Ilarion, Metropolita de Volokolamsk
Quando soube que Ilarion, Metropolita
de Volokolamsk e dirigente da Secção Internacional da Igreja Ortodoxa Russa,
iria fazer uma palestra na Universidade Católica de Lisboa a 19 de Setembro,
decidi que não podia faltar. De tal forma que tive de levar comigo o meu neto,
pois tinha prometido ficar com ele. Como diz o povo, primeiro o dever, depois a
devoção.
Verdade seja dita, o miúdo
portou-se lindamente, embora não compreendesse muito bem o que andava para ali
a fazer.
A sala estava cheia para ouvir o
metropolita falar da situação dos cristãos no Médio Oriente, das perseguições
desencadeadas contra eles pelos terroristas islâmicos, etc. Conhecedor profundo
do problema, não revelou grandes novidades sobre o assunto, sublinhando, por
exemplo, que, agora, o essencial é conseguir meios para reconstruir o que foi
destruído durante a guerra na Síria. Considerou que não estão provadas as
acusações que são feitas contra o Presidente sírio Bashar Assad e condenou a
intervenção militar ocidental do país, justificando, ao mesmo tempo, o envio de
tropas e armas russas para lá.
No período de perguntas e
respostas, Ilarion provou porque é que está à frente do ministério dos negócios
estrangeiros da Igreja Ortodoxa Russa pela forma diplomática como respondia às
perguntas da sala. Quanto à guerra entre os patriarcados ortodoxos de
Constantinopla e de Moscovo em torno da autocefalia da Igreja Ortodoxa
Ucraniana, Ilarion reafirmou a posição negativa do Patriarcado de Moscovo, justificando-a
com o facto de os ortodoxos ucranianos não quererem independência e de este
conflito ter origem nas guerras políticas entre dirigentes ucranianos.
A Igreja Ortodoxa Ucraniana do
Patriarcado de Moscovo tem 12 000 paróquias, enquanto que as outras duas
igrejas ortodoxas que lutam pela autocefalia controlam cerca de quatro mil.
Ao falar da possível aproximação
entre católicos e ortodoxos, o metropolita Ilarion colocou como um dos obstáculos
o facto de a Igreja Católica ser universal e as ortodoxas serem nacionais. Não
será isto uma contradição com o que ele afirmou sobre a Ucrânia?
Quanto à pergunta sobre as
perseguições religiosas na Rússia, nomeadamente sobre a proibição das
actividades das Testemunhas de Jeová, ele considerou que na Rússia nunca houve
tanta liberdade religiosa como actualmente, apoiando as atitudes repressivas das
autoridades russas face às Testemunhas de Jeová com o argumento de que são uma “seita”.
Esta resposta foi recebida com efusivos aplausos da sala.
Mas talvez a maior das desilusões
da plateia tenha a ver com a questão da “consagração da Rússia a Nossa Senhora”.
Ilarion afirmou que tinha visitado Fátima e tinha ficado surpreendido com a
espiritualidade do lugar. Depois, acrescentou: “a minha opinião pessoal é que
já se cumpriu a profecia de Fátima”, frisando que não era necessário fazer mais
consagração alguma, como defendem certos círculos católicos, pois isso já teria
sido feito aquando do Baptismo da Rus no séc. X em Kiev. Além disso, o aumento
do número de fiéis e de templos ortodoxos na Rússia é uma prova de que não é necessária
nova consagração.
O Metropolita Ilarion, que, se
não ocorrerem grandes mudanças e convulsões na Rússia, deverá suceder a Kirill
I na cadeira de Patriarca de Moscovo e de todas as Rússias, defende claramente
uma aproximação mais estreita entre ortodoxos e católicos na luta pelos princípios
tradicionais cristãos e europeus, e talvez por isso tenha sido convidado a
visitar Portugal.
No entanto, alguns círculos ortodoxos
ultraconservadores não lhe perdoam essas ideias, acusando-o, nomeadamente, de “papista”
e “uniata”.
Como acontece nestes casos, muito
fico sempre por dizer porque o tempo é curto, mas foi uma conversa importante
para quem se interessa por estas coisas.
Recomendo a leitura da entrevista
que o Metropolita Ilarion deu ao “Observador”: https://observador.pt/especiais/lider-da-igreja-ortodoxa-russa-defende-putin-uso-de-armas-quimicas-na-siria-foi-encenado/.
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