A guerra civil na Venezuela e a posição do Partido Comunista
Português face a ela mostram que a degradação moral e política dessa seita totalitária
não tem limites. Apoiam um regime que começa a provocar uma catástrofe
humanitária semelhante ou pior à da onda de retornados das ex-colónias em 1975.
No caso dos retornados, a explicação da sua expulsão de
Moçambique e Angola foi a reacção das forças locais de libertação contra o
imperialismo e os seus representantes. Os movimentos de libertação nacional
Frelimo e MPLA tomaram o poder e o que aconteceu depois foram “danos
colaterais”. Afinal, segundo dizia o PCP e outras forças de extrema-esquerda de
então, os retornados não passavam de um bando de reaccionários.
E hoje quem são os milhares de portugueses ou
luso-descendentes que fogem ou se preparam para abandonar a Venezuela? Depois
de lermos o Avante ou lermos, nas redes sociais, os comentários dos apoiantes
portugueses de Nicólas Maduro em Portugal, concluímos que os refugiados
madeirenses que eu vi na reportagem da SIC, bem como os que continuam na
Venezuela a lutar contra a ditadura e a violência, não passam de um “bando de
fachos”! Além disso - e onde é que eu já ouvi esse discurso, a soldo da CIA,
etc., etc.?
O “bando de fachos” inclui mulheres, crianças e doentes que
não têm praticamente qualquer assistência médica na Venezuela?
O Bloco de Esquerda, que tanto defendeu o regime criado por
Hugo Chavez, decidiu publicamente “mudar de disco” quando se tornou evidente a
política repressiva e desastrosa de Maduro, mas, lá dentro, também acham que a
oposição venezuelana não passa de um bando de fascistas.
Mas todos nós sabemos que o PCP é considerado por muitos um
“partido consequente”, embora eu considere que se trata de uma força política
sem o mínimo de princípios, ou mais precisamente, com dois princípios: “os fins
justificam os meios” e “quanto pior, melhor”. Mas a acreditar que se trata de
um partido consequente, irá continuar a apoiar o regime de Maduro, que já está
bem podre, até ao fim, mesmo já se sabendo que as forças repressivas mataram
mais de uma centena de venezuelanos e o número de vítimas não parará de
aumentar.
E quando a fuga de portugueses atingir dimensões críticas (o
que parece estar para breve) e a Madeira, de onde são originários a maioria dos
refugiados, os não puder albergar a todos, o PCP irá pôr o seu imobiliário ao
serviço do apoio a pessoas que vêm de mãos vazias, ou irá contribuir com os
fundos ganhos com a Festa do Avante para aliviar os sofrimentos dessas pessoas?
E por falar em Festa do Avante, gostaria de deixar aqui uma
pergunta: os artistas que nela participam e os espectadores que pagam bilhete
ainda não compreenderam quem estão a financiar? A explicação de que se trata da
“maior iniciativa cultural” do país já está esfarrapada e não aguenta remendos.
As festas do “Humanite” e do “Unita” desapareceram e as culturas francesa e
italiana não deixaram de existir.
Não querendo dar aulas de moral a ninguém, pergunto a
artistas como Rui Veloso, Clã, Paulo de Carvalho, António Azambujo, Gisela
João, etc. se estariam dispostos a participar na Venezuela numa festa de apoio
ao regime sangrento de Maduro? Claro que responderiam com uma negativa cheia de
indignação.
Mas não sentirão nada na consciência quando forem tocar numa
festa onde serão enumeradas todas as “virtudes”, “êxitos” e “conquistas” do
regime corrupto da Venezuela; e onde irão actuar, certamente, perante “representantes
legítimos” desses regimes, invariavelmente acompanhados de barraquinhas de
recordações: fotos de Hugo Chavez, de Maduro, porta-chaves e esqueiros com as
mesmas figuras, bandeirinhas, obras completas de Chavez, etc.?
Rui Veloso, não acredito que faças isso por dinheiro, não
acredito. Assim como Paulo de Carvalho ou António Zambujo. Mas também não
imagino o “Chico Fininho” a apoiar a morte de pessoas nas ruas de Caracas.
Paulo de Carvalho, não chegou a hora de “saber quem sou e o que faço aqui”? Trata-se
de uma questão de consciência e cada um decide o que fazer.
P.S. Sublinho a forma
cuidadosa como o governo está a gerir este difícil processo da Venezuela. Aqui
não pode haver precipitações para não dificultar ainda mais a vida dos
portugueses e luso-venezuelanos. Cuidado com as sanções, para que a vida dos
venezuelanos não se deteriore ainda mais e Maduro não continue a engordar.
2 comentários:
Caro José Milhazes, sei de fonte segura que há neste momento portugueses na Venezuela que passam semanas inteiras só a comer arroz com manteiga. A Venezuela é apenas mais um exemplo do falhanço clamoroso da doutrina socialista. Incrível é como é que é possível haver ainda tanta gente que acredita cega e fanaticamente nessa ideologia falida.
João José Horta Nobre, também eu me surpreendo (e horrorizo) por haver tanta gente que apoia essa ideologia de morte e sofrimento. É incrível ler, nos artigos acerca da Venezuela publicados na Sputnik Brasil , os comentários de tantos brasileiros a apoiar o regime insano de Maduro. Pessoas que apoiam o Lula e a Dilma numa ânsia de criar no Brasil um regime idêntico ao bolivariano. E, para desgraça do Brasil, podem consegui-lo. Na verdade, parece que neste momento o único entrave a esse desígnio dá pelo nome de Sérgio Moro.
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