Esse é o título de uma exposição que se irá realizar no Museu de História Contemporânea da Rússia entre 23 e 28 do corrente mês e que será dedicada à presença de soviéticos e russos em Angola. O evento, organizado pelo Ministério da Cultura e Comunicações de Massas, pela Agência Federal para a Cultura e o Cinema, pelo Museu Central de História Contemporânea da Rússia e pela União dos Veteranos de Angola, pretende "contar a verdade sobre a participação dos nossos especialistas militares na guerra em Angola entre 1975 e 1990, sobre a nossa ajuda na formação das suas forças armadas".
Segundo a União de Veteranos de Angola, entre 1975 e 1992, por Angola passaram cerca de 11 mil conselheiros, especialistas e tradutores militares soviéticos. A direcção da União Soviética, ao mesmo tempo, declarava oficialmente que "os conselheiros militares soviéticos não participam em acções de combate".
Os organizadores da exposição prometem apresentar, entre muitas outras coisas, "fotografias e documentos do sargento Nikolai Pestretsov, feito prisioneiro pelas tropas sul-africanos em Angola e que esteve na prisão ano e meio, o colete furado por uma bala de um observador militar russo das Nações Unidas, originais de telegramas cifrados do Principal Conselheiro Militar em Angola para a direcção do Ministério da Defesa da URSS, documentos com o autógrafo do primeiro Presidente de Angola independente, Agostinho Neto".
A frase que serve de lema da exposição: "Regou o sangue russo terras de Angola?" foi retirada da canção "Vós poderieis não ter estado aí", composta por conselheiros militares russos na cidade de Quinto-Quanavale. Nos seus arredores teve lugar, em 1987-1988, pesados combates entre as tropas angolanas e cubanas, de um lado, e as sul-africanas, de outro. Por isso, os conselheiros militares russos chamaram a esse lugar "Estalinegrado angolano", fazendo o paralelo entre esses combates e uma das maiores batalhas da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Início do apoio soviético a Angola
Piotr Nikitovitch Evsiukov, funcionário responsável da Secção Internacional do Comité Central do Partido Comunista da União Soviética, foi o homem que durante 15 anos dirigiu os contactos entre o Kremlin e os movimentos de libertação nacional nas antigas colónias portuguesas.
Conhecido entre os dirigentes africanos como Camarada Pedro, é Evsiukov que recebe em Moscovo, na segunda metade de 1961, Mário Andrade e Viriato Cruz, dirigentes do MPLA(Movimento Popular de Libertação de Angola). Alguns meses depois, Agostinho Neto sai clandestinamente de Portugal e é também recebido na capital soviética. "As conversações tiveram bastante êxito" - recordou Evsiukov o seu primeiro encontro com o futuro Presidente de Angola.
Os dirigentes soviéticos só reconheceram publicamente que apoiavam materialmente os movimentos de guerrilha nas colónias portuguesas em 1971, depois da Conferência de Roma, onde participaram, além de Agostinho Neto, Amílcar Cabral, dirigente do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), e Marcelino dos Santos, da direcção da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique). Segundo os arquivos soviéticos, em 1963, Moscovo apoiou o MPLA com 50 mil dólares, mas, dez anos depois, esse número já rondava os 220 mil. No mesmo ano, o PAIGC recebeu 150 mil e a Frelimo 85 mil dólares. Estas somas eram canalizadas através do Fundo Sindical Internacional de Ajuda às Organizações Operárias de Esquerda.
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