Há forças políticas que tudo fazem para que os portugueses se esqueçam do 25 de Novembro de 1975, porque pretendiam impor uma ditadura comunista em Portugal e foram travados por militares e políticos responsáveis. Mas não nos devemos esquecer que os ideais do 25 de Abril morreriam se a extrema-esquerda tomasse o poder.
Por isso deixo aqui um fragmento do livro: "Brejnev, Cunhal e 25 de Abril", por mim publicado em 2013 na D. Quixote:
Por isso deixo aqui um fragmento do livro: "Brejnev, Cunhal e 25 de Abril", por mim publicado em 2013 na D. Quixote:
"Ainda antes da viagem de Francisco Costa Gomes à URSS, o CC do PCUS enviou a Lisboa, em setembro de 1975, Vadim Zagladin, um alto funcionário da Secção Internacional desse partido, a fim de aconselhar Álvaro Cunhal a não radicalizar a situação, ou seja, a renunciar à tomada do poder através da «revolução socialista».
Anatoli Tchernaiev [quadro responsável do PCUS], assinala, no seu diário, a 11 de setembro de 1975: «Estou a trabalhar há uma semana. Leio muito sobre a social-democracia e sobre Portugal. Zagladin foi enviado para esse país com uma missão especial, enviou três telegramas. A sua tarefa (directivas do CC) consistia em “sugerir” a Cunhal “não esquerdizar”, parar, talvez mesmo recuar, para reunir forças. A política para chegar ao poder através dos militares falhou. Pelos vistos, faltou à táctica leninista alguns elementos substanciais».
Esta visita foi confirmada mais tarde pelo próprio Vadim Zagladin, funcionário da secção Internacional do CC do PCUS, quando o entrevistei para o jornal Público: «Em 1975, havia muitos indícios de que nalguns círculos, nomeadamente militares pró-comunistas, amadurecia a ideia de uma segunda revolução, mas, segundo a nossa embaixada e os nossos analistas, não havia condições para esse desenvolvimento. Nesse período, nós e os nossos camaradas comunistas portugueses não tínhamos ideias muito correctas sobre os socialistas. Considerávamo-los como uma espécie de papão. Mas tínhamos a noção de que, se a segunda revolução começasse, ninguém sabia como as coisas iriam terminar. Não se tratava de saber se a União Soviética apoiaria ou não. Tratava-se da democracia portuguesa e receávamos que, se essa tentativa se concretizasse, as forças do passado pudessem de novo regressar.
Em Portugal, encontrei-me não só com comunistas mas com socialistas, sindicalistas, militares, porque a minha tarefa era estudar a situação. As instruções que tinha da direcção soviética, no caso de se levantar a hipótese da segunda revolução, eram de defesa da ideia do desenvolvimento democrático assente na cooperação com todas as forças de esquerda. Foi o que fiz.» O funcionário da Secção Internacional do CC do PCUS relata um caso curioso que demonstra que, nalguns sectores da esquerda, a intenção era repetir a revolução comunista soviética: «Em Lisboa, tive um encontro informal com um militar, cujo nome não recordo, que me pôs uma questão que, confesso, me deixou assustado: “Poderemos fazer a segunda revolução se a esquadra soviética do Mediterrâneo bloquear o litoral português?” […] sei que não era um militar de alta patente, mas compreendi que estava ligado à direcção do MFA, e penso que a iniciativa não partiu dele. Respondi-lhe: “Imagina o que isso significa?” Em Lisboa havia uma base da NATO, no Tejo estavam ancorados navios de guerra ocidentais. “Quer que combatamos contra eles? Depois de um confronto desses nada restará da vossa revolução».
