segunda-feira, outubro 23, 2006

Opiniões de um leitor

O leitor Manuel Teixeira enviou-nos estes dois mails que publicamos sem qualquer tipo de alteração, mesmo de nomes e datas imprecisos como o caso do czar Alexandre I, e não Alexis I, ou o ano da invasão francesa da Rússia: 1812 e não 1800. É uma visão do mundo, com a qual pode-se não estar de acordo, mas que existe.
"Boa tarde, Ex.º Sr. José Milhazes
Antes do mais, apresento a V. Ex.ª os meus sinceros agradecimentos pelo facto de se ter empenhado neste trabalho jornalístico sobre a actualidade política russa, de que desde já o felicito e me coloco ao seu dispor para qualquer tipo de informação política, estratégica ou económica sobre o espaço geopolítico que compreendeu o antigo Warschau Pact, bem como das relações entre a Europa Ocidental e a Rússia no século anterior.
Não obstante ser jurista de profissão, sou um assíduo interessado pelos assuntos de política internacional, com especial ênfase para a Europa de Leste e Médio Oriente, dado ter conhecimentos adquiridos na RFA e na ex-RDA nas décadas de 80 e 90, bem como ser possuidor de um interesse inato por assuntos conexos como o Drang Nach Osten alemão dos tempos da cavalaria teutónica até à aventura hitleriana de 21 de Junho de 1941 a 8 de Maio de1945, passando por situações como as da intervenção do Keiser Wilherm II em relação ao auxílio alemão ao bolchevismo e especialmente a Lenin em 1917 como troca da paz de Brest-Litovsk de 1918; da interacção do Reichwehr Negrode von Steckt com os bolchevistas, a questão Afegã, o eterno barril de pólvora dos Balcãs, o conflito siberiano - mongol entre russos e maoístas, o problema fictício da Coreia do Norte, etc., etc., etc.
Actualmente estou a terminar um estudo sobre a Guerra Civil Espanhola e, claro está, mais uma abordagem à intervenção militar estrangeira em ambos os campos. Não deixa de ser um apontamento interessante e oportuno, não é verdade?Como V. Ex.ª pode aferir, para mim falar da Rússia e ou dos russos é umas sunto aprazível e pouco usual, pois para pessoas como eu é de todo aborrecido e enfadonho ser receptor de informação escrita e áudio visual viciada, tendenciosa e, sobretudo, impregnada de palpável falta de cultura,rigor histórico e desconexa da realidade russa presente e passada de pseudo-intelectuais que dos russos conhecem livros que para mim são de banda desenhada como o Strass Bulba, Michael Strogoff, do Júlio Verne, ou um ou outro romance de Máximo Gorky ou da medíocre propaganda da NATO sobre o seu eterno rival. É o produto da cultura da aldeia global povoada de anormais que, por sua vez, são governados por outros anormais... o que no caso dos EUA não deixa de ser preocupante, roçando ainda a exprema perigosidade quando um mentecapto é coadjuvado por uma fanática belicosa que deveria estar em West Point, na Virgínia a demonstrar a sua dureza aos pobres recrutas e não como secretária de estado da defesa a instigar um pobre de espírito como o Gush, que se fosse russo o melhor cargo que poderia ter era o de limpador de latrinas do Kremlin! Tenho hoje a percepção de que poucos dos que são considerados ocidentais alguma vez conseguirão perceber o Mundo Russo que Czarista, menchevique,bolchevique ou democrático, é imutável. São Petersburg, Leningrad ouPetrogard sempre foi a ponta de lança ou o aríete do Grande Urso no Ocidente, tal como Istambul o é para os turcos face à Europa. Foi-me necessário estudar a fundo o eterno conflito entre eslavos, germanos,magiares, polacos e turcomanos para perceber esta realidade e, como tal, ver conflitos como os da ex Jugoslávia, Kosovo, Tchechenia ou Afeganistão com a naturalidade banal de quem vê estes conflitos localizados como meros ensaios gerais para futuros conflitos propriamente ditos; como escapes necessários para aliviar milenares tensões e, dessa forma, atrasar o choque civilizacional inevitável; ou ainda como a lógica do conflito humano necessário sempre que