Kremlin não quer "democracia" à Iraque e vê adiada a sua adesão à Organização Mundial do Comércio
Enquanto não chegavam os restantes participantes da cimeira do G8, os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e dos Estados Unidos, George W.Bush, decidiram pôr "a conversa em dia" no que respeita às relações bilaterais e aos problemas mundiais.Ambos os chefes de Estado, após uma reunião que durou duas horas no Palácio de Constantino, realizaram uma conferência de imprensa onde manifestaram a sua preocupação face à violência no Médio Oriente (ver textos nestas páginas). Bush insistiu em que o responsável pela violência é o movimento extremista Hebollah que "lançou ataques de mísseis a partir do território libanês contra Israel e capturou dois soldados". E exorta "o Hezbollah a depor as armas e entregar os reféns". Bush lançou um apelo à Síria, a quem acusa de proteger a milícia shiita libanesa, para que "exerça a sua influência".Em todas as suas declarações sobre a crise Bush defendeu abertamente Israel, e assegurou que o Hezbollah "decidiu impedir a solução que permite aos dois Estados - Israel e Palestina - que convivam em paz".Vladimir Putin, pelo contrário, foi mais crítico face à resposta israelita. Esteve de acordo com Bush no ponto em que é "inaceitável que [o Hezbollah] tente alcançar objectivos políticos através da violência, atacando um Estado a partir do território de outro país". Porém, o dirigente russo acrescentou que "o uso da força deveria ser equilibrado" e "deve-se pôr imediatamente fim ao derramamento de sangue". Espera-se que os países do G-8 abordem a crise no Médio Oriente e aprovem uma declaração conjunta.
Entrada russa na OMC falhou
Bush e Putin não assinaram o acordo que permitiria à Rússia fazer parte da Organização Mundial do Comércio. "Só restam alguns pontos", mas são de princípio e nenhuma das partes está disposta a ceder", declarou German Greff, ministro da Economia da Rússia.A sua homóloga norte-americana, Susan Schwab, esclareceu que "foram conseguidos enormes progressos nos últimos dias e estão praticamente encerrados os dossiers dos serviços e indústria" e "avanços no que respeita aos direitos da propriedade intelectual". Mas continuam a existir obstáculos nos "processos sanitário e fito-sanitário para permitir o aumento da exportação de produtos agrícolas e gado dos EUA para a Rússia".
Os dirigentes russo e americano conseguiram um importante acordo no campo nuclear ao decidirem-se pela criação de um sistema que dê acesso a todos os Estados à energia nuclear, ao mesmo tempo que proteja contra a proliferação de armas atómicas."Acreditamos que isso será possível depois da criação de centros internacionais de enriquecimento de urânio sob o controlo estrito da Agência Internacional de Energia Atómica".
À margem do encontro, Serguei Kirienko, chefe da Agência Atómica da Rússia, anunciou que o primeiro centro internacional de enriquecimento de urânio será criado em território russo, em Angarsk, perto do lago Baikal.
A "segurança energética internacional" é um dos temas propostos pelo anfitrião russo para a cimeira, onde os programas nucleares do Irão e da Coreia de Norte serão outro dos assuntos centrais.Putin declarou que "não vamos participar numa cruzada, nem criar nenhuma Santa Aliança, mas vamos colaborar com os nossos parceiros para que o mundo seja um lugar mais seguro".A proliferação, concretizou o dirigente russo, "não convém aos interesses da Rússia, sobretudo numa zona tão explosiva como o Médio Oriente e isso dizemos sempre ao Irão".
Outro dos temas abordado no encontro bilateral foi o do estado da democracia na Rússia, um assunto sobre o qual Washington expressou preocupação e que Bush prometera abordá-lo "em privado".
"Não quero para o meu país uma democracia como no Iraque", sublinhou Putin, provocando forte gargalhada dos jornalistas. O Presidente russo replicou assim a Bush, que declara antes: "Falei do meu desejo de contribuir para o desenvolvimento da democracia em diferentes países do mundo, como foi no Iraque, onde há liberdade de religião e liberdade de expressão. Muitos gostariam que semelhante democracia existisse também na Rússia". Depois da réplica de Putin, Bush concluiu: "a democracia que há na Rússia será uma democracia ao estilo russo. Putin é um homem forte que está disposto a ouvir, mas não quer que lhe digam como deve governar".
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