada desse país na Organização Mundial do Comércio.
Depois disto, ainda há pessoas que não compreendem porque é que as forças pró-europeias e pró-ocidentais perdem terreno a favor dos políticos pró-russos!
Parafraseando uma expressão, cuja autoria, infelizmente, não conhecemos, é caso para exclamar: “É o petróleo e o gás russos, estúpidos!”

6 comentários:

topas disse...

Era de esperar...

http://maistopas.blogspot.com/

FM disse...

Só me pergunto porque é que a Ucrania devera aderir à NATO, uma organização manifestamente construida contra a Ucrania e os outros estados eslavos...Ainda um dia se vai saber quanto recebe o presidente da ucrania para meter o país em tais assados...

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro leitor, a NATO foi criada contra a Ucrânia e os outros estados eslavos? Uma afirmação que, pensamos, tem tanto de curioso, quanto de infundado. Não seria mau argumentar... Ficamos à esperar

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro Manuel Lopes, eu não pretendo ser defensor da NATO e até estou de acordo que, presentemente, ela não tem grande razão de existir, a não ser que sofresse uma renovação profunda.
Mas não concordo consigo quando se esquece de metade da história. Por exemplo, o Sr. escreve que, à excepção do Afeganistão, "nunca URSS ocupou ou invadiu qualquer outro país", o que está muito longe da verdade.
A URSS, desde o seu início, surgiu como potência expansiva, claro que sob o pretexto do "internacionalismo proletário", mas isso não passa de cobertura.
Entre 1918-1920, a Rússia comunista tentou exportar o comunismo para a Alemanha e a Hungria, provocando aí levantamentos armados. Na mesma altura, as tropas soviéticas invadiram a Polónia.
Em Agosto de 1939, a URSS, de acordo com Hitler, invade e ocupa a Letónia, Lituânia e Estónia, participa na divisão da Polónia.
Pouco tempo depois, a URSS invade a Finlândia.
Depois da Segunda Guerra Mundial, as tropas soviéticas foram utilizadas para invadir ao manter regimes comunistas no poder na Alemanha Oriental, Hungria, Checoslováquia.
E se vier responder que se trataram de medidas de defesa, peço-lhe que argumente bem. Cumprimentos

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro leitor Zé, repito que não pretendo defender a NATO, não é a função deste blog. Não considero que os políticos soviéticos, antes, e os políticos russos, hoje,
sejam os "maus da fita" e os políticos americanos ou europeus ocidentais sejam "anjinhos", nem considero que o sujeito "A" possa fazer política suja para responder ao sujeito "B". Sou daqueles que acredita que deve existir moral na política interna e externa dos Estados, embora alguns considerem isso "lirismo puro".
Neste blog, tento relatar o que se passa no antigo espaço soviético e analisar as questões mais importantes, situando-as no tempo. Seria hipócrita afirmar que é possível fazer jornalismo imparciável, mas evito também fazer jornalismo militante.
Além disso, enquanto historiador, gosto que sejam colocados em cima da mesa para discussão o máximo de factos e não apenas parte. Cumprimentos

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro Manuel Lopes, quanto ao conselho a propósito da sua ida à Póvoa, está aceite. Só é pena que tenha sempre tão pouco tempo para visitar essa grande terra.
Quanto à invasão da RDA, basta lembrar a forma como foram esmagados os levantamentos operários do pós-guerra, para já não falar do Muro de Berlim. Antes, nos anos 20 e 30, claro que havia deputados comunistas na Alemanha, eleitos democraticamente.Mas hoje, depois de abertos os arquivos soviéticos e alemãs, pode-se constatar os esforços feitos pelo poder soviético para exportar a revolução para a Alemanha, a Hungria e outros países. Será que ainda há pessoas que acreditam que a "revolução mundial" e a respectiva exportação foi inventada só por Trotski? A autoria é também de Lénine e a materialização dessa teoria, depois da morte de Lénine, foi realizada por Estaline. Só aparentemente o trotskismo é muito diferente do estalinismo. As duas correntes comunistas têm uma origem comum: o leninismo.
Certamente saberá que foi na União Soviética que foi inventado o termo social-fascista para caracterizar os sociais-democratas alemães e que a divisão na esquerda alemã, que permitiu a subida de Hitler ao poder, foi, em parte significativa obra da Internacional Comunista, ou seja, de Estaline.
Caro Lopes, deve saber que,nessa altura, mais precisamente em 1938-39, Moscovo dissolvia vários partidos comunistas, nomeadamente o português, a pretexto de argumentos sem fundamento. Ou será que homens como Pavel, Daniel (Cunhal)e muitos outros comunistas eram "agentes do imperialismo", "provocadores infiltrados", etc., como dizia o Kremlin.
É verdade que a Hungria e a Checoslováquia faziam parte do Pacto de Varsóvia, mas não havia ameaça externa, mas sim interna: levantamentos de operários e intelectuais que dificilmente poderão rotulados de "agentes do imperialismo".
Quanto à Finlândia, caro Lopes, sabe que tudo foi rapidamente resolvido, mas à custa da perda de um terço do seu território... Basta olhar para os mapas de antes e depois da última guerra mundial.
Se projectarmos esses acontecimentos para os dias de hoje, penso que não erro contra a verdade se disser que foi precisamente o comunismo soviético, apoiado no seguidismo de numerosos partidos comunistas, incluindo o português, que desacreditou por muito tempo a esquerda no mundo.
Cumprimentos