domingo, setembro 03, 2006

Ensino do cristianismo ortodoxo nas escolas da Rússia provoca protestos de outras confissões



O ensino obrigatório das bases da cultura ortodoxa nas escolas da Federação da Rússia está a provocar duras reacções de outros credos religiosos. Num país onde vivem mais de cem povos e etnias, que seguem as mais diversas religiões e crenças, esta polémica poderá ser mais um perigoso rastilho no “barril de pólvora” criado nas relações entre alguns povos.
O Conselho Islâmico da Rússia exigiu a implantação da disciplina “A Cultura Islâmica” em regiões de maioria muçulmana, respondendo assim à decisão das autoridades de Moscovo de impôr a obrigatoriedade do estudo de “A Cultura Ortodoxa” nas escolas públicas da Federação.
“O Conselho de Muftis insiste na necessidade de perservar as escolas do confronto religioso” – lê-se num comunicado difundido por esse órgão de direcção dos muçulmanos da Rússia, que acrescenta: “já que não se respeita o princípio da igualdade das confissões religiosas, como manda o senso comum, vemo-nos forçados a exigir o ensino obrigatório do Islão. Caso contrário, a implantação das “Bases Ortodoxas” converte-se em propaganda da superioridade de uma religião sobre as restantes”.
Os judeus russos tomaram posição análoga. “Em conformidade com a Lei da Liberdade de Consciência, a disciplina “Cultura Ortodoxa” só pode ser voluntária” – defende o Congresso das Organizações Religiosas Hebraicas da Rússia, exortando os judeus a “informar dos casos de assistência forçada às aulas dessa disciplina”, bem como da marcação para os Sábados (dia sagrado de descanso semanal entre os judeus) de exames e testes.
Anatoli Pchelitsev, director do Instituto da Religião e Direito, constatou que, nos manuais do Distrito de Smolensk, entre as seitas estão confissões como Velhos Crentes Ortodoxos, protestantes e católicos. Noutras regiões, o budismo e o islamismo também surgem na “lista negra” ortodoxa.
Os defensores da inovação nas escolas da Rússia afirmam que os manuais e a disciplina poderão ter em conta as “particularidades locais”, mas semelhante posição não convence os seguidores das restantes religiões
O diário Gazeta teve acesso ao texto do manual “Bases da Cultura Ortodoxa”, onde, nomeadamente, se escreve: “Só num templo ortodoxo se pode aceder à graça de Deus”.
“Em princípio, não se viola a lei, mas o espírito da nossa Constituição dita que o ensino deve ser laico como é o nosso Estado” – declara Vladimir Lukin, chefe da Comissão de Desefa dos Direitos Humanos junto da Presidência da Rússia, defendendo que “nas escolas públicas dever-se-ia leccionar a história de todas as religiões, sobretudo as existentes na Rússia”.

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