sábado, agosto 12, 2006

Génios da pintura universal com "casa nova" em Moscovo


Afinal, nem tudo são más notícias na vida dos museus russos. As novas vindas da Rússia sobre estes "depósitos" do saber e arte da Humanidade não se limitam ao desaparecimento de obras das suas entranhas, como tem acontecido nas últimas semanas. Há também boas novas, e a principal é que o Museu Puschkin de Moscovo decidiu abrir uma nova galeria com génios da pintura e escultura mundial como Goya, Picasso, Van Gogh, Renoir, Degas, Gauguin ou Kandinski.
"Na nova galeria há lugar para todos: desde os românticos do início do séc. XIX até aos impressionistas e à vanguarda do séc. XX, da escola europeia à norte-americana e latino-americana" - declarou Irina Antonova, directora do Museu Puschkin.
Quem já esteve em Moscovo e visitou esse museu, pôde apreciar algumas dessas obras, mas, a partir de agora, tem a possibilidade de ver essas e muitas outras obras-primas na Galeria de Arte da Europa e América do séc. XIX-XX, situada num palacete ao lado do museu, que antes se chamava Museu das Colecções Particulares. Estão lá representadas praticamente todas as correntes da arte desses dois séculos: Romantismo, Impressionismo, Pontilismo, Cubismo, Fauvismo, Surrealismo e Simbolismo.
Como é que todas estas riquezas culturais da Europa Ocidental, América do Norte e América Latina foram ter à Rússia?
Os nobres e burgueses russos eram atentos coleccionadores e mecenas. Industriais como Serguei Schukin ou Ivan Morozov foram dos primeiros a dar valor às telas dos impressionistas francesas, daí a explicação para a grande quantidade de quadros desta corrente artística no novo museu. As 413 telas impressionistas ocupam o maior número de salas da nova galeria. E, neste caso, a quantidade em nada prejudica a qualidade, bem pelo contrário. É impossível ficar indiferente à obra "Recreio no pátio de uma prisão" (1890) de Van Gogh ou a telas do mesmo mestre holandês como "O vinhedo vermelho" de Arlés (1888) ou "O retrato do Doutor Rey"(1889), para já não falar do "Auto-retrato" do pintor com a orelha esquerda ensanguentada.
Pierre-Auguste Renoir (1814-1919) está representado por telas como "Sob as árvores de la Moullin de la Galette" (1875), "No jardim" (1875); Degas, o impressionista do movimento, está lá presente com "As bailarinas"; Claude Monet, o mais putrista dos impressionistas, com uma obra da série "Lírios brancos na água" (1899) e "A Catedral de Rouen" e "Pic-nic no campo" (1866). O mais ecléctico dos impressionistas, Paul Gauguin, mostra-nos a beleza das indígenas do Haiti, enquanto que Paul Cezanne está presente com "Homem fumando cachimbo" (1896).
A enumeração de impressionistas seria bem mais longa, mas à já sonora lista apenas acrescentamos Eduard Manet, Toulouse-Laurec e Pissarro.
O pai da pintura moderna, o espanhol Pablo Picasso, também está bem presente com doze telas, entre as quais se destaca as obras do "período azul": "Menina em cima da bola" (1905), "O Arlequino e os saltimbancos" (1901) e "O velho judeu" (1903), bem como o cubismo no seu máximo em "O violino" (1912) e retratos como "Mulher de Maiorca" (1905) e "Retrato de Jaume Sabartés" (1901).
Da escola espanhola, também vemos na nova galeria obras de Francisco Goya, o percursor da pintura moderna: "O Carnaval" e "Lola Jiménez."
Andando mais para a frente nesta verdadeira máquina do tempo artístico, encontramos obras do judeu bielorrusso Marc Chagall ("O artista e sua esposa" e "Cavalo Branco"), de Giorgio de Chirico com "A grande torrre" (1921) e do mexicano Diego Rivera. O russo Vassili Kandinski faz-nos entrar na vanguarda da abstracção do séc. XX com quadros como "Azul sobre multicolor" (1925) e "Firebird" (1916).
E, no fim da exposição, espera-nos mais uma agradável surpresa, esculturas do grande Auguste Rodin: O beijo", "Eterna Primavera" e "Eva".
Lénine e Estaline não tiveram tempo de vender tudo
Esta colecção poderia ter muitas mais obras não fora a política criminosa realizada pelas autoridades soviéticas de vender ao desbarato, nos anos 20 e 30 do séc. XX, parte do valioso recheio dos museus Puschkin de Moscovo e Ermitage de São Petersburgo a magnatas estrangeiros. Neste sentido, os portugueses foram dos que saíram beneficiados com a pilhagem comunista, visto que algumas dessas obras-primas foram adquiridas pelo magnata arménio Calouste Gulbenkian e agora podem ser admiradas no museu da sua fundação (na foto, "Figura de velho" de Rembrandt Harmensz van Rijn (1606-1669)).
Mas muito ainda ficou na União Soviética, embora "fechado a sete-chaves" por constituir "arte burguesa". Por exemplo, não obstante Pablo Picasso ter sido comunista e não ter poupado elogios a José Estaline, "a barata bigodeira" (como chamou ao ditador comunista o poeta Iossif Mandelchtam) nunca permitiu a exposição pública de telas desse pintor espanhol.
Felizmente os tempos mudaram e os milhares de quadros, esculturas, outra escondidos, voltam a ver a luz do dia. Por isso, quando for a Moscovo, não deixe de visitar esta nova galeria, fica a algumas centenas de metros do Kremlin.

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