quarta-feira, maio 02, 2007

Guerra diplomática entre Rússia e Estónia ao rubro


O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Estónia decidiu evacuar os familiares dos funcionários da representação diplomática deste país na capital russa, anunciou Urmas Paet, chefe da diplomacia de Tallinn.

Discursando perante os deputados do Parlamento da Estónia, Pate acusou a Rússia de estar a sujeitar os diplomatas estónios a “ataques não só psíquicos, mas também físicos” e apelou à União Europeia a rever as suas relações com Moscovo: “Para pôr fim aos ataques contra a Estónia, é necessário rever as relações de toda a União Europeia com a Rússia”.

Na sexta-feira passada, as autoridades estónias encerram o consulado do seu país em Moscovo e, ontem, Urmas Paet propôs o adiamento da cimeira Rússia-UE, marcada para 18 de Maio na cidade russa de Samara.

Toomas Hendrik Ilves, Presidente da Estónia, lançou um apelo à Rússia para que seja posto fim “à utilização da memória da guerra para fins políticos”.

“Eu dirijo-me ao vizinho da Estónia e falo com toda a clareza: tentem continuar a ser civilizados. Na Europa, um Estado civilizado não deve exigir a demissão de um governo democraticamente eleito de outro país” – sublinhou Ilves, acrescentando: “O objectivo dos atiçadores do conflito foi sempre atirar estónios contra russos, mas eles devem ficar desiludidos, porque não permitiremos isso. A verdade é simples: todos nós que vivemos na Estónia ficaremos a viver aqui, não obstante a última semana. Juntos”.

Em Moscovo, o edifício da delegação diplomática tem sido alvo de actos de vandalismo e está cercado por militantes de organizações juvenis pró-Kremlin.

De manhã, quando a embaixadora estónia na Rússia, Maria Kaljurand, tentava abandonar o edifício de carro para se dirigir para uma conferência de imprensa, cerca de cem manifestantes da organização “Nossos” bloquearam todas as entradas e saídas do edifício a fim de impedir os movimentos da diplomata.

O carro da embaixadora conseguiu abrir caminho, mas os manifestantes arrancaram a bandeira da Estónia do veículo.

Membros desta mesma organização tentaram também impedir a realização da conferência de imprensa de Maria Kaljurand, lançando gases lacrimogénios para a sala onde devia decorrer o encontro dos jornalistas.

Não obstante, a mais alta representante diplomática estónia na capital russa realizou a conferência de imprensa, utilizando-a para acusar o Kremlin por estar por detrás desses movimentos juvenis.

“Hoje, é realmente provável que os manifestantes que se juntam junto da embaixada agem com o acordo das autoridades” – acusou Kaljurand, sublinhando que “a prontidão da Estónia em estabelecer um diálogo aberto e transparente foi, mais uma vez, recusado pela parte russa”.

A embaixadora estónia declarou que Dmitri Ganin, russo que foi assassinado em Tallinn durante os protestos contra a desmontagem do monumento ao Soldado Soviético, era um “pilhador”, “que morreu devido a facadas de que foi vítima em confrontos com outros pilhadores que tinham entrado numa loja”.

“Foi uma luta num bando. Nos bolsos do morto foram encontrados produtos roubados” – continuou Kaljurand.

Esta crise nas relações entre a Rússia e Estónia teve início nos finais do mês passado, quando as autoridades estónias decidiram transportar o monumento ao Soldado Soviético para um cemitério militar de Tallinn.

Esses trabalhos deveriam iniciar-se depois de 9 de Maio, mas foram antecipados devido aos graves distúrbios na capital estónia.

Cerca de mil pessoas manifestaram-se contra o desmantelamento do monumento no centro de Talin, tendo ocorrido graves incidentes. Os manifestantes, segundo testemunhos de jornalistas no local, começaram a pilhar lojas, derrubar quiosques e incendiar prédios depois de terem sido dispersos pela polícia.

As autoridades detiveram mais de 300 pessoas.

Segundo estudos realizados, a população autóctone estónia (67,9%) apoia a desmontagem do monumento, pois consideram que