O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, dirigiu a sua última mensagem às duas câmaras do Parlamento russo, mas sublinhou que não se trata de um testamento político.
“Na Primavera de 2008 termina o prazo dos meus poderes presidenciais e a mensagem seguinte à Assembleia Federal será feita por outro chefe de Estado” – declarou Putin ao terminar o seu discurso perante mais de mil altas individualidades políticas, religiosas e culturais que se reuniram no Kremlin.
“Porém, penso que ainda não tem sentido para fazer aqui uma avaliação da minha própria actividade, mas acho prematuro apresentar o meu testamento político” – acrescentou Putin.
O dirigente russo começou a sua mensagem anual ao Parlamento do país com uma homenagem à figura e acção do seu antecessor no Kremlin.
Antes de iniciar o discurso, Putin pediu aos presentes que se levantassem e prestassem um minuto de silêncio à memória de Ieltsin e, hoje, os comunistas não decidiram repetir a sua atitude escandalosa no Parlamento no dia anterior.
A bancada comunista recusou-se a prestar homenagem ao primeiro Presidente da Rússia, acusando-o de ter “proibido o Partido Comunista da União Soviética” e “destruído a URSS”. O deputado comunista Mikhail Zapolev propõs mesmo que seja “espetado um pau no túmulo de Ieltsin”, comparando-o assim a um vampiro.
Putin lembrou que o seu antecessor no Kremlin foi o Presidente que deu início à tradição das mensagens anuais ao Parlamento, considerando-as “um contacto directo do chefe de Estado com o povo” e “um instrumento da democracia real”.
O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, declarou também que, nos últimos tempos, tem aumentado a quantidade de meios financeiros que entram do
estrangeiro para desestabilizar a situação no país.
"Aumenta a corrente de dinheiro do estrangeiro,
utilizado para a ingerência directa nos nossos assuntos
internos", declarou o dirigente russo, sublinhando que "o desenvolvimento estável e positivo não agrada a todos".
Sem citar países concretos, mas deixando claramente perceber que tem por alvo os oligarcas russos e os países ocidentais, Putin frisou: "há os que, utilizando habilmente fraseologia pseudo-democrática, gostariam de voltar a um passado recente: uns para continuar a roubarem impunemente as riquezas sociais, as pessoas e o Estado, outros para privar o nosso país da independência económica e política".
"Se se analisar o que se passou nos tempos passados -
continuou Putin -, já na época do colonialismo falavam do chamado papel civilizador dos Estados colonizadores".
"Utilizam palavras de ordem democráticas, mas o
objectivo é um: conseguir vantagens multilaterais, proveitos próprios e garantir os próprios interesses", concluiu Putin.
O Presidente russo declarou, momentos antes, que o
país não só superou a queda de produção como se colocou entre as dez maiores economias do mundo.
Na mensagem anual ao parlamento, Putin acrescentou que, depois de 2000, os rendimentos reais da população duplicaram e a Rússia estar a avançar para a estabilidade económica e social.
"De facto, ao desatar os nós complexos dos problemas socioeconómicos e políticos, nós construímos, ao mesmo tempo, uma nova vida. Como resultado, a situação no país começou a mudar gradualmente, passo a passo, para melhor", disse o
Presidente russo.
O dirigente russo aproveitou também esta cerimónia para responder às críticas que lhe são feitas pela oposição liberal e pelos países da União Europeia e Estados Unidos.
“A nova legislação eleitoral permite à oposição aumentar o número de representantes nos órgãos de poder eleitos” – assinalou ele, apresentando como exemplo a introdução da eleição de deputados segundo o sistema proporcional.
Putin apresentou também, como exemplos de avanço da liberdade de expressão no país o aumento do número de jornais editados e de utilizadores da internet.
“Em quatro anos, a quantidade de meios de informação escritos na Rússia cresceu 40% e os electrónicos, duas vezes e meia” – frisou o dirigente russo, acrescentando: “O número de utilizadores da internet aumentou mais de quatro vezes e ultrapassou hoje as 25 milhões de pessoas”.
Vladimir Putin propôs uma moratória sobre o cumprimento pela Rússia do Tratado sobre Armas Convencionais na Europa e ameaçou inclusivamente denunciá-lo se a Aliança Atlântica não reduzir as suas forças no continente.
“A Rússia está limitada na deslocação das forças armadas no seu próprio território, devido ao Tratado sobre Forças Convencionais assinado em 1991. Será que os Estados Unidos aceitariam a limitação da deslocação de tropas no seu próprio território?” – justificou Putin a sua decisão de suspender o cumprimento desse documento.
“De facto, somos o único país que tem as chamadas limitações nos flancos Sul e Norte” – declarou o dirigente russo, acusando os “nossos parceiros de nem sequer terem ratificado esse tratado”.
Vladimir Putin acusa os “parceiros” da NATO de serem “incorrectos e planearem a instalação de elementos de sistemas de defesa anti-aérea na República Checa e Polónia.
“A moratória irá vigorar, no mínimo, até que todos os membros da NATO ratifiquem esse tratado” – anunciou Putin, sublinhando que o seu país poderá mesmo abandonar o Tratado sobre Forças Convencionais na Europa.
“Proponho debater o tema no Conselho Rússia-NATO e, caso não haja progresso nas negociações, estudar a suspensão dos nossos compromissos” previstos pelo Tratado, proclamou Putin, sendo as suas palavras recebidos com fortes aplausos da sala.
O Presidente russo recordou que o Tratado foi assinado em 1990, quando ainda existia o Pacto de Varsóvia, e que a Rússia assinou, ratificou e cumpriu esse tratado, inclusive no flanco Sul não obstante a guerra da Tchetchénia.
“Os países da NATO valem-se de pretextos infundados para não ratificar o Tratado” – continuou Putin, e mencionou em particular as exigências da retirada das tropas russas da Moldávia e Geórgia que a Rússia “tenta cumprir”.
Além disso, lembrou Putin, membros da NATO como os países bálticos “nem sequer o ratificaram”, “aumenta o número de bases junto das nossas fronteiras e, agora, os Estados Unidos pretendem instalar um sistema de defesa antimísseis”.
Sem comentários:
Enviar um comentário