quarta-feira, agosto 09, 2006

Obras de arte continuam a desaparecer de museus russos

A sala de leilões Christie's anulou a venda de nove desenhos de projectos de edifícios públicos assinados por um dos expoentes máximos do movimento construtivista russo, o arquitecto Iakov Tchernikhov (1889-1951), depois de se ter descoberto que essas obras tinham sido roubadas do Arquivo de Literatura e Arte da Rússia.
Para o aumento do valor dos desenhos contribui o facto de este arquitecto ter criado obras de vanguarda que, devido às limitações do "realismo socialista" imposto pelo ditador comunista José Estaline, nunca "terem saído do papel". O grande público conhecia-os como ilustrações dos vários livros escritos pelo arquitecto Iakov Tchernikhov: "A Arte do Esboço" (1927), "Desenho Geométrico" (1928), "Bases da Arquitectura Moderna" (1930), "Fantasias Arquitectónicas" (1933).
A notícia do roubo de desenhos de Tchernikhov surgiu uma semana depois de ter sido anunciado o desaparecimento de mais de 200 valiosas peças do Museu Hermitage de São Petersburgo. "Praticamente em cada leilão de arte russa, realizado pelas grandes casas no estrangeiro, são encontradas obras roubadas" - reconheceu Mikhail Piotrovski, director desse museu.
Um neto do arquitecto, Andre Tchernikhov, declarou que ao saber que algumas das obras do seu avô iam ser vendidas em Londres, consultou o catálogo por Internet e identificou seis delas como pertencentes ao Arquivo de Literatura e Arte da Rússia. Segundo Catherine Mason, porta-voz de Christie's, Andrei Tchernikhov tinha, no início, manifestado dúvidas sobre a autenticidade de apenas dois desenhos e, como para a casa de leilões não havia dúvidas sobre a autoria, decidiu proceder à venda, que teve lugar no passado 22 de Junho em Londres. A Christie's vendeu nove desenhos em cinco lotes por cerca de 50 mil euros, mas, posteriormente, cancelou a venda ao constatar que o vendedor não estava facultado para essa operação e devolveu às Rússia as obras roubadas.
Mais tarde, quando os funcionários do Arquivo de Literatura e Arte da Rússia decidiram ir verificar as pastas com obras do arquiteto, descobriram que pelo menos 700 originais tinham saido substituídas por cópias, e de má qualidade. A Rádio Eco de Moscovo fala em 2.500 obras desaparecidas, que valem vários milhões de euros.
A gravidade do problema do desaparecimento de obras de arte dos museus e bibliotecas russas consiste também no facto de os crimes serem cometidos por funcionários das próprias instituições e por existir um mau controlo dentro delas. "Os nossos museus mergulharam numa actividade intensa de exposições, passaram a prestar maior atenção à propaganda da nossa arte, dos nossos valores culturais, nomeadamente no estrangeiro. E os problemas da contabilização das obras passou para segundo plano" - comentou Anatoli Vilkov, vice-presidente do Serviço Federal de Protecção das Obras de Arte da Rússia.
As inventarizações noutros museus e bibliotecas certamente irão mostrar roubos e desvios de obras de arte dos museus e bibliotecas russas. Aquando da desintegração da União Soviética, o período de confusão pode ter sido utilizado para roubar obras de arte e documentos valiosos, tanto mais que a procura tem vindo a aumentar. Os novos ricos investem fortemente na arte, principalmente na russa, o que é bem visível no aumento vertiginoso de lojas de antiguidades e galerias em Moscovo e noutras cidades russas.
Esta "sede" fez também aumentar o mercado de obras de arte falsificadas. No ano passado, foram detidos os donos de uma galeria de pintura da capital russa que retocavam pinturas de mestres europeus menores dos séc. XVIII e XIX, davam-lhes um "ar russo", substituíam as assinaturas do pintor por autógrafos de pintores russos e vendiam-nas a alto preço. Então, falou-se que a fraude foi descoberta quando uma das obras falsificadas foi parar à colecção privada do Presidente Putin.
Publicamos algumas das obras de Iakov Tchernikhov.






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