Infelizmente, o emprego de doping já se entranhou de tal
forma no desporto, olímpico e não só, que parece ter chegado a hora de liberalizar
o seu consumo em prol de medalhas, dinheiro ou “patriotismo”. Se o principal
não é participar, mas vencer, então os atletas que desejarem subir ao pódio que
arrisquem as suas vidas consumindo drogas que os transformam em super-heróis.
Mas a imoralidade de certos dirigentes e políticos
desportivos parece não ter limites, pois não poupam sequer atletas
paralímpicos, pessoas com deficiências físicas cujos resultados desportivos
também servem para mostrar que “a Rússia se está a levantar” (palavra de ordem
da actual propaganda russa).
O Comité Paralímpico Internacional (CPI) decidiu afastar
todos os atletas russos dos Jogos do Rio de Janeiro, a realizarem-se em
Setembro, devido à política do Kremlin face ao emprego do doping no desporto.
Segundo o CPI, durante os Jogos Paralímpicos de Inverno de
Sotchi 2012, onde a Rússia não podia deixar de ganhar para mostrar os cuidados
depositados pelo Presidente Putin no desporto, 21 análises de sete desportistas
russos foram falsificadas.
Além disso, Philip Craven, presidente do CPI, revelou que
“nas tampas de 18 contentores com análises foram encontrados riscos. Isso prova
que eles foram abertos e reutilizados”.
O Comité Paralímpico Russo recorreu dessa decisão para o
Tribunal Arbitral Desportivo, mas as suas queixas foram recusadas, determinando
o afastamento dos atletas paralímpicos russos da maior competição mundial do
género.
No lugar de reflectir sobre essas decisões e tomar medidas
para limpar o desporto russo do doping, demitindo, por exemplo, Viktor Mutko,
ministro do Desporto altamente responsável por essas ilegalidades, o Presidente
Putin faz figura de ofendido e considera que “a decisão de desclassificar os
paralímpicos russos está fora do direito e da moral. É cínico vingar-se e
descarregar a raiva naqueles para quem o desporto se tornou no sentido da vida.
Tenho pena de quem toma semelhantes decisões. Eles não podem compreender que
isso próprio é humilhante para eles”.
Ou seja, Putin repete a mesma habitual mantra de que tudo não
passa de uma cabala para atingir e humilhar a Rússia. É mesmo caso para citar o
ditado russo: “Não se deve culpar o espelho se se tem a cara torta”, mas o
Presidente russo insiste em acusar o espelho, ou seja, todos os outros, menos
“nós”, dos problemas não só no desporto russo, mas em todos os outros campos. A
julgar pelos discursos dele, pode-se pensar que a Rússia é um país que só tem
dificuldades e problemas é por culpa alheia.
Afinal, quem estará além do direito e da moral? Parece
estarmos a assistir uma vez mais à história do “apanha que é ladrão!”
Claro que o “czar Vladimir II” não pode abandonar os seus
súbditos e, num encontro com os campeões olímpicos russos no Kremlin, ordenou
organizar “competições especiais, cujos resultados serão recompensados com as
mesmas condecorações como se participassem nos Jogos Paralímpicos no Rio”. Significa que ele irá mandar cunhar medalhas
iguais às dos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro e, depois, presenteará os
vencedores com ouro, prata e bronze, bem com automóveis BMW X-6, X-5 e X-3,
como fez com os vencedores olímpicos russos?
No mesmo dia, um dos tribunais de Moscovo, talvez por “mera
coincidência”, decidiu arrestar um terreno pertencente a Grigori Rodtchenkov, o
especialista russo que denunciou que dezenas de desportistas russos se doparam
durante os Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi. Além disso, ele está a ser alvo
de um processo-crime por ter “adquirido ilegalmente substâncias nos Estados
Unidos por ordem de algum dos dirigentes do WADA [Agência Mundial Antidoping]”.
Será que a paranoia, típica de tempos passados como a
ditadura estalinista, volta a imperar em relação ao bom-senso na política dos
dirigentes russos? Ou existe realmente uma cabala contra a Rússia que os tão
famosos serviços secretos de Putin não conseguem desmascarar?
Para mim, trata-se de mais um conto de Polichinelo em
vésperas de eleições parlamentares na Rússia, onde antecipadamente se sabe quem
irá ganhar o “ouro”, a “prata” e o “bronze”. E para isso não é preciso doping,
chega a propaganda.
2 comentários:
É só mais um capítulo da guerra tecnológica. Nos países mais avançados fazem-se drogas que não são detetadas nos testes oficiais. Veja-se o caso do ciclista americano.
Se guardassem o xixi durante uns anos esta guerra era posta em evidência.
Sr. José Milhazes, ninguém tem moral para falar sobre doping se é conivente com o seu irmão siamês, ou seja, a importação de atletas. Nos Jogos Olímpicos de Londres, 2012, por exemplo, o Reino Unido, naturalizou ( importou ) 61 atletas, os quais foram responsáveis por 24 das 65 medalhas conquistadas pelos britânicos. Portanto, o uso de substâncias proibidas tem a mesma finalidade ( obter vantagem, vencer ) do que a importação de atletas. Por que o Sr., o Observador, entre outros, não questiona do presidente do COI a proibição da naturalização ( importação ) de atletas ? Ah, não vale querer restringir o número de atletas importados, pois seria a mesma coisa que reduzir a dosagem de substâncias proibidas. Mais : questione também como esportes que são incompatíveis com os ideais olímpicos, entre eles, boxe, taekwondo e karate não são excluídos dos Jogos Olímpicos. Quanto será que o COI recebe para incluir uma modalidade esportiva ? A última do COI foi incluir a escala, esporte sem sentido, nos Jogos Olímpicos. Só faltou o futebol americano. Por falar em EU, o COI deveria excluí-lo como candidato a sede de 2024, pois já sediou por quatro vezes, enquanto há países que jamais foram sede.
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