sexta-feira, novembro 24, 2006

No KGB só se entra, não há saída


Alexandre Litvinenko, antigo tenente-coronel dos serviços secretos russos (FSB), faleceu em Londres, vítima de um envenenamento.
Talvez nunca mais se venha a saber quem e com que tipo de veneno foi liquidado Litvinenko. Tendo em conta que ele se tinha refugiado em Londres às perseguições do Presidente Putin e a rica história de operações de envenenamentos, realizada pelos serviços secretos soviéticos e russos, é-se tentado a apontar o dedo acusador ao Kremlin.
Mas já se tornou claro que esse assassinato não terá repercussões negativas na imagem de Vladimir Putin na Rússia. Segundo uma sondagem realizada pela rádio Eco de Moscovo, conotada com a oposição ao Kremlin, 68% dos seus ouvintes consideraram que o envenenamento de Litvinenko foi "a realização da lei russa de combate ao terrorismo no estrangeiro". Para a maioria da população russa, esse homem não passa de um "traidor". Apenas a pouco numerosa oposição ao Presidente Putin irá fazer dele mais um "ícone".
No plano externo, há muito que os dirigentes russos não se preocupam particularmente com a sua imagem. Além disso, a polícia inglesa ainda terá de provar que foi precisamente do Kremlin que partiu a ordem de matar o antigo espião russo.
Talvez o destino de Litvinenko tenha sido este para lembrar a outros agentes secretos russos uma máxima dos antigos serviços soviéticos:"No KGB só se entra, não há saída".

14 comentários:

Diogo disse...

Na SIC notícias

Alexander Litvinenko sentiu-se mal depois de um encontro, há três semanas, com dois representantes russos num hotel londrino.

O ex-agente secreto era um conhecido crítico do Presidente russo. Estava a investigar o assassínio de uma jornalista também crítica de Vladimir Putin.

Os médicos suspeitavam de envenenamento com Tálio, mas só a autópsia poderá confirmar as causas da morte.



Com tantas provas a apontar para Putin, como não acreditar que tenha sido este quem tenha mandado matar Litvinenko?

Porque, se não foi Putin então foi alguém que quer denegrir a imagem do presidente russo. E não estou a ver ninguém capaz de uma coisa dessas. Você está Milhazes?

JoaoN disse...

Nojo, só nojo, quase tudo o que vem do Kremlin... Quando é que o Sr. Putin, o assassino de Beslan, será travado???

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro leitor Sofocleto, recomendo-lhe a ler com mais atenção o post por mim publicado.

Diogo disse...

«Talvez o destino de Litvinenko tenha sido este para lembrar a outros agentes secretos russos uma máxima dos antigos serviços soviéticos:"No KGB só se entra, não há saída"»

Já li José Milhazes. Você aponta claramente o dedo a Putin.

Rouxinol disse...

Eu não descarto qualquer hipótese, muito menos a de Putin, mas sempre que colada a uma notícia vem a chave da sua interpretação...
Reparem que o estranho não é o facto de ele ter sido assassinado, o estranho é a notícia ter bombardeado todos os jornais e ter sido escrita de forma a que se perceba que a ordem veio do Kremlin.

Rouxinol disse...

Tive a pesquisar um pouco mais sobre o tema e...

http://rouxinol.blogspot.com/2006/11/jornalismo-fardado.html

...a mando do governo russo, não foi de certeza.

Anónimo disse...

Esta situação é mais uma (das muitos possíveis e imagináveis) prova de que na Rússia uma democracia ao estilo Ocidental é impossível de concretizar! As formas de Governo mudam mas o sistema MANTÉM-SE!!
E já dizia o ditado "Mal por mal, Marquês de Pombal!"

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Estimado leitor Zé do Circo, pode fazer equilibrismo semântico ou jogo de palavras, mas isso não com muda a essência. Lénine, Estaline, Mao não eram comunistas? Só faziam de conta? Leia com atenção os fundamentos do chamado "comunismo científico" e verá que lá está a teorização da violência e do crime contra o indivíduo em nome dos interesses de classe.
Quanto aos tribunais internacionais, eles são criados quando os crimes extravazam as fronteiras de um país ou quando existem suspeitas de que se trata de crimes contra a Humnidade. Foram criados para a Jugoslávia, Ruanda e deveriam ser criados em relação a outros crimes, sem que ninguém se sinta capaz de escapar à justiça internacional. Cumprimentos

Mikolik disse...

