Os turcomenos vão às urnas no Domingo para eleger o sucessor do ditador Saparmurat Niazov no cargo de Presidente da Turqueménia. Os candidatos são muitos, mas já é conhecido o eleito.
Os deputados do Conselho Popular (Parlamento) da Turqueménia autorizaram a participação de seis candidatos na corrida ao cargo de Presidente do país, porém o eleito será Gurbanguli Berdimukhammedov (no centro da foto), que dirigente interinamente a Turqueménia.
Berdimukhammedov, 49 anos, era um dos homens mais próximos do Presidente Niazov, que faleceu no passado mês de Dezembro, e vai ser o escolhido para realizar a política da “mudança na continuidade”.
Os restantes cinco candidatos servem apenas para dar um “ar democrático” ao escrutínio, porque a oposição foi excluída do boletim de voto. Os opositores que se encontram no estrangeiro não puderam regressar ao país e o único candidato da Oposição Democrática Unida no interior do país, Nurberdi Nurmammedov, foi raptado em Achkhabad, capital da Turqueménia, a 12 de Dezembro de 2007.
Porém, como diz um ditado oriental :”É impossível voltar a injectar ar num balão furado”, o que, em relação ao regime herdado de Niazev, significa que o seu sucessor não o poderá deixar inalterável, terá de lhe dar um ar menos odioso.
Durante a campanha eleitoral, Berdimulhamedov libertou alguns dos opositores do antigo ditador, mandou destruir a principal prisão política de Ovadan-Depe e prometeu aos eleitores o acesso à Internet caso vença as eleições.
Porém, as mudanças não prometem ser fundamentais.
“Na primeira etapa, prevê-se, fazendo algumas alterações na base legislativa, redistribuir os poderes entre os representantes dos grupos que vão chegar ao poder e impedir, desse modo, a concentração do poder numas sós mãos, ao mesmo tempo que se exclui qualquer possibilidade de participação no processo de figuras políticas da oposição que se encontram fora do país” – considera Nikita Nikolaev, especialista em problemas da Ásia Central.
Essas alterações deverão estender-se no tempo, não só porque no país praticamente não existe oposição ao regime, mas também porque a pressão internacional não deverá ser muito grande, dada a importância estratégica da Turqueménia no campo da exploração e exportação do gás (o 4º maior produtor mundial).
“A actual posição da Rússia consiste em que nada mude. E quanto aos direitos humanos, todos estão-se nas tintas para isso” – constata Alexei Malachenko, analista do Centro Carnegi de Moscovo.
A morte do “Presidente vitalício” aos 66 anos, que governou o país durante 20 anos, e a mudança do poder na Turqueménia coincidiram com importantes acontecimentos energéticos na Europa: o conflito entre a Rússia e a Bielorrússia em matéria de gás voltou a mostrar ao Ocidente a sua dependência face aos tubos que transportam os hidrocarbonetos do Leste. Neste sentido, Achkhabad transforma-se num jogador ainda mais importante no espaço post-soviético.
O novo Presidente turcomeno irá ter em conta este factor geopolítico nas relações com a China, Estados Unidos, Rússia e União Europeia.
Washington defende há muito tempo a construção de um gaseoduto desde a Turqueménia até ao Paquistão e a Índia através do Afeganistão, e outro através do Mar Cáspio, ladeanddo a Rússia. Este último plano está também a ser estudado pela União Europeia.
Até agora, a Rússia tem o monopólio do transporte do gás turcomeno para a Europa.
Pouco antes de falecer, Niazov assegurou aos políticos europeus que, no futuro, se poderia construir um gaseoduto da Turqueménia até à Europa.
Leonid Ragozin, jornalista da versão russa da revista Newsweek, vê nisso uma das razões do regime ditatorial de Niazov não ter aparecido na lista americana dos países do “eixo do mal”, não obstante de ser um regime bem mais odioso do que os existentes na Bielorrússia ou Venezuela.
Durante a visita do “Turkmenbashi” (pai de todos os turcomenos) a Pequim, em Abril de 2006 nasceu o plano da construção de um gaseoduto da Turqueménia para a China. Niazov prometeu fornecer a Pequim 30 mil milhões de metros cúbicos de gás por ano.
Este equilíbrio deverá manter-se como garantia da sobrevivência do regime. O jornal russo “Voenno-promichlenni Kurier escreve a propósito: “É pouco provável que os Estados Unidos e Europa aceitem que o novo Presidente opte por uma política pró-russa, permitindo que as companhias russas assumam a exploração de novos jazigos e a construção de novos gaseodutos”.
Além disso, as grandes potências não estão interessadas na desestabilização de mais um país da Ásia Central, região extremamente complicada e com regimes instáveis no Afeganistão, Quirguízia e Uzbequistão.
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