quarta-feira, fevereiro 05, 2014

Gulbenkian: Primeiro estrangeiro a trocar obras de arte dos museus soviéticos por dinheiro para a “ditadura do proletariado”


O coleccionandor arménio Calouste Gulbenkian foi o primeiro homem de negócios estrangeiro a adquirir, em quantidades consideráveis, obras de arte dos museus da União Soviética, cujo Governo necessitava de dinheiro para financiar a “ditadura do proletariado” e a “revolução mundial”.
A venda de ouro, prata, pedras preciosas e obras de arte começou quase logo após a revolução comunista de 1917 na Rússia, mas tomou envergadura gigantesca a partir dos anos 20.
Em 1919, foi criada a “Comissão Máximo Gorki”, dirigida pelo conhecido escritor russo e soviético, que tinha como um dos objectivos contactar na Europa clientes interessados em adquirir valores e obras de arte confiscados pelo poder comunista. No início do ano seguinte, o dirigente soviético Vladimir Lénine ordenou a aceleração do processo de venda, sublinhando: “estou de acordo em deixar-lhes (aos museus) apenas o mínimo estritamente necessário”.
É curioso assinalar a explicação dada para justificar a venda para o estrangeiro da riqueza nacional: “O valor de Rembrandt não diminuirá se estiver pendurado algures na Europa, mas semelhante passo permite-nos rapidamente construir o socialismo... Depois da revolução mundial, tudo o que é nosso para nós voltará”.
No Verão de 1928, chegou ao conhecimento do Museu Hermitage de Leninegrado a intenção da “Antikvariad”, entidade pública que monopolizava a venda de obras de arte para o estrangeiro, de obrigar esse museu a preparar para venda um grande número de obras de arte.
“O Sr. Gulbenkian... propôs-se adquirir quadros com o valor de 10 milhões de rublos e apresentou uma lista dos 18 melhores quadros do Hermitage, que valem, segundo os cálculos mais modestos, um mínimo de 25-30 milhões de rublos”, escrevia Serguei Troinitzki, director do Hermitage, ao ministro Anastássio Mikoain.
Entre as obras pretendidas pelo magnata encontravam-se a “Madona Alba” de Rafael, “Judite” de Giorgione e o “Filho Pródigo” de Rembrandt.
O magnata arménio não conseguiu adquirir essas obras mas trouxe outros quadros famosos como “Diana” de Jean Gudon ou “Atenas Pallada” de Rembrandt.
Além disso, Gulbenkian adquiria também obras de arte para vender a outros coleccionadores. Por exemplo, vendeu ao norte-americano George Wildenshtein o quadro “Mezzetin” de Antoine Wateau.
Segundo os documentos dos arquivos russos, Calouste Gulbenkian adquiriu quatro lotes de obras de arte, tendo a última sido o quadro de Rembrandt “Retrato do Velho”.
Não se conhece ainda a razão que levou o mecenas arménio a suspender os contactos com os comunistas soviéticos. Na obra “Os tesouros vendidos da Rússia”, os especialistas russos consideram que “a excessiva poupança do 'senhor cinco por cent'” obrigou-o a ceder o lugar a compradores mais generosos”.
“Se, não obstante as minhas críticas, vocês se decidirem continuar a vender os valores dos vossos museus (eu, insistentemente, aconselho-vos a não fazer isso), em vez de os vender a intermediários, ponham esses objectos em venda aberta no mercado, porque o jogo infantil das escondidas, praticado agora, apenas prejudica”, escrevia Gulbenkian a Gueorgui Piatakov, dirigente soviético, em 1930.
Mas os comunistas não tencionavam publicitar a venda dos valores artísticos da Rússia e continuaram a desbaratá-los às escondidas, mas para outros mercados.

10 comentários:

João Nobre disse...
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António Eduardo Mendonça disse...

Para quem se interessar pelo tema, recomendo a leitura de «Treasures into Tractors - The Selling of Russia's Cultural Heritage, 1918-1938» (ed. Anne Odom e Wendy Salmond, 2009), ou do mais ilustrado, mas menos informativo «Selling Russia's Treasures: The Soviet Trade in Nationalized Art, 1917–1938» (ed. Natalya Semyonova e Nicolas Iljine, 2013)

Anónimo disse...

Se o Post é da autoria de José Milhazes revela uma miopia muito grande.
Maldade também.
Sacanice, alguma.
Leve ao lume por 50 minutos em lume brando.
Deixe arrefecer e tem um perfeito reaccionário bem cozinhado e prestes a ser trucidado pela ditadura do proletariado que não cessa de crescer sob novas cores e novas formas.
Não tenha medo que eu
estava a falar a sério.
Jota Jota

Anónimo disse...

Que quadro é o da gravura? E está no Museu Gulbenkian?

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

O quadro publicado é um dos comprados por Gulbenkian e encontra-se em LIsboa.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Anónimo Jota Jota, eu sei que estava a falar a sério, mas é cobarde, já vos conheço o jeito.

João Nobre disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro José Horta, já estou farto dessa escumalha, que não aprende nada.

Anónimo disse...

Amigo Milhazes
É verdade que depois dos "10 Dias que Abalaram o Mundo" a Rússia foi sujeita ao mais atroz bloqueio de que há memoria na História por parte das potencias capitalistas que assim queriam matar à fome a nova revolução em crescimento
A fome foi tanta, o isolamento foi tanto que o Comité Central para reunir algum dinheiro tomou a iniciativa de vender tudo o que fosse possível.
Foi um tempo tenebroso mas os soviéticos recuperaram, electrificaram, desenvolveram a industria ao ponto de 1945 tomarem Berlim na luta contra o Nazismo.
Fico satisfeito por saber que parte das obras russas se encontram em Portugal.
A História dos quadros de Miró em nada têm de semelhante. O que se assiste é uma trapalhada em que as obras aparecem em Londres sem documento legal de transporte e a autorização foi dada à posteriori e à pressa pelo Secretário de Estado da Cultura que assim procurou colmatar uma verdadeira barracada.
Estranho que a nível oficial haja quem seja sensível às coisas da arte e por outro lado outros tratam estas coisas como quem vende "pechisbeque" na feira da ladra.
J Monteiro

João Nobre disse...
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