O Presidente da Ucrânia, Victor Iuschenko, renunciou, durante a madrugada, a dissolver a Rada Suprema (Parlamento) da Ucrânia e aceitou apresentar o seu mais renhido opositor, Victor Ianukovitch, como candidato a Primeiro-ministro.
Iuschenko tomou essa decisão depois do Partido das Regiões, dirigido por Ianukovitch, ter assinado o pacto de unidade nacional proposto pelo Chefe de Estado com o objectivo de garantir o carácter invariável da sua política externa e interna.
O Presidente ucraniano fez o anúncio à meia-noite, quando terminou o prazo para que se decidisse sobre a candidatura de Ianukovitch, apresentada por uma coligação da oposição pró-russa, ou optasse pela dissolução do Parlamento e a convocação de novas eleições.
"Considero que esta decisão nos dá uma nova oportunidade de unir o país" - declarou Iuschenko em alusão às regiões ocidentais da Ucrânia que o apoiam a ele e à sua política de aproximação à Europa, e ao Leste pró-russo que apoia o seu rival, sublinhando que essa divisão do país em "dois pólos" é uma "realidade" que se manteria em caso de novas eleições, enquanto que é seu desejo "unir as duas margens do Dniepre" através de um compromisso político, por mais difícil que seja a sua aceitação pelos partidários mais intransigentes de ambos os dirigentes.
Iuschenko acrescentou que a assinatura do seu pacto de unidade nacional por Ianukovitch, político pró-russo e seu rival nas presidenciais de 2004, compromete a ele e à sua coligação da oposição aceitar metas políticas como o ingresso do país na Organização Mundial do Comércio, na União Europeia e na NATO, o principal pomo da discórdia.
A crise política começou em Março deste ano, quando as eleições parlamentares não deram maioria a nenhuma das forças políticas ucranianas. Os partidos que, em 2004, realizaram a Revolução Laranja e elegeram Iuschenko Presidente - o Partido Nossa Ucrânia, o Bloco de Iulia Timochenko e o Partido Socialista - conquistaram, em conjunto, a maioria e decidiram formar governo.
No entanto, um deles, o Partido Socialista, acabou por passar para o lado da oposição pró-russa em troca de ser oferecido o seu líder, Alexandre Moroz, o posto de presidente da Rada (Parlamento).Isto criou uma nova correlação de forças na assembleia legislativa.
Com o apoio dos socialistas, as forças políticas pró-russas - Partido das Regiões e Partido Comunista - passaram a ter a maioria. Apresentando a Constituição da Ucrânia como base das suas pretensões, propuseram Victor Ianukovitch, adversário de Iuschenko nas presidenciais de 2004, para assumir a pasta de primeiro-ministro.O Presidente Iuschenko, apoiando-se também na Lei Suprema, respondeu que apresentar à Rada, para aprovação, o candidato a primeiro-ministro apoiado pela maioria parlamentar é uma "faculdade", mas não uma "obrigação" do Chefe de Estado, que tem direito a declinar essa candidatura.
Depois de aturadas e difíceis conversações, Iuschenko não avançou para a dissolução do Parlamento e para novas eleições, temendo a desintegração do país. Além disso, o Presidente conseguiu do seu maior rival compromissos políticos importantes e avançou para uma solução que lhe pode custar sérios dividendos políticos: apresentar a candidatura de Ianukovitch para chefiar o Governo.
No entanto, a assinatura do pacto de unidade nacional por Ianukovitch não significa ainda que todas as forças da oposição o vão assinar. O Partido Comunista não deverá seguir o exemplo do Partido das Regiões, pois é contra a adesão da Ucrânia à NATO.
Por isso, pode ficar de fora da nova coligação, sendo esse lugar preenchido pelo Partido Nossa Ucrânia, de Victor Iuschenko, que partricipará na distribuição de pastas e cargos no Governo e no Parlamento.
Iúlia Timochenko, a Joana d'Arc da "revolução laranja", passa para a oposição com os olhos postos nas próximas eleições presidenciais de 2008.
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