Evgueni Primakov, actual presidente da Câmara do Comércio e da Indústria da Rússia, antigo jornalista e agente dos serviços secretos soviéticos em vários países árabes, considera que entre o Líbano e Israel tem lugar uma “verdadeira guerra”, onde poderão envolver-se outros países. Segundo ele, a evacuação de refugiados pelos países ocidentais do Líbano é um facto preocupante: “Isso significa que estão à espera de uma grande guerra, de outro modo, não haveria evacuação em massa”.
O antigo Primeiro-ministro russo, que quando voava em visita oficial aos Estados Unidos voltou para trás por Washington ter avançado com a invasão do Iraque, acusa Israel de ter “exagerado” na operação antiterrorista, concretizando que as tropas israelitas destroem as infraestruturas não do Hazzbolah, mas do Líbano e que nas operações militares morreram mais de 200 civis e apenas foram liquidados oito membros do Hazzbolah.
“Receio que nesta guerra se poderão envolver outros países” – sublinha Primakov, considerado um dos melhores especialistas russos em Médio Oriente.
Evgueni Primakov chama também atenção para outro factor preocupante: uma recente declaração de George W. Bush, Presidente norte-americano, que disse: “o mundo deve tratar do Hazzbollah e da Síria, bem como continuar a isolar o Irão”.
Segundo o político russo, “o envio de forças das Nações Unidas é indispensável para separar as partes e criar condições para as conversações”.
“Evolução” do Hazzbolah e do Hamas
Evgueni Primakov, que também dirigiu os serviços secretos externos russos (SVR), é da opinião que a direcção de Israel não teve paciência para “entrar na via da regularização política através de contactos com representantes do Hamas e Hazbollah. “Se os dirigentes israelitas tivessem um pouquinho mais de paciência, talvez fosse possível levar as coisas no sentido da evolução do Hamas e Hazzbollah” – afirmou ele.
Primakov revelou que, durante a visita da delegação do Hamas a Moscovo, no início de Março passado, os seus representantes “não excluiram conversções sobre o Mapa do Caminho”. Quanto ao Hazzbolah, ele assinalou que a organização militar se afastou desse movimento em 1992 e que, agora, também é um partido “que mudem significativamente o seu programa”.
“As acções do movimento Hazzbolah, que provocaram a escalada do conflito e a agressão de Israel, não foram provocadas nem pela Síria, nem pelo Irão” – defende Primakov, e pormenoriza: “o Hazzbolah tem realmente ligações com Damasco e Teerão. Porém, o Irão, hoje, encontra-se numa situação difícil devido ao envio do dossier nuclear para o Conselho de Segurança da ONU e é-lhe desvantajoso abrir a “segunda frente”.
Quanto à Síria, Primakov diz que “ela também nunca quis combater sozinha contra Israel”.
Ao mesmo tempo que considera que “a acção do Hazzbolah não pode ser apoiada mesmo que nas prisões de Israel se encontrem numerosos homens seus”, Primakov sublinha que esse movimento tem “armas suficientes para realizar acções militares bem sucedidas, nomeadamente operações de guerrilha”.
(1) A publicação das declarações de Evgueni Primakov não significa que estejemos de acordo com elas. Achámos por bem publicá-las, porque são feitas por uma pessoa que tem um peso significativo na elaboração da política russa no Médio Oriente e o Kremlin pretende ser uma das potências com forte influência nessa região.
2 comentários:
Não é que seja o advogado de defesa do José Milhazes, nem sequer nos conhecemos, mas queria defender a posição do José Milhazes em relação ao que foi comentado anteriormente. Não vejo que o José Milhazes tenha feito mal em escrever a referida nota de rodapé que acompanha o artigo. Um blog não é um jornal on-line, em geral um blog é entendido como uma espaço de expressão pessoal do autor, não está propriamente sujeito às premissas de um jornal em que se requer total isenção e impessoalidade tanto quanto possível do jornalista. Daí encontrarem-se aqui artigos totalmente afastados da vertente jornalística, poemas, etc.
É claro, o facto do José Milhazes ser jornalista e o próprio blog ser patrocinado pelo jornal Público pode levar as pessoas a certas confusões.
Estimado leitor Zé, o Sr. que se subscreve com o pseudónimo Mikolik expressou uma opinião semelhante à nossa quanto à nota de rodapé.Decidimos publicar as declarações de Primakov, porque muitos dos leitores não as podiam ler em russo e achamos importante que as pessoas conheçam opiniões com peso na Rússia. Cumprimentos. JMlhazes
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