É igualmente importante assinalar a forma como, segundo o funcionário soviético, a direcção do PCP reagiu às posições soviéticas: «Tive conversas pormenorizadas com Álvaro Cunhal e outros camaradas, que me ouviram com muita atenção. Cunhal fez-me muitas perguntas, a fim de precisar a nossa posição. É sabido que não aconteceu nada […]. sei mesmo que, no fim da minha estadia, houve uma reunião e que, depois, durante um jantar, Cunhal ou [Octávio] Pato – já não me recordo exactamente – disse-me: “Transmita a Moscovo as suas observações e opiniões. Pensamos que a posição do vosso CC é muito ponderada e continuaremos a estudar o assunto».
Anatoli Tchernaiev [quadro responsável do PCUS], assinala, no seu diário, a 11 de setembro de 1975: «Estou a trabalhar há uma semana. Leio muito sobre a social-democracia e sobre Portugal. Zagladin foi enviado para esse país com uma missão especial, enviou três telegramas. A sua tarefa (directivas do CC) consistia em “sugerir” a Cunhal “não esquerdizar”, parar, talvez mesmo recuar, para reunir forças. A política para chegar ao poder através dos militares falhou. Pelos vistos, faltou à táctica leninista alguns elementos substanciais».
Esta visita foi confirmada mais tarde pelo próprio Vadim Zagladin, funcionário da secção Internacional do CC do PCUS, quando o entrevistei para o jornal Público: «Em 1975, havia muitos indícios de que nalguns círculos, nomeadamente militares pró-comunistas, amadurecia a ideia de uma segunda revolução, mas, segundo a nossa embaixada e os nossos analistas, não havia condições para esse desenvolvimento. Nesse período, nós e os nossos camaradas comunistas portugueses não tínhamos ideias muito correctas sobre os socialistas. Considerávamo-los como uma espécie de papão. Mas tínhamos a noção de que, se a segunda revolução começasse, ninguém sabia como as coisas iriam terminar. Não se tratava de saber se a União Soviética apoiaria ou não. Tratava-se da democracia portuguesa e receávamos que, se essa tentativa se concretizasse, as forças do passado pudessem de novo regressar.
Em Portugal, encontrei-me não só com comunistas mas com socialistas, sindicalistas, militares, porque a minha tarefa era estudar a situação. As instruções que tinha da direcção soviética, no caso de se levantar a hipótese da segunda revolução, eram de defesa da ideia do desenvolvimento democrático assente na cooperação com todas as forças de esquerda. Foi o que fiz.» O funcionário da Secção Internacional do CC do PCUS relata um caso curioso que demonstra que, nalguns sectores da esquerda, a intenção era repetir a revolução comunista soviética: «Em Lisboa, tive um encontro informal com um militar, cujo nome não recordo, que me pôs uma questão que, confesso, me deixou assustado: “Poderemos fazer a segunda revolução se a esquadra soviética do Mediterrâneo bloquear o litoral português?” […] sei que não era um militar de alta patente, mas compreendi que estava ligado à direcção do MFA, e penso que a iniciativa não partiu dele. Respondi-lhe: “Imagina o que isso significa?” Em Lisboa havia uma base da NATO, no Tejo estavam ancorados navios de guerra ocidentais. “Quer que combatamos contra eles? Depois de um confronto desses nada restará da vossa revolução».
É igualmente importante assinalar a forma como, segundo o funcionário soviético, a direcção do PCP reagiu às posições soviéticas: «Tive conversas pormenorizadas com Álvaro Cunhal e outros camaradas, que me ouviram com muita atenção. Cunhal fez-me muitas perguntas, a fim de precisar a nossa posição. É sabido que não aconteceu nada […]. sei mesmo que, no fim da minha estadia, houve uma reunião e que, depois, durante um jantar, Cunhal ou [Octávio] Pato – já não me recordo exactamente – disse-me: “Transmita a Moscovo as suas observações e opiniões. Pensamos que a posição do vosso CC é muito ponderada e continuaremos a estudar o assunto».
1 comentário:
Comprei o seu livro, e faz referencia à situação que descreve e bem. Também estive com outros camaradas prontos a pegar em armas para combater a tentativa comunista aqui no norte, dada a nossa experiência da guerra colonial.
abraço
ribeiro
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