Os chefes de Estado da Geórgia, Ucrânia, Azerbaijão e Moldávia decidiram dar um, novo impulso à organização internacional GUAM. Reunidos em Kiev, capital da Ucrânia, os Presidentes desses países, cujas iniciais formam precisamente o nome da organização, assinaram uma declaração intitulada "Organização pela democracia e o desenvolvimento económico: GUAM".
Em conformidade com esse documento, os Estados membros irão lutar pela garantia da democracia nos seus teritórios, bem como pela sua estabilidade e segurança. Além disso, sublinham claramente que os seus parceiros prioritários deverão ser a União Europeia e a Aliança Atlântica (NATO). Dirigentes da Lituânia, Polónia, Bulgária e Roménia já manifestaram a intenção de aderir à GUAM.
A cooperação no campo da segurança energética será outro dos vectores centrais desta organização que pretende criar um contra-peso no antigo espaço soviético em relação à Rússia. Victor Iuschenko, Presidente da Ucrânia, declarou: "O Azerbaijão tem uma exploração única de petróleo, a Ucrânia possui possibilidades únicas de transporte. Porque não juntar estes esforços?"
Segundo este plano, Kiev poderá fornecer energia eléctrica a países da região do Cáucaso e o Azerbaijão poderá transportar o seu gás para a Europa através do território ucraniano, conseguindo assim independência em relação ao diktat do Kremlin neste campo. Ilkham Aliev, Presidente do Azerbaijão, país que possui consideráveis reservas de petróleo e gás natural, relembrou o projecto do transporte de combustíveis pelo oleoduto ucraniano "Odessa-Borda", que a Polónia já manifestou o desejo de prolongar atér ao porto de Gdansk, no Mar Báltico. Desse modo, os países do GUAM deixariam de ficar dependentes da política energética do Kremlin, que a tem utilizado para manter a sua influência no território da antiga União Soviética.
Os dirigentes dos países do GUAM assinaram um acordo de criação de uma zona de comércio livre a fim de resistir à "guerra económica" declarada por Moscovo a alguns dos seus membros como a Ucrânia, Geórgia e Moldávia. Em relação a Kiev, a Rússia aumentou bruscamente o preço do seu gás natural no princípio do ano, o que provocou uma série crise nas relações russo-ucranianas. Em relação a Tbilissi e Kichinov, o Kremlin proibiu a importação de vinhos georgianos e moldavos, medida que desferiu um forte golpe nas já fracas economias da Geórgia e Moldávia.
Não foi por acaso que o Presidente da Geórgia, Mikhail Saakachvili, foi recebido em Kiev por uma campanha publicitária de rua dos vinhos georgianos. Nos posters colados em vários cantos da capital ucraniana, lê-se: "Prova o vinho da liberdade! O vinho georgiano proibido na Rússia".
Os dirigentes dos países-membros da GUAM voltaram a pôr em causa a capacidade da Comunidade de Estados Independentes, organização que reúne 12 das 15 antigas repúblicas soviéticas e onde a influência russa é dominante, de resolver problemas tão graves da região como os conflitos fronteiriços e o separatismo.
Por isso, o Presidente da Moldávia, Vladimir Boronin, chamou a atenção para o facto de a GUAM poder servir como instrumento de solução dos problemas do separatismo que afectam não só o seu país, mas também a Geórgia e o Azerbaijão. A Moldávia defronta o problema do separatismo na Transdnistria; a Geórgia na Ossétia do Sul e Abkházia; o Azerbaijão em Nagorno-Karabakh. Ora como Moscovo não esconde o seu apoio aos governos separatistas dessas regiões, a GUAM propõe-se encontrar vias de travar a desintegração territorial desses países e anular a influência russa.
Neste sentido, o resultado do referendo no Montenegro e o futuro do Kosovo provocam fortes preocupações nos dirigentes dos países da GUAM. Por exemplo, Serguei Bagapch, Presidente da autoproclamada república da Abkházia, defende que os abkhazes têm o direito, tal como os montenegrinos, de fazer um referendo para votar a separação deste território da Geórgia. Além disso, o Kremlin não esconde a intenção de se o Kosovo vier a ser reconhecido como Estado independente da Sérvia, utilizar o mesmo critério em relação aos seus aliados no poder na Abkházia, Ossétia do Sul e Transdnistria.
Moscovo tentou reagir friamente aos resultados da cimeira da GUAM, mas não esconde a sua insatisfação. "Não é tanto a GUAM que coloca interrogações, mas a demasiada abundância de organizações na região do Mar Negro. Há organizações com tradições e bases formadas. Pensamos que valeria a pena de desenvolver semelhantes organizações" - comentou Andrei Denissov, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia.
A GUAM foi criada em 1997 e, além da Geórgia, Ucrânia, Azerbaijão e Moldávia, reunia também o Uzbequistão. Este último país, porém, abandonou a organização, pois temeu o alargamento das "revoluções de veludo" ao seu território, preferindo aproximar-se da Rússia.
2 comentários:
Estimado Ricardo Lemos, a GUAM pode tornar-se num bloco de comércio interno livre e com fortes perspectivas principalmente se a ela aderirem países que já pertencem à União Europeia, como poderá ser os casos da Polónia e da Lituânia, ou que virão a integrá-la, como é o caso da Bulgária. A GUAM poderá ser mais uma ponte entre a UE e aqueles países da antiga URSS que pretendem tornam-se mais independentes em relação à Rússia. Muito também dependerá das políticas de Bruxelas em relação aos membros da GUAM, porque, por vezes, ficasse com a sensação de que a UE faz cedências à Rússia no antigo espaço soviético para não ter mais dores de cabeça com Moscovo.
Caro Sérgio, o problema aqui é dos precedentes. O que acontecerá se a União Europeia reconhecer a independência do Kosovo em relação à Sérvia? Além disso, na história encontram-se exemplos para justificar tudo. Antes de 1917, a Ossétia do Norte, a Abkházia e a Transdnístria faziam parte do Império Russo e, depois, surgiram por vontade dos bolcheviques, muitas vezes os povos eram colocados numa ou noutra república a arrepio do bom senso. Na União Soviética, as fronteiras entre as repúblicas eram administrativas e não entre Estados. Em 1991, foi decidido adoptar as fronteiras administrativas na divisão da URSS, mas ficaram vários casos por resolver. Aos de que já falei, acrescento o caso de Nagorno Karabakh.
Isto não quer dizer, porém, que a Rússia só irá ter dividendos. Pelo contrário, poderá vir a ter graves problemas no seu seio.
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