Recordando José Sampaio Marinho, grande tradutor de russo

Hoje, celebra-se o 65º aniversário do início da contra-ofensiva das tropas soviéticas nos arredores de Moscovo, quando as hordas nazis foram travadas e rechaçadas às portas da capital russa.

A propósito da Segunda Guerra Mundial, lembrei-me que tenho guardadas traduções de poemas russos e soviéticos, realizadas por um mestre e amigo meu já falecido: José Sampaio Marinho. Pouco antes de falecer, em 1987, este mágico da tradução poética entregou-me os originais para que eu um dia os publicasse, o que poderá acontecer em breve.

Entretanto, remexendo hoje esses papéis, encontrei um poema de Konstantin Simonov (1915-1979). Em Portugal, este escritor soviético é conhecido como autor do romance "Vivos e Mortos". Porém, Simonov é também um dos melhores poetas soviéticos, sendo o poema "Espera-me" uma das suas obras-primas dedicadas aos soldados do seu país.

Aqui deixo a brilhante tradução de José Sampaio Marinho.

ESPERA-ME

I

Espera-me, hei-de voltar,

Espera com calma,

Quando a chuva se espalhar

Em tristezas de alma.

Espera-me no Verão,

No Inverno gelado,

Quando para os outros não

Sou mais que passado.

Espera, se em dada hora

Não te chegam cartas

E as pessoas da demora

Já se mostram fartas.

II

Espera-me, hei-de voltar.

Recusa-te a crer

Naqueles que vêm contar

Que é bom esquecer.

Que creiam o filho e a mãe

Que me fui na morte

E que os amigos também

Chorem minha sorte,

Bebendo a matéria espessa

Do seu vinho reles.

Espera, não tenhas pressa

De beber com eles.

III

Espera-me, hei-de voltar

Da morte mais leve,

E os outros de se espantar:

"Que sorte que teve!"

Quem por mim não esperou

Não pode entender

Que a tua fé me salvou

De no fogo arder.

Se vivo e graças a quem,

Não vamos contar.

É que só tu, mais ninguém,

Soubeste esperar.