quarta-feira, setembro 13, 2006

"Filho de burro não pode ser cavalo"


Lembrei-me deste provérbio português, muitas vezes citado pelo meu pai, a propósito de um artigo, publicado pela Dra. Maria Filomena Mónica na revista Pública de Domingo passado, onde escreve: "a mobilidade social é diminuta, o que significa que os filhos dos pobres continuam a não ter oportunidades de subir na vida", e conclui: "se um jovem português quiser subir na vida, o seu primeiro cuidado deve consistir na escolha dos pais". Não obstante todas as mudanças políticas realizadas em Portugal depois do 25 de Abril de 1974, as palavras desta socióloga e escritora deverão continuar a ser válidas durante muito tempo.
Não sei que país copia o outro, se Portugal a Rússia, ou vice-versa, mas o facto é que também aqui essa praga alarga-se à medida que se consolida a nova élite política e económica russa. Talvez seja mais correcto afirmar que os "novos russos" mais não fazem do que copiar a velha nomenclatura comunista soviética, que nunca se esqueciam dos seus filhos. Um pequeno soviético chega à beira do seu avô, um marechal, e pergunta-lhe: "Avô, quando eu for grande poderei ser marechal?". O avô responde-lhe: "Claro que sim!". "E almirante!" - retorquiu ele. "Almirante não, porque os almirantes têm os seus netos!".
Andrei, o filho mais novo de Nikolai Patruchev, chefe do Serviço Federal de Segurança da Rússia (ex-KGB soviético), foi nomeado conselheiro do presidente do conselho de directores da petrolífera "Rosnefti", Igor Setchin (na foto), também saído dos serviços secretos soviéticos e russos [Setchin trabalhou para os serviços secretos soviéticos em Angola e Moçambique, fala excelentemente português].
Esta nomeação ocorre numa altura em que se começa a falar da privatização da "Rosnefti", empresa pública que ficou com a maior parte dos activos de outra petrolífera, YUKOS, depois de o seu patrão, Mikhail Khodorkovski, ter sido condenado a 9 anos de prisão e privado de parte significativa da sua fortuna.
Por outro lado, os analistas chamam a atenção para o facto da nomeação de Patruchev-júnior, 25 anos, também educado na Academia do Serviço Federal de Segurança da Rússia, significar também um reforço dos serviços secretos na direcção das grandes empresas públicas russas numa altura em que se começa a falar das figuras que poderão suceder a Vladimir Putin no cargo de Presidente da Rússia em 2008. Segundo o diário "Kommersant", o jovem "empresário" ocupou, até hoje, o cargo de vice-chefe da 9ª secção da Direcção "Indústria" do Serviço Federal de Segurança, que controla as movimentações no sector petrolífero do país.
Num fim da semana passada, Igor Chuvalov, assessor de Vladimir Putin, queixou-se, num encontro com politólogos estrangeiros, do perigo de privatização da "Rosnefti" nos interesses dos "siloviki" (homens dos serviços secretos) no Kremlin e da fusão dessa nova "oligarquia" com o mundo do petróleo.

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