Não custa a acreditar que o KGB matou o Sr. Litvinenko, assim como a Scotland Yard ou o MI5, matou o Dr. Kelly, que para quem se esqueceu era um dos inspectores do programa nuclear, e que supostamente se suicidou, depois de ter exposto ao mundo o seu relatório negativo para os "aliados" em relação ao programa nuclear Iraquiano.

E então? Os filmes são baseados em geral em acontecimentos reais...

Qual é o serviço secreto no mundo que não recorre a estes métodos covardes e desumanos?

Diogo disse...

Caro Mikolik,

Sei perfeitamente que Putin não teria nenhum prurido em assassinar Litvinenko se o quisesse. E Putin tem seguramente meios para o fazer sem alaridos e sem deixar quaisquer provas.

Simplesmente, é difícil encontrar um homicídio com tantos indícios como neste caso. Basta correr os media para vermos as inumeráveis pistas a pontar para Putin. O que é, no mínimo, estranho.

Por outro lado, a morte de Litvinenko acontece um dia antes da cimeira UE - Rússia que acabou por fracassar, em parte graças ao veto polaco, em parte graças ao escândalo da morte de Litvinenko.

A questão é: quem tem a ganhar com o fracasso desta cimeira?

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro Ze do Circo, não acho que o "comunismo científico" tenha obrigado Estaline a fazer o que quer que seja, mas essa teoria política contém as sementes da violência, ao defender a tomada violenta do poder político, por exemplo. O comunismo soviético não derrubou o czarismo absolutista, mas uma democracia, enfraquecida, é verdade, mas democracia. E quando os bolcheviques aceitaram a realização para a Assembleia Constituinte, em 1918, foram derrotados nas urnas. Só que depois Lénine fez "cálculos matemáticos" que mostravam que os votos da classe operária valiam mais do que os do campesinato e burguesia...
Quanto à mudança de ruas, acho que as coisas não são tão lineares como você aponta. Você gostaria de viver, por exemplo, na Avenida de Hitler? ou na Rua de Salazar?
Há nomes que ainda estão frescos na nossa memória...

Rouxinol disse...

Se quiserem polonium 210, podem adquirir neste site apartir de 69 USD, já com os portes incluídos.

Vejam também a notícia aqui

Anónimo disse...

Caro josé Milhazes

aproveito a oportunidade para lhe dar os parabéns pelo excelente blog.
A velha máxima da KGB é totalemente aplicável a este caso.
A sondagem da rádio Eco tem um resultado no mínimo curioso. Fico tão espantado a perspectiva dos russos sobre os casos que só me ocorre dizer "é ma maneira de ver as coisas".
Ainda a propósito do comunismo, de certo modo não é um contra-senso o facto de a revolução marxista ter ocorrido à data numa Rússia sobretudo rural e não Inglaterra, Alemanha ou França, países detentores de uma considerável massa operária?

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro leitor FL, isso só parece um contra-senso à luz do marxismo-leninismo, que defende a hegemonia da classe operária na revolução. Segundo Marx e Engels, a Inglaterra, Alemha e França deveriam ser os primeiros a avançar para o socialismko, porque eram os mais industrializados e onde existiam fortes classes operárias, etc., mas Lénine criou a tese do "imperialismo fase suprema do comnunismo" e encontrou o "elo fraco": a Rússia, onde deveria ser desferido o golpe mortal no capitalismo.
Depois de vencida a revolução, alguns dirigentes, entre eles Leão Trotski, defendia que não se devia começar a construir o socialismo na Rússia sem que a revolução vencesse noutros países, nomeadamente nos mais industrializados. Estaline "descobriu" a tese da construção do socialismo num só país, rodeado de adversários, mas nunca deixa de tentar levar à prática as teses de Lénine e Trotski de exportação da revolução.
Na realidade, a revolução comunista na Rússia foi fruto de uma combinação de diferentes circunstâncias, entre as quais: a primeira guerra mundial, a política das potências europeias que não olhavam a meios para atingir os fins (lembre-se o caso da Alemanha que, para retirar a Rússia da guerra, financiou Lénine e os seus homens) a incompetência da élite política e económica russa, etc.
Claro que se trata de uma mensagem breve e esquemática, pois este tema dá "pano para mangas". Cumprimentos.