Líder da oposição russa acusado de receber apoio financeiro estrangeiro

A Procuradoria Geral da Rússia descobriu factos de financiamento estrangeiro de Alexei Navalny, candidato da oposição ao cargo de presidente da câmara da capital russa, o que pode constituir motivo para o seu afastamento da corrida eleitoral.

“Durante uma inspeção feita a pedido de Vladimir Jirinovski, deputado da Duma Estatal, dirigente do grupo parlamentar do Partido Liberal Democrático da Rússia, parte dos seus argumentos foi confirmada, nomeadamente sobre o financiamento estrangeiro da campanha eleitoral de Navalny”, declarou um porta-voz da Procuradoria, citado pelas agências russas.

Segundo ele, “mais de 300 pessoas físicas e jurídicas estrangeiras, nomeadamente dos Estados Unidos, Finlândia, Grã-Bretanha, Suíça, Canadá enviaram, através do sistema de transferências eletrónicas “Yandex.Dengui”, dinheiro para a sede de campanha de Alexei Navalny”.

A lei eleitoral russa proíbe o financiamento por estrangeiros de campanhas eleitorais de políticos ou partidos russos. Por isso, o candidato da oposição russa pode ser afastado da corrida eleitoral.

Máxima Ukolova, porta-voz do “Yandex.Dengui”, desmentiu as acusações da Procuradoria-Geral da Rússia, frisando que as autoridades russas não pediram informações a esse sistema eletrónico dados sobre transferências para Navalny.

Ela acrescentou, em declarações à rádio Ekho Moskvy, que “não é possível determinar a cidadania da pessoa que realiza a transferência através do nosso sistema”, acrescentando que “através dele só podem realizar transferências pessoas físicas, mas não empresas e organizações”.

Leonid Volkov, dirigente da campanha eleitoral de Navalny, desmente essa notícia: “Antes de comentar a declaração da Procuradoria-Geral, é preciso consultar os materiais. Mas, em qualquer dos casos, posso frisar que não existe qualquer financiamento estrangeiro da campanha de Alexei”.

Alexei Venediktov, redator-chefe da rádio Ekho Moskvy, revelou ter feito, a título de experiência, transferência, a partir de Itália, de 10 mil rublos (250 euros) para a conta de cada um dos candidatos. Sendo Venediktov cidadão da Rússia, significa que os candidatos devem ser todos afastados do escrutínio por terem recebido dinheiro do estrangeiro? E se outros russos que vivem no estrangeiro fizerem o mesmo?

O advogado Alexei Navalny tornou-se conhecido depois de denunciar, através da Internet, numerosos casos de corrupção nas mais altas esferas do poder.

As autoridades responderam com a acusação de que Navalny este envolvido em “fraudes” e um tribunal condenou-o a seis anos de prisão.

Seis candidatos lutam pelo cargo de presidente da Câmara de Moscovo. As últimas sondagens dão ao candidato do Kremlin e atual dirigente da capital russa, Serguei Sobianin, 76,2 por cento, enquanto Navalny aparece em segundo lugar com 16,7 por cento das intenções de voto.

Porém, a popularidade de Navalny pode aumentar e a do candidato do Kremlin descer, pois o Kremlin parece não aprender nada com a história. Sobianin, por exemplo, recusou-se a participar nos debates eleitorais em directo no canal televisivo de Moscovo.

As eleições municipais em Moscovo, marcadas para 8 de setembro, são vistas por alguns analistas como um teste à capacidade do poder russo de participar em eleições limpas e transparentes.

Pode-se gostar ou não de Navalny (eu, se querem saber a minha opinião, olho com certa desconfiança e preocupação para algumas das suas declarações nacionalistas), mas o facto é que ele transforma-se rapidamente no mais sério candidato da oposição e o Kremlin está cada vez mais nervoso.