Praticamente não se registaram surpresas nas eleições
parlamentares na Rússia, à excepção de uma nova perda de eleitorado por parte
do Partido Comunista, que quase se viu desalojado do segundo lugar pelo partido
populista de Vladimir Jirinovski.
O Partido “Rússia Unida” venceu com 54% dos votos, o que
constitui o segundo melhor resultado desta força, criada pelo Presidente Vladimir
Putin, nas eleições para a Duma Estatal, Câmara Baixa do Parlamento Russo.
Juntando esse resultado nos círculos maioritários ao dos círculos uninominais,
o partido do Kremlin terá uma maioria constitucional nesse órgão legislativo.
As sondagens davam uma vitória mais pequena ao “Rússia
Unida”, mas ela teria sido ainda maior do que a obtida se o partido do Kremlin
tivesse tido em toda a Rússia resultados como os alcançados no Cáucaso do
Norte, onde tiranetes não olham a meios para satisfazer e ultrapassar os
desejos do dono. Na Chechénia, por exemplo, o candidato oficial conquistou
92,99% dos votos nos círculos uninominais e o Rússia Unida 96% nos
restantes!
Guennadi Ziuganov, presidente do Partido Comunista da
Federação Rússia (PCFR), apressou-se a acusar o Kremlin de “violações em massa”
da votação quando as sondagens à boca das urnas lhe davam uma descida
significativa de votos, o que veio a verificar-se após a contagem. Se, em 2011,
o PCFR obteve 19,19% dos votos, desta vez, o resultado desceu para 13,45%.
Claro que não se pode deixar de concordar com Guennadi
Ziuganov neste ponto, mas o facto é que estas declarações não passam de
retórica demagógica. Como vem sendo tradição, esta força política ameaça
recorrer aos tribunais para impugnar os resultados eleitorais, mas não deverá
ter mais êxito do que nas vezes anterior, acabando por aceitar os lugares e as
respectivas benezes que o Kremlin lhe oferece na Duma Estatal.
Além das falsificações, que afectam todos os partidos à
excepção da Rússia Unida, os comunistas russos perdem votos pois dedicam mais
tempo à reabilitação de Estaline e de outros carrascos do regime soviético, à
instalação de bustos do ditador comunista em várias cidades russas, do que a
defender os interesses dos trabalhadores ou conquistar jovens para as suas
fileiras. É difícil compreender, por exemplo, que num país com um partido
comunista tão numeroso não exista um movimento sindical minimamente crítico. É
verdade que existe um, controlado pelo Kremlin, e que faz mais lembrar o sistema
corporativo criado por Salazar em Portugal.
Quanto à oposição real, ela vai continuar a ser
extraparlamentar e pouco eficaz. A campanha eleitoral não lhe deu grandes
possibilidades de fazer chegar a sua mensagem aos eleitores, porque os órgãos
de informação são praticamente todos controlados pelo Kremlin e não olharam a
meios para denegrir essa oposição e os seus dirigentes.
Além disso, a própria oposição apresentou-se muito dividida e
com alguns dirigentes comprometidos. Além da fama de corrupto, Mikhail Kassianov,
antigo-primeiro ministro russo, por exemplo, foi apanhado literalmente sem
calças na mão na companhia de uma conselheira sua. A NTV, um dos canais de
televisão centrais do país, não se limitou a contar as “andanças amorosas”
desse político, mas mostrou imagens só exibíveis em filmes para adultos, feitas
provavelmente pelos serviços secretos de Vladimir Putin. Enquanto despia e vestia as calças, Kassianov
criticava outros conhecidos dirigentes da oposição. Talvez por essa e outras
razões, o seu partido “PARNAS” teve menos de 1% dos votos.
É importante assinalar que a abstenção é cada vez maior,
tendo a afluência às urnas sido de 47,81% dos inscritos.
Os opositores de Vladimir Putin interpretam isso como forma
de protesto. O escritos Victor Chenderovitch considerou que “o povo não quis
perder tempo numa clara palhaçada.
Porém, Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, considera que “a
afluência não pode ser considerada baixa”, frisando que “é evidente que a
esmagadora maioria dos votos apoiou de facto o Presidente. Ele recebeu uma vez
mais um voto impressionante de confiança do povo”.
Isto parece significar que, dentro de dois anos, Vladimir
Putin será pela quarta vez candidato ao cargo de Presidente da Rússia, a não
ser que algo de extraordinário venha estragar os planos do Kremlin. Para uns, a
isto chama-se “estabilidade”, mas outros consideram “estagnação” este longo
“reinado”.
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