dois ou mais grupos humanos distintos têm uma similitude de objectivos e de que não sendo os mesmos partilháveis. Como diria Pedro O Grande "o poder é como uma mulher... ou o temos todo,chacinando os nossos inimigos, ou somos vistos como miseráveis que até partilhamos a mulher com o vizinho..."A postura do Presidente Vladimir Putin face aos mais mediáticos acontecimentos do seu reinado de "Czar Democrático" nunca me chocou, muito pelo contrário... O seu secretismo sobre o Kursk, a sua intervenção naTchechenia, a questão da Frota do Mar Negro; a intervenção discreta na política ucraniana; o seu assalto ao Teatro ocupado pelos separatistas, tal como a sua política interna e internacional são típicas de um antigo comissário do KGB (sucessor da famigerada organização da cruz verde, o NKVD,as SS russas com os seus campos de extermínio ou casas de doutrinação daOGPU) que no turbilhão de uma Perestroika feita por um falso democrata e prosseguida por um nacionalista alcoólatra, o fez chefe de Estado todo poderoso, como aliás tinha que ser! Putin é o Czar do séc. XXI, tal como Alexis I o foi no tempo da invasão francesa de 1800, ou Stalin o foi face à ameaça alemã e no início da guerra-fria. É o Czar possível para os tempos presentes, mas de uma matriz onde assenta o poder do Kremlin desde a fundação da Rússia do viking Rudrik até à actualidade, sempre ditada por um pragmatismo tão frio como o gelo e por uma brutalidade tão quente como o fogo de uma Nagan ou o golpe de nagaika cossaca. Pelo que a morte da jornalista é tão só a aplicação moderna da prevenção geral russa para que ninguém esqueça que, na Rússia de sempre, ser moscardo do poder é morrer numa "datcha" na Sibéria ou com uma bala de 9mm na cabeça; as deportações dos georgianos não passam de uma medida preventiva usual para combater o crescimento das minorias não russas em determinadas zonas localizadas do território russo, é o "Progrom" possível nos tempos modernos; as declarações de Putin sobre os crimes sexuais imputados ou indiciados aKatzav são o paradoxo: "não esperava isto dele" significa o opinar quePutin, tal como os russos em geral, continua a achar que um judeu é tendencialmente incapaz de demonstrar virilidade, excepto para extorquir dinheiro, mas ao ser indiciado violador de 10 mulheres, esse judeu, mesmo sendo judeu, demonstrou ser homem aos olhos do cossaco: "montar como ninguém, beber até ao coma, matar a rir e possuir uma mulher à força"; a parceria com a Alemanha é tão só mais um passo para a regeneração do martirizado Urso e mais um episódio da eterna cumplicidade entre os mais viscerais inimigos, ou seja os germanos e os eslavos, o mesmo se poderá dizer quanto ao intratável parceiro asiático, o colossal Dragão chinês; o caso de Juan Carlos e o infeliz s simpático urso, é história para boi dormir, pois não há acto mais viril na Rússia do que matar um urso com a simples nagaika, ou faca cossaca, mas sendo um estrangeiro, a tiro de espingarda... serve...Não compreendo o porquê do ênfase dado às actualidades russas no ocidente nem a necessidade de tanta demagogia sobre o assunto. Ainda sobre a morte dajornalista, pergunto o que irá suceder ao primeiro jornalista americano que tiver a louca coragem de afirmar que os ataques do 11 de Setembro não passaram de uma orquestração desses meliantes de estrada que se encontram seriados em Washington para justificar nova e retumbante intervenção no Médio Oriente com fins meramente económicos? Quem tiver receios sobre democracias musculadas como a russa, que se preocupe com Estados genocidas como os EUA ou Israel, que a única diferença que destes dista de qualquer organização criminosa é o elevado número de violações aos direitos humanos que executam diariamente e ou patrocinam terceiros no seu interesse, mas sempre de forma impune! Com os meus cumprimentos, Miguel Teixeira".
"Boa tarde, Sr. José Milhazes. Não vejo qualquer impedimento, em Democracia, para que V. Ex.ª não possa publicar o meu e-mail de 19 de Outubro de 2006, pelo que tem o meu consentimento e ainda acrescento àquele, que as recentes tenções entre o Kremlin e a Geórgia em relação aos separatistas russos pró-Moscovo, a resposta a este problema é muito simples, como em tudo na vida, a democracia ocidental é que tem a terrível mania de distorcer, complicar e de não ter capacidade de compreender a límpida verdade dos factos. Senão vejamos...O império russo nasceu em Kiev, evoluiu em Moscovo e expandiu-se do Istmo da Carélia a Vladivostok, no Pacífico; alargou-se entre o Círculo Polar Árcticoe a Ásia central... a hegemonia eslava russa não só solidificou artificialmente outras minorias eslavas como letões, lituanos, georgianos,bielorussos, magiares, etc., etc., como também russificou, muitas vezes pela força povos asiáticos como os mongóis, os tártaros, quirquizes, afegãos,turcomanos, etc., etc., etc.
A par desta expansão política e militar, o Kremlin optou por explorar indiscriminadamente todos os recursos naturais dos territórios que, criando para tal uma longa, complexa e centralizada rede de extracção, transporte, distribuição e de exportação de todas essasriquezas e á medida com que ia expandindo as suas fronteiras, com o desmembramento da URSS houve cortes estratégicos significativos em toda esta cadeia, basta pensar na extensão dos gasodutos ou nos oleodutos que nascem ou atravessam a Federação Russa, passando o nascendo em antigos estados daURSS como por exemplo a Ucrânia ou a Geórgia. Eis o porquê do conflito.
A sua resolução é simples: Se não estivéssemos no Séc. XXI teríamos lugar a uma intervenção militar directa e os massacres, as deportações e os extermínios já teriam terminado; como Putin o não pode fazer, como certamente o pretenderia, há duas formas mais subtis de o conseguir:estimulam-se as regiões do inimigo onde, por magia, existem os invejados recursos ou por onde estes têm de circular, locais onde, por mero acaso,existe uma grande percentagem de população de origem russa para destabilizar politicamente os governos rivais e criam-se formas artificiais de tensão internacional com as parcerias feitas entre Moscovo e estados da EU ou a China.
Como se pode ver, a aplicação das teorias de Clausterwitz aos tempos modernos são muito simples, mudam os meios, mas mantém-se os propósitos. Se antigamente os objectivos económicos se atingiam pela via da força, falhada a diplomacia, hoje os mesmos objectivos são conseguidos pela diplomacia e pela diplomacia, ficando a questão militar para operações encapotadas e supostamente artificiais. No primeiro caso basta estudar o Milagre Alemão que provou que a melhor arma do Reich não são os panzers ou os U-Bot, mas sim a economia; no segundo caso, é só por os olhos no exemplo dos EUA para a sua intervenção em toda a América Latina, na Indochina ou no Médio Oriente. Quer em guerra, quer em diplomacia, os bons exemplos dão valiosos frutos imediatos, mas têm o defeito de servir de estímulo e de exemplo a segui rpelo inimigo, como diria Wu Chi...Enquanto isso a OTAN, os USA e a EU fazem que desconhecem o problema oupoir, interpretam os factos à sua maneira segundo o prisma democrático ocidental, discutindo o sexo dos anjos em torno dos direitos humanos, que muitas vezes eles mesmo não respeitam, a sociedade civil vê futebol,discutem-se os problemas de agrado popular e divulgam-se programas de anormais para anormais, e nada fazem, pelo menos enquanto os seus empresários correm ao ilusório lucro fácil junto dos seus eternos inimigos declarados: o Urso e o Dragão!" (...) Oh belicosa e viril Esparta porque é que és a sombra proscrita da decadente, corrompida e cobarde élade liderada por Atenas, enquanto Dário ultima a invasão persa de toda a nossa Grécia?"Com os meus cumprimentos".

1 comentário:

Ralf Wokan disse...

Prezado leitor,

não encontrei um "Negrode von Steckt", peço a sua ajuda para conhecer este nome!

Cumprimentos
Konrad