Rússia aceitou fornecer à Venezuela 24 caças Su-30 e 53 helicópteros, apesar das objecções dos EUA
Os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da Venezuela, Hugo Chávez, selaram ontem vários acordos que reforçam significativamente os laços energéticos e militares entre os dois países. Numa rápida conferência de imprensa na Sala de Malaquite do Grande Palácio do Kremlin, anfitrião e visitante não responderam a perguntas nem deram pormenores sobre os contratos assinados. Realçaram apenas a cooperação bilateral na exploração e transporte de petróleo e gás.
Os detalhes foram fornecidos por Serguei Tchemezov, director do consórcio público russo Rosoboronexport, que calculou em 3000 milhões de dólares o valor da venda de 24 caças SU-30 e 53 helicópteros a Caracas, negociados por Moscovo no último ano e meio.
Chávez agradeceu "infinitamente" a Putin "os avanços extraordinários no campo da cooperação militar. "A Rússia estendeu-nos a mão e o povo venezuelano, no passado dia 5 de Julho - Dia da Independência - sentiu-se feliz quando dois SU-30 rasgaram os céus livres da Venezuela", declarou.
Putin, por seu lado, garantiu que a cooperação militar bilateral "não está virada contra terceiros e tem como único objectivo beneficiar a economia de ambos os países e elevar o nível de vida dos seus povos". Tentou assim acalmar a Administração norte-americana, que pedira várias vezes a Moscovo para não fornecer armas à Venezuela, receando que muitas delas irão parar às mãos de movimentos de guerrilha de esquerda na América Latina.
Chávez não tranquilizou Washington. Ao discursar na cerimónia de inauguração de um monumento a Simon Bolívar na Biblioteca de Línguas Estrangeiras de Moscovo, o líder a quem os russos já chamam "Capitão Chá" (em comparação com Che Guevara) declarou: "O império dos Estados Unidos é a maior ameaça que existe. Trata-se de um gigante inútil, cego, estúpido, que não compreende o mundo, os direitos humanos, não compreende nada na humanidade, da cultura, da consciência."
Dos acordos de cooperação militar russo-venezuelanos destaca-se a construção, na Venezuela, de uma fábrica de metralhadoras Kalachnikov e de munições no valor de 200 milhões de dólares. No ano passado, Caracas adquiriu 100 mil Kalachnikov, das quais 30 mil foram entregues em Junho passado.
Hugo Chávez congratulou-se também com os acordos que prevêem a participação da companhia petrolífera privada russa Lukoil e do consórcio público de gás Gazprom na exploração de hidrocarbonetos na Venezuela, "em terra firme e no mar", acrescentando que as reservas de petróleo do seu país duplicaram e superaram as da Arábia Saudita."A Venezuela e a Rússia são áreas estratégicas para o desenvolvimento do mundo", concluiu o aliado de Putin, aludindo às riquezas em gás e petróleo dos dois países.
O chefe de Estado russo salientou que "o florescimento" das relações entre os dois países se deve à situação actual da economia venezuelana. "Uma taxa de crescimento anual de 8 por cento deixa invejoso qualquer país", sublinhou o dirigente do Kremlin, garantido que a Rússia, enquanto Estado, dará apoio às empresas nacionais que investirem na Venezuela."Trata-se de centenas de milhões e milhares de milhões de dólares de investimentos", concluiu Putin, violando uma recente lei russa que proíbe utilizar os termos "dólares" e "euros" em declarações oficiais e obriga a cambiar tudo para "rublos".
Chávez manifestou ainda o interesse da Venezuela na participação da Gazprom no projecto Gasoduto do Sul, que terá cerca de 8000 quilómetros e poderá custar 20 milhões de dólares, através do qual será transportado gás desde a Venezuela até ao Rio da Prata.
Depois de tantas encomendas e contratos, Putin não podia deixar de retribuir ao seu homólogo venezuelano, considerando de "legítima aspiração" o desejo de Caracas ocupar um lugar como membro não permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
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