“Devemos reagir sem histeria, mas empreender sérios passos que mostrem a nossa verdadeira atitude face a essa acção desumana. Penso que iremos fazer isso mesmo” – declarou Serguei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia.
As autoridades estónias tinham decido transferir o monumento (a imagem de um soldado soviético) e os restos mortais que se encontram sepultados em seu redor depois de 9 de Maio para um cemitério militar, mas decidiram antecipar o início dos trabalhos para ontem à noite devido aos graves confrontos ocorridos entre a polícia e os manifestantes russófonos que contestavam essa decisão.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia condenou hoje com dureza e classificou de “sacrilégio” a desmontagem do “Soldado de Bronze”, operação realizada pelas autoridades estónias no meio de manifestações que provocaram um morto e cerca de quarenta feridos.
As acções das autoridades estónias “não podem deixar de suscitar condenação e duras críticas” – declarou o porta-voz da diplomacia russa, Mikhail Kaminin.
“O Monumento ao Combatente Libertador foi desmontado em vésperas de uma festa sagrada: o Dia da Vitória (sobre a Alemanha nazi em 1945). E isso só se pode classificar de sacrilégio e desumano” – acrescentou Kaminin.
O diplomata denunciou que as acções das autoridades estónias “favorecem claramente as manifestações neo-nazis”.
“A parte russa estuda uma reação prática em relação à Estónia devido à desmontagem do desmantelamento do monumento ao Combatente Libertador” – ameaçou o diplomata.
O Conselho da Federação (câmara alta) do Parlamento da Rússia aprovou hoje por unanimidade um apelo ao Presidente Vladimir Putin para que rompa as relações diplomáticas com a Estónia.
Durante a noite, manifestantes reuniram-se junto do edifício da Embaixada da Estónia na capital russa para protestar contra a desmontagem do monumento, queimando uma bandeira estónia e atirando fezes contra as paredes do edifício.
O jornal electrónico russo Lenta.ru informa que no local se encontrava uma camioneta com polícias de choque, mas estes não interviram.
De manhã, pouco mais de uma dezena de jovens militantes da organização “Guarda Jovem”, pró-Kremlin, voltaram a concentrar-se no mesmo lugar, gritando: “Servos da NATO, tirem as mãos do soldado russo”, “Fascistas”, “Hitler é o ídolo da Estónia”.
Cerca de mil pessoas manifestaram-se contra o desmantelamento do monumento no centro de Talin, tendo ocorrido graves distúrbios. Os manifestantes, segundo testemunhos de jornalistas no local, começaram a pilhar lojas, derrubar quiosques e incendiar prédios depois de terem sido dispersos pela polícia.
As autoridades dizem ter detido cerca de 300 pessoas.
Segundo estudos realizados, a população autóctone estónia (67,9%) apoia a desmontagem do monumento, pois consideram que, em 1945, o Exército Vermelho não libertou a Estónia, mas impôs uma nova ditadura. O regime de Estaline deportou para a Sibéria mais de cem mil estónios em 1949,
A favor da manutenção do monumento manifestava-se a maioria dos habitantes de origem eslava do país, que constituem cerca de 31,2% da população. Trata-se essencialmente de russos, ucranianos e bielorrusos, bem como de seus descendentes, que Moscovo enviou para a Estónia depois da Segunda Guerra Mundial, a fim de consolidar a sua base de apoio.
A Estónia, actualmente membro da NATO e da União Europeia, obteve a independência em 1918, aquando da desintegração do Império Russo.
Em 1939, em conformidade com o pacto assinado entre Estaline e Hitler, a Estónia passou a fazer parte da União Soviética, voltando a reconquistar a sua independência em 1991.
Há pouco mais de uma semana, as autoridades da cidade de Khmiki, nos arredores de Moscovo, transladaram os restos mortais de seis pilotos soviéticos para um cemitério, porque criavam "dificuldades ao trânsito".
O monumento encontrava-se perto de grandes centros comerciais e era um lugar conhecido pelo facto de as suas redondezas serem frequentadas por prostitutas que esperavam clientes na berma da estrada que liga São Petersburgo a Moscovo.
Neste caso, os protestos não foram muito. Além disso, há milhões de soldados soviéticos por sepultar condignamente no território russo. Os seus restos mortais são sistematicamente incomodados pelos "arqueólogos" que procuram armas, medalhas, etc.
3 comentários:
O leitor conhecido por Milokik enviou-me o seguinte mail como comentário que aqui publico: "Claro que neste caso, como em geral em qualquer outro, há sempre razões e motivos defensáveis para qualquer uma das partes.
Mas eu pergunto - Terão as autoridades Estonianas tomado a decisão à revelia, ou consultaram a opinião de alguma entidade representante da Rússia? Conhecendo a determinação Estoniana, a sua atitude e fundamentalmente o seu sentimento negativo contra os Russos, acho que foi uma decisão unilateral, estritamente racional privada de humanismo e quiçá conscientemente ofensiva. Se assim foi não há que ficar espantado com a reacção da Rússia.
Em Berlim aconteceu um caso semelhante, e aí os Alemães chegaram a um acordo com os Russos, o monumento foi mudado sem problemas de maior".
Caro leitor, as autoridades estónias convidaram inclusivamente as autoridades russas a participar em todo o processo, mas Moscovo não aceitou.
Conheço não só a determinação, mas também a teimosia estónia, mas não concordo com a sua posição.
Primeiro, o monumento não foi danificado ou vandalizado, mas só e apenas transferido para um cemitério militar. Além disso, deve saber que alguns dos restos mortais que se encontravam sepultados perto do Soldado Soviético estão por debaixo de uma paragem de troléi.
Peço também que preste atenção ao facto de um grande número de pessoas que participaram nos protestos mais não fizeram do que pilhar e destruir: lojas, casas, etc. Será que isso tem algo a ver com a defesa da "verdade histórica"?
Se leu o que eu escrevi no meu blog, poderá ver que moralmente Moscovo tem poucas razões morais para protestar. O Kremlin deve preocupar-se em sepultar dignamente os seus soldados de várias guerras, bem como de tratar dos vivos.
A Estónia é um Estado independente e tem direito de tomar decisões. Neste caso, não tomou a pior.
Olhe também para a crise na Ucrânia. O Parlamento da Russia (Duma)aprovou uma resolução a considerar que o decreto do Presidente ucraniano sobre a dissolução da Rada (parlamento) e a convocação de eleições antecipada era "inconstitucional"? Acha isso normal? Imagine as Cortes Espanholas a aprovarem uma resolução a considerar um decreto do Presidente Cavaco Silva "inconstitucional"!
A "democracia limitada", doutrina realizada por Leonid Brejnev, em relação aos Estados vizinhos, pertence ao passado.
Não me pode acusar se ser anti-russo ou de simpatizar com teorias revisionistas da história da Segunda Guerra Mundial.
Moscovo repete o mesmo erro que cometeu em relação à Geórgia e outros países vizinhos, quando um espirro ou soluço em Tbliss ou Tallinn é interpretado como um terramoto pelo Kremlin.
Os meus cumprimentos e simpatias por um dos mais atentos autores do blog.
Eu tenho dúvidas sobre a verdadeira intenção dos Estónios, como ambos sabemos, com e sem razões os nossos amigos ‘ninasarvik’ (conhece a expressão?) não morrem de amores pelos Russos. Fisicamente o Monumento aos Soldado Soviético não incomoda, mas antes sim psicológica e politicamente. Por isso desta vez os Governo Estónio não tem razão no que fez, tampouco acho uma decisão de sabedoria diplomática.
Peço desculpa por não ter reproduzido a mensagem do Sr. Mikolik no primeiro post, aqui vai a parte final:
"Pensei que os Estónios iriam crescer economicamente muito à custa do mercado Russo, assim como aconteceu com a Finlândia, mas com estes casos acho que não vai ser possível. E assim, como diz uma grande amigo meu Russo, - “não vai ser a CEE que vai comprar a manteiga deles.”
Caro leitor, nem só de páo vive o homem, mesmo que com manteiga. Aquando da desintegração da URSS, foram muitos os que pensavam que as antigas repúblicas soviéticas não sobreviveriam sem a Rússia. No caso da Estónia, sabe que não é assim. Se Moscovo aprovar sanções económicas contra a Estónia, apenas espicassará os estónios.
Quando a URSS se desintegrou, a economia finlandesa viu-se em "maus lençóis", mas encontrou saídas interessantes, nomeadamente as tecnologias de ponta.
Por muito grande, poderoso e numeroso que seja um Estado, nao tem o direito de impor aos mais pequenos a forma como devem viver. E isto é válido não só para a Rússia
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