E isto ainda não é guerra?
Se se vier a confirmar a versão de que as explosões em
Bruxelas são atentados terroristas, o que é altamente provável, devemos pôr de
lado o politicamente correcto e analisar friamente este caso para que se tirem
conclusões sérias e se tomem medidas reais para combater esta praga.
Num comentário à SIC Notícias, Nuno Rogeiro afirmou que “este ataque na capital belga é como um balde
de agua fria para a Europa, poucos dias depois da detenção bem sucedida de
Salam Abdeslam em Bruxelas”.
Estando de acordo com esta análise, apenas gostaria de dizer
que não se tratou de um “balde de água fria”, mas de um escarro na cara da
Europa e dos seus valores. Bruxelas não foi apenas o lugar onde foi capturado
um dos autores dos atentados de Paris, mas é também a capital da União Europeia,
que se encontra com um nível alto de prevenção contra possíveis ataques
terroristas.
Por isso, a principal mensagem dos terroristas é clara: “actuaremos
onde e quando quisermos”, o que significa que os cidadãos da Europa deixaram de
estar seguros dentro da sua própria casa, estejam na sala, casa de banho ou
quarto de dormir.
Depois de tão grande ousadia e descaramento da parte dos
terroristas, os dirigentes europeus irão voltar a prometer-nos que “tudo
faremos para defender a nossa casa, os nossos princípios, etc., etc.”, milhares
de cidadãos sairão para as ruas em sinal de condenação do terrorismo, mas, depois,
tudo volta a acalmar-se até ao próximo atentado terrorista. E assim se vai
andando…
Não duvido que os dirigentes dos países europeus até tomem medidas
adicionais de combate ao terrorismo, mas o problema é que elas não têm
resultados visíveis. Claro que nos podem dizer, mas nós, com as medidas que
tomámos, fizemos gorar um maior número de atentados terroristas do que antes.
Fraca consolação para os cidadãos da Europa. Estamos a viver
uma guerra de novo tipo, sem frentes de combate, com o inimigo invisível ou
escondido, mas temos de ter consciência que se trata realmente de uma guerra e,
para a ganhar, temos também de procurar novos meios de combate. Aqui, claramente,
os bombardeamentos aéreos não são o melhor meio, é necessário repensar a
táctica e estratégia.
É importante assinalar que os atentados terroristas acontecem
com mais frequência nos países e cidades europeias onde vivem numerosas
comunidades muçulmanas e isso deve ser levado em conta na organização do
combate ao terrorismo.
Foi um erro crasso concentrar essas comunidades em ghettos nos
arredores das grandes cidades, pouco se fez para integrá-los. Agora, resta
fazer um longo e dispendioso trabalho junto delas a fim de arrancar o joio
nelas existentes para que o trigo possa crescer e sentir-se em casa, e não em
território hostil. Aqui tem grande importância o papel de figuras públicas
saídas desses meios na difusão da mensagem de que o confronto com outras
comunidades e o terrorismo apenas deterioram a já difícil vida dos muçulmanos
mais desfavorecidos.
Neste campo, é também necessário deixar de citar frases que
Voltaire não pronunciou e impedir que os radicais utilizem as mesquitas, a
Internet e outros meios de propaganda para propagarem as suas ideias. A
liberdade de expressão tem limites e a segurança dos cidadãos, além do respeito
pela liberdade dos outros, é um desses limites.
No plano global, as grandes potências têm sérias
responsabilidades nessa matéria, pois são responsáveis pela destruição de
estruturas estatais que, mesmo que arcaicas, serviam de contenção ao terrorismo
e pela criação de vácuos que foram rapidamente ocupados por forças radicais.
Recordo apenas a invasão do Afeganistão pela União Soviética em 1979 ou a
invasão do Iraque pelos Estados Unidos em 2003.
Além disso, as grandes potências nunca se preocuparam com o
apoio e desenvolvimento de regimes muçulmanos moderados. Para a URSS, o
principal era que os seus dirigentes dissessem que queriam construir o
socialismo e, para os Estados Unidos e Europa, que os hidrocarbonetos chegassem
a tempo e horas. Ou seja, a guerra fria deixou fortes marcas. Se esta política
continuar (e esta política está a ser seguida por todas as forças externas
envolvidas no conflito), a situação com o terrorismo, principalmente na Europa,
irá agravar-se.
Esse problema está estreitamente ligado à onda de refugiados
na Europa. Além das medidas políticas e humanitárias urgentes, é necessário
também contribuir para a solução dos conflitos que provocam essas ondas de
deslocados. Sem o mínimo de estabilidade no Médio Oriente, e o facto é que as
coisas andam em sentido contrário, será impossível sarar essa ferida. Ora,
neste campo, a União Europeia tem dado provas de quase total incapacidade.
Por isso, é de primordial importância tomar sérias medidas
conjuntas para combater o inimigo comum. Uma das mais eficazes é cortar os
canais de financiamento do terrorismo. A criação deste tipo de redes não fica
barato e só é possível quando alimentada por sério apoio financeiro. Ora se o
Ocidente controla a parte mais significativa desses capitais, devem utilizar-se
os mecanismos legais existentes para fazer secar essa fonte.
E aqui volta a surgir a importância do combate à corrupção a
nível global. Muitos desses fluxos financeiros só acontecem porque existem
banqueiros, homens de negócios, políticos, etc. corruptos, que são capazes de
pôr em perigo a segurança dos seus países a troco de uns milhões. Eles não se
podem sentir impunes, nem pensar que só acontece aos outros ou que são os
senhores disto tudo.
O combate à corrupção deve abarcar todos os níveis:
falsificação de documentos, permissão de movimentações de criminosos a coberto
de Vistos Gold, autorizações de residência, etc., concedidos de forma pouco clara
e às vezes apenas por sede de dinheiro.
E ainda a níveis mais abaixo. Por exemplo, seria de extrema
importância saber como os terroristas entram com bombas e armas nos aeroportos,
no metropolitano, etc. Isto numa cidade que está em estado de sítio há várias
semanas.
Claro que se torna cada vez mais urgente reforçar os serviços
de segurança e informação nacionais e internacionais. É um crime economizar
meios financeiros na segurança dos cidadãos, devendo os serviços de segurança
possuir pessoal e equipamentos à altura de combater um dos maiores flagelos do
século XXI. Não se pode combater o actual terrorismo se nos serviços de
segurança não existirem, por exemplo, agentes que dominem línguas como o árabe,
persa, etc., e que conheçam bem a situação no terreno. O tempo do amadorismo e
da teoria passou irremediavelmente.
Penso que a este rol de propostas se podem acrescentar muitas
outras, mas o principal é que os cidadãos europeus tenham consciência de que
enfrentam o maior período de insegurança depois da Segunda Guerra Mundial e de
que as desgraças não só acontecem ao vizinho. Não, são os nossos princípios, o
nosso modo de vida, a nossa liberdade que estão a ser atacados. E isto é válido
tanto para a direita, como para a esquerda.
Sem comentários:
Enviar um comentário