O nome e a actividade do iluminista português, António Ribeiro Sanches, estão estreitamente ligados à cidade de São Petersburgo, construída pelo czar Pedro I como “janela para a Europa”.
Daí este génio da época das luzes ter estado no centro das atenções da segunda etapa do ciclo de conferências dedicado às relações russo-português. A primeira parte decorreu em Moscovo e a segunda em São Petersburgo, na universidade local, com o apoio do Instituto Camões.
Tanto mais que, como sublinhou Pedro Calafate, professor da Universidade de Lisboa, os seus escritos continuam actuais.
“Gosto tanto da Rússia quanto lhe devo, e devo-lhe tudo o que possuo e tudo o que sou” – escrevia Ribeiro Sanches na obra Plano para a Educação de um Jovem Senhor.
Este amor e respeito pela Rússia levou o médico português a recomendar aos czares russos o respeito pela “propriedade dos bens”, bem como pela liberdade interior de querer ou não querer, amar, aborrecer, julgar ou não julgar, ver ou não ver, que são acções interiores que se passam dentro de nós”.
“A questão do primado – afirmou Pedro Calafate – afigurou-se essencial no seu combate pela reforma da sociedade russa, na qual a vontade do czar tendia a ser considerada como fonte única da lei”.
Segundo o professor português, Ribeiro Sanches dedica-se, na sua obra Sobre a Cultura e as Belas-Artes no Império da Rússia, a essa questão, “mostrando que uma monarquia pode ser governada de dois modos”. O primeiro por simples decretos, sem respeito pela propriedade e pela liberdade, atropelando o direito natural que é a base do direito histórico, oscilando ao sabor das circunstâncias e dos acidentes, colocando o conjunto da sociedade numa situação de imprevisibilidade e sem poder de antecipação dos actos e decisões.
Ribeiro Sanches é adepto do segundo modo: aquele que verdadeiramente propunha à sociedade e nobreza da Rússia, era o que se baseava em leis fixas, dispostas pelos tribunais, assegurando a liberdade e a propriedade dos bens a todos os indivíduos.
Nesta conferência, abordaram-se também a vida e a obra de famílias portuguesas ligadas à história de São Petersburgo, seguida de uma visita pela cidade-museu.
O Palácio de Menchikov, o primeiro grande edifício construído depois de Pedro I ter decidido edificar a nova capital russa nas margens do rio Neva. Aí, António Vieira, cristão-novo português organizou as primeiras “assembleias”, ou seja, festas para a nobreza russa.
A casa situada na Rua Moika, 12, onde, após ter sido ferido num duelo, faleceu o grande poeta russo Alexandre Puchkin, a 27 de Janeiro de 1837. Junto ao leito dele encontrava-se Juliana Strogonova, filha da Marquesa de Alorna, poetisa portuguesa.
A Praça do Senado, onde, a 14 de Dezembro de 1825, um grupo de oficiais russos organizou um levantamento armado contra o czar Nicolau I, inspirados, nomeadamente, nas revoluções liberais portuguesas. Do outro lado da barricada, estava João Velho, filho do primeiro consul de Portugal em São Petersburgo, José Velho. Tendo perdido um braço na contenda, João fez uma brilhante carreira militar e administrativa.
Hoje, a língua portuguesa continua viva nesta cidade do Báltico graças ao trabalho de João Mendonça, leitor do Instituto Camões, e professores da língua lusa como o poeta Andrei Rodosski, tradutor de obras de autores portugueses:Francisco Manuel de Melo, Almeida Garret, Alexandre Herculano, João de Deus, Mário de Sá-Carneiro,etc.
Praça do Senado. Estátua equestre de Pedro I
Palácio de Menchikov
Rua Moika, Nº 12
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