Com o aproximar das eleições parlamentares, marcadas para
Setembro, o Kremlin criou um partido que visa tirar terreno à oposição liberal extraparlamentar
e, desse modo, não perder o actual controlo total da Duma Estatal (Câmara
Baixa) do Parlamento.
Nesta Duma, Vladimir Putin já controlava os Partidos Rússia
Unida, Rússia Justa, Liberal Democrático e Comunista, mas as eleições estão à
porta e é preciso fazer com que a oposição extraparlamentar não supere a
barreira dos 5% e fique à porta da nova Câmara Baixa.
Para isso, o Kremlin pegou numa força política outrora criada
pela oposição liberal: Causa Justa (Pravoe Delo), mudou-lhe o nome para Partido
do Crescimento e já está.
O dirigente do velho e novo partido é Boris Titov, homem que
até agora tem “representado” os interesses do mundo dos negócios junto de
Vladimir Putin.
Para dar mais credibilidade ao projecto, recrutou-se uns
artistas e intelectuais conhecidos.
E tudo isto é feito às claras. O próprio Boris Titov
reconheceu publicamente que este projecto é acompanhado por Viatcheslav
Volodin, vice-chefe da Administração do Presidente da Rússia.
Mas porque será que, num país onde as sondagens mostram que a
popularidade de Putin ronda os 80%, é preciso o Kremlin preocupar-se com uma
oposição que ele apresenta como insignificante?
Porque Vladimir Putin está perfeitamente convencido de que a
“quinta coluna” e os “nacional-traidores” (nomes por ele dado à oposição
extraparlamentar), apoiados por “forças externas”, o querem expulsar do poder
através de mais uma “revolução colorida”.
Embora sem grandes razões para isso, mas o dirigente russo
deverá estar a acompanhar com muita preocupação a crise política no Brasil,
tanto mais que os seus serviços secretos já o devem ter informado que alguns
dos adversários de Dilma e Lula gritam nas ruas que querem imitar a Ucrânia. O
sputniknews, órgão de propaganda criado pelo Kremlin para denunciar as maldades
do mundo ocidental e onde é proibido escrever-se sobre os problemas na Rússia,
informava no passado dia 17: “Espectros da Maidan. Manifestantes pedem golpe à
la Ucrânia no Brasil”.
Cenário muito pouco provável na Rússia, mas um antigo coronel
do KGB como Putin tem de prever, tal como um xadrezista experiente, as jogadas
seguintes do adversário e, por isso, tenta tapar todos os buracos.
Parece-me que está a exagerar bastante, porque, além de todas
as medidas antecipadamente tomadas para evitar surpresas, a oposição
extraparlamentar russa continua extremamente dividida e mergulhada em disputas
mesquinhas. A Comissão Eleitoral da Rússia deverá autorizar a participar no
escrutínio vários partidos da oposição extraparlamentar e nenhum conseguirá
superar a barreira dos 5%, que permite a eleição de deputados. Alguns
opositores poderão ter alguma possibilidade de eleição nos círculos
uninominais, onde serão eleitos 225 dos 450 parlamentares, mas nada que faça
assustar o Kremlin.
1 comentário:
"Com o aproximar das eleições parlamentares, marcadas para Setembro, o Kremlin ... " e com o aproximar do referende de 6 de Abril, muita porcaria vai começar a destilar na MSM.
Curioso para saber o que vem por aí abaixo.
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