As autoridades russas chegaram à conclusão que a Rússia só pode concorrer com êxito no mercado internacional do átomo com fins pacíficos (energia nuclear) se for representada por uma só empresa.
"A Rússia não pode mais sair para o mercado internacional dividida em partes", declarou Serguei Kirienko, director da Rosatom, a maior empresa pública russa no campo da energia nuclear, numa conferência da Sociedade Nuclear da Rússia, realizada em Moscovo.Segundo Kirienko, "a Rússia, neste mercado internacional, deve apresentar-se como uma companhia integrada única, um análogo da Gazprom. O nome possível da futura empresa deverá ser Atomprom, que poderá concorrer com empresas como a Siemens da Alemanha ou a Toshiba Cor. do Japão".
A Gazprom, a maior empresa pública russa, detém o monopólio da exploração e exportação do gás natural russo para o estrangeiro, o que permite um controlo total deste negócio por parte do Kremlin.O esquema de Kirienko, que só foi revelado depois de aprovado pelo Presidente Putin, visa submeter ao consórcio Rosatom todas as empresas públicas que trabalhavam no mercado do átomo civil e, frequentemente, concorriam umas com as outras. Entre elas está a ZAO Atomstroieksport, que, actualmente, é a única empresa no mundo que constrói, simultaneamente, cinco reactores nucleares na China, Índia e Irão.
Central nuclear iraniana pronta em 2007
O director da Rosatom aproveitou a oportunidade para anunciar que a Rússia vai respeitar os prazos de um dos mais polémicos contratos nesta área: a construção da central nuclear de Busher, no Irão. "Os nossos colegas iranianos queriam que ela fosse construída mais depressa, mas vamos trabalhar segundo o gráfico acordado", declarou Kirienko, precisando que "a central nuclear entrará em funcionamento em 2007". E, como vem sendo cada vez mais costume nestas ocasiões, os altos funcionários russos competem na tarefa de "lançar farpas" à União Europeia e aos Estados Unidos da América. Kirienko sublinhou: "Pode-se gostar disto ou não, mas o gráfico de construção de obras como centrais atómicas não é objecto de discussão política."
Todas estas medidas fazem parte de um plano de reestruturação radical da indústria nuclear que, segundo Kirienko, também prevê a concentração da extração de urânio no país numa empresa pública. "É indispensável formar uma companhia única que reúna todas as empresas que extraem urânio na Rússia", frisou Kirienko, acrescentando que "semelhante companhia poderia trabalhar em todo o mundo".Planos destes não surgem por acaso na Rússia, tanto mais que na cimeira dos oito países mais industrializados do mundo (G8), que se realizará em meados de Julho em São Petersburgo, Putin quer ver no centro da ordem de trabalhos o problema da "segurança energética mundial".
O poderio russo neste campo está a ser utilizado para que a voz do Kremlin seja cada vez mais ouvida no mundo, quer haja ou não democracia na Rússia.Ao mesmo tempo, a Rússia transforma-se cada vez mais num Estado corporativo, onde os sectores fundamentais da economia se encontram nas mãos de grandes empresas públicas e são uma alavanca de influência do poder, tanto no campo interno, como externo.
1 comentário:
Muito boa sua reportagem, ajudou-me muito em uma pesquisa sobre energia nuclear. Continue assim!
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