Hoje,
o principal jornal económico russo “Vedomosti” pergunta: “Você
acredita nisto?” depois de publicar as palavras do Presidente
russo, Vladimir Putin pronunciadas depois da cimeira União
Europeia-Rússia, realizada em Bruxelas na véspera: “não iremos
rever os acordos sobre os créditos e sobre energia se a oposição
chegar ao poder”.
Recordo
que o Kremlin prometeu à Ucrânia um crédito de 15 mil milhões de
dólares sob a forma de aquisição de títulos do tesouro (já fez a
primeira aquisição no valor de 2 mil milhões de dólares) e baixou
o preço do gás em mais de 30%.
Eu
respondo que não acredito nas palavras de Vladimir Putin, a não ser
que tenha ocorrido algum milagre. Confio mais nas palavras do
vice-primeiro-ministro russo, Igor Chuvalov, pronunciadas também em
Bruxelas e quase paralelamente às do presidente “se o novo governo
[ucraniano] anunciar outra ordem de trabalhos e outras prioridades,
então é provável que passe existir motivo para rever os acordos
existentes”.
As
declarações suaves de Putin têm pelo menos uma explicação: os
Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, que irão decorrer
entre 7 e 23 de Fevereiro. O Kremlin não quer dar qualquer argumento
aos adeptos do boicote e pretende fazer desse acontecimento uma
vitrina da sua política. Tomou medidas draconianas para impedir
ataques terroristas, “passou um salvo-conduto” a lésbicas e gays
e não pretende estragar todos esforços com movimentos bruscos em
relação à Ucrânia, tanto mais que a luta nesse país pelo poder
deverá ser muito longa.
Grosso
modo, as autoridades russas e os órgãos de informação a elas
ligados difundem a ideia de que a Ucrânia é uma parte da Rússia
que temporariamente se separou devido à “acção de traidores”.
Mas ao contrário daqueles portugueses que consideram que a cidade de
Olivença é portuguesa, mas não acreditam que o actual estatuto se
venha a alterar, os dirigentes russos não perderam a esperança de,
no mínimo, manter a Ucrânia na sua zona de influência.
A
Rússia tem importantes interesses económicos, políticos e
geopolíticos no país vizinho e, por isso, não o deixará escapar
facilmente, mesmo que isso possa conduzir à divisão da Ucrânia.
Deixem passar os Jogos Olímpicos e ouvirão da voz de Putin o que
hoje está escrito numa declaração do Conselho da Federação
(Câmara Alta do Parlamento), aprovada por unanimidade.
“As
desordens em massa provocadas pela oposição não têm nada a ver
com acções pacíficas de protesto. Uma campanha bem organizada que
visa desacreditar e derrubar o poder legítimo. Pogroms e incêndios
em Kiev e noutras cidades, a invasão de edifícios administrativos,
as acções agressivas contra as forças da ordem, que provocaram
vítimas mortais e um número significativo de feridos, ocorrem com o
apoio dos que chamaram as pessoas para a rua”, lê-se num
comunicado.
Os
senadores russos estão convencidos de que “o povo irmão
ucraniano, a direcção da Ucrânia encontrarão formas de
restabelecer a calma e a ordem no país”.
Claro
que, numa situação tão complexa, o ideal seria que os ucranianos
conseguissem sozinhos encontrar uma saída para a crise. Mas, como já
não parece o caso, a Rússia e a União Europeia têm especiais
responsabilidades face ao que se passa na Ucrânia, não devem
transformar este país num campo de combate até à vitória final de
uma das partes.
Na
véspera, Vladimir Putin declarou que a criação de um mercado
económico comum entre Lisboa e Vladivostoque contribuiria para a
solução da crise na Ucrânia, mas Durão Barroso considerou essa
ideia “um sonho”, admitindo, porém, que há sonhos que se tornam
realidade.
O
principal é que a Ucrânia não se transforme no maior pesadelo
entre Lisboa e Vladivostoque.
...“não iremos rever os acordos sobre os créditos e sobre energia se a oposição chegar ao poder”...
ResponderEliminarE você sabe EXACTAMENTE qual o conteúdo dos acordos?
Pode a oposição cumprir a sua parte nos acordos feitos?
Você não tem dados suficientes para duvidar das palavras de Putin.
Relativamente à UE e às suas preocupações "democráticas" na Ucrânia, dê uma olhadela a isto.
ResponderEliminarVamos começar por um artigo de 2013:
Gazprom reclama sobre carregamento incompleto do Nord Stream
O terceiro pacote energético, que está vigorando no território da União Europeia, permite à gigante estatal russa Gazprom utilizar o gasoduto Nord Stream apenas a meio, declarou o vice-presidente do monopólio de gás russo, Alexander Medvedev...
http://portuguese.ruvr.ru/news/2013_06_07/Gazprom-reclama-sobre-carregamento-incompleto-do-Nord-Stream-0709/
Rebenta a confusão na Ucrânia e que começa a UE a falar mas baixinho?, afinal, a verdadeira "preocupação" da UE é a democracia como é demonstrado por tudo quanto é noticiário ...
Sai esta notícia a 24 de Janeiro:
EC to agree on Russia’s Gazprom access to OPAL by end-Feb
The European Commission plans to agree on the access of Russian gas major Gazprom to the E.U.’s OPAL pipeline by the end of February, and Germany will decide on the issue in March, E.U. Energy Commissioner Gunther Oettinger told reporters on Friday, as cited by RIA Novosti...
...The European Commission earlier allowed Gazprom to use no more than 50% of OPAL’s capacities, which is plugged into its Nord Stream undersea export pipeline and stretches along Germany’s eastern border, in accordance with the third energy package. Gazprom intends to reach an agreement and exceed the set limit of 50%.
http://www.1prime.biz/news/_EC_to_agree_on_Russias_Gazprom_access_to_OPAL_by_end-Feb/0/%7BC66E38EB-D837-4A92-9FDD-11468FEA5543%7D.uif
E o que é que saiu ontem da pequena reunião UE-Rússia?
Russia agrees on access to 100% of Germany’s OPAL pipeline
Russia has agreed with the E.U. to use 100% of capacities of the OPAL gas pipeline, plugged into the Nord Stream pipeline system, instead of 50%, President Vladimir Putin said late on January 28, Prime has reported...
http://www.oilandgaseurasia.com/en/news/russia-agrees-access-100-germany%E2%80%99s-opal-pipeline
Pois é. A UE que andava a fazer pressão à Rússia sobre o controlo energético, foi a correr permitir o uso a 100% pela a GAZPROM, de modo a permitir o incremento de fornecimento de energia.
Ora, qual terá sido a razão disto? será que precisamos de chamar um detective?
Pois é, e é esta UE que está preocupada com a democracia na Ucrânia.
Da UE só virá solidariedade democrática mesmo se a oposição fôr para o governo. E mesmo que se embrulhem num inferno, as necessidades energéticas da UE estão acauteladas.
Virem-se para a UE, mas o dinheiro que a Rússia emprestou terá que ser devolvido. COMO? não contem com dinheiro europeu, apenas solidariedade que também enche barrigas vazias.
Caro PM, eu parto do que foi publicado é é publico. Se existem parágrafos secretos, a oposição poderá recusar-se a cumpri-los.
ResponderEliminarMeu caro,
ResponderEliminarOlhe para o governo anterior, que era pró-UE e fez acordos com a Rússia.
Você acha que o foi tornado público é tudo o que está escrito?
existe muita coisa por detrás da cortina...
PM, se existe muita coisa por detrás da cortina, e acredito que sim, o resultado está à vista.
ResponderEliminarPM, se existe muita coisa por detrás da cortina, e acredito que sim, o resultado está à vista.
ResponderEliminarPara reforçar a minha opinião sobre este assunto, acrescento este link:
ResponderEliminarNATO's Rasmussen criticizes Russian pressure on Ukraine
NATO Secretary General Anders Fogh Rasmussen criticized Russia on Wednesday for pressuring Kiev not to sign a free trade pact with the European Union...
..."An association pact with Ukraine would have been a major boost to Euro-Atlantic security, I truly regret that it could not be done," Rasmussen told le Figaro daily. "The reason is well-known: pressure that Russia exerts on Kiev."...
...Rasmussen...pressed Ukraine's leaders to assert their independence, urging closer ties with his North Atlantic Treaty Organisation and the European Union...
..."We have real differences and real issues," he said. "It's obvious that Russia's attitude is clearly hostile to the (NATO) alliance opening to the east."
http://www.reuters.com/article/2014/01/29/us-ukraine-nato-idUSBREA0S0HW20140129
E cá está, a NATO à espera de meter um pé na Ucrânia.
Ninguém está preocupado com a democracia, esta é um meio de atingir um fim, que é o alargamento da NATO.
Isto para mim confirma a actuação da Rússia na Ucrânia, impedir o alargamento da NATO, e usa para isso a arma energética.
E esperemos que a coisa fique por aqui.
Acho que não é preciso ser-se um grande génio para se perceber que essa conversa toda da "defesa da Democracia" é, como diria o Wandard, conversa para boi dormir.
ResponderEliminarO que está aqui em jogo é, por um lado, o desejo de parte da população em afastar-se da Rússia, devido a recalcamentos vários, e por outro, o desejo de projecção de poder por parte da UE (leia-se Alemanha) e da NATO.
E por falar em NATO e a defesa da Democracia...
https://medium.com/war-is-boring/bc1817c83b6e
Já agora, se a UE está tão preocupada com a prosperidade e o desenvolvimento da Europa, porque é que não cria um mercado económico comum entre Lisboa e Vladivostoque?