Iúri Siomin, treinador que, no passado mês de Agosto, abandonou o comando da equipa do Dínamo de Moscovo, a ainda mais luso-brasileira do campeonato russo de futebol, deu uma entrevista ao diário desportivo Sport Express, onde “arrasa” os legionários do clube, nomeadamente os portugueses e brasileiros. Nem o agente dos jogadores escapa às críticas de Siomin.
Limitamo-nos a publicar a tradução da parte da entrevista que diz respeito aos estrangeiros no Dínamo. Se alguém desejar ler o texto russo na íntegra, ele está em www.sport-express.ru.
“Pergunta: Será que agora já está arrependido de ter saído do Dínamo?
Resposta: Saí em nome dos interesses da causa, do clube. Tive divergências com um grande número de jogadores pela primeira vez na carreira de treinador. Ia além da minha compreensão a forma como alguns se preparam para os jogos. Alguns futebolistas não cumpriam as tarefas colocadas antes dos jogos, não de entregavam da forma devida no estádio. A falta de unidade no colectivo, no clube, sem a qual é impossível conseguir resultados, levou-me a abandonar o Dínamo. Considerei ser necessário ceder o lugar a outro, pois uma nova vassoura limpa melhor, mais profundamente, e dá melhores resultados no plano da união da equipa...
P: Mas em qualquer clube há alavancas para dirigir os jogadores?
R: Tinha o mínimo de alavancas. Quando ameaçava multar o futebolista, a resposta era: “Antes de multar, paguem o salário”...
P : Isso só se pode imaginar num clube da mais profunda província. Mas no Dínamo, que convidou apenas jogadores de alta classe? Por exemplo, porque é que o Jorge Luís, que no ano passado foi considerado o melhor defesa esquerdo do campeonato de Portugal, não mostrou jogo?
R: Devemos acompanhar de forma mais atenta cada jogador, mas no Dínamo não havia e não há trabalho de selecção. Mas há um agente [Aqui Siomin tem em vista o empresário português Jorge Mendes] que praticamente detém o monopólio de fornecimento de jogadores estrangeiros para a equipa. Dele até depende em grande parte o estado de espírito no colectivo. Por exemplo, esse agente não gostou que Siomin tivesse dispensado Costinha e podia criar um ambiente de tensão entre os “seus” jogadores e o treinador. Eu não digo que fosse assim. Talvez fosse mesmo assim!
O Jorge Luís, segundo os ecos que nos chegavam, jogou bem em Portugal. Não sei, não vi. Mas ele chegou à Rússia depois de uma cirurgia, ficou mais vagaroso. Deixou de fazer parte das opções também devido a lesões e a ausências nos treinos.
P: Com Derlei é a mesma coisa?
R: Antes do início do campeonato, Derlei realizou dez treinos e perguntavam-me constantemente por que é que não o punha a jogar. Mas ele não estava preparado! Como é que eu podia pôr a jogar futebolistas que não desejavam jogar na lama ou em relva sintética?..
P: E que pensa da ideia de trazer para o Dínamo um grande grupo de estrangeiros?
R: A ideia, na sua essência, estava correcta: criar uma frente unidade de fortes jogadores russos e de estrangeiros de categoria. Mas como foi isso realizado?! Por exemplo, Enakarire foi jogar na Taça de África e regressou apenas dois meses e meio depois, dez dias antes do início do campeonato da Rússia. E não foi tomada decisão nenhuma sobre o seu comportamento. Tal como em relação a outros jogadores, que iam à pátria e atrasavam-se no regresso. Além disso, começou a haver problemas no pagamento de salários, coisa que não acontecia antes da minha chegada ao clube...
P: Talvez tivesse valido a pena ter deixado ficar o Costinha na equipa?
R: Se tivesse em conta apenas as qualidades futebolísticas de Costinha, nunca teria recunciado a ele. Mas como é possível manter na equipa um homem que viola a disciplina três vezes, de forma descarada, demonstrativamente? Qualquer treinador que se respeite deve tomar medidas nestes casos.
Mas as coisas terminaram com meias-medidas. Costinha foi dispensado do Dínamo, mas... ficou na equipa, o que não o impedia de influir nas disposições de parte dos jogadores...”
Presentemente, depois de 19 jogos, o Dínamo encontra-se no antepenúçtimo lugar da tabela classificativa com 16 pontos e corre o risco de descer de divisão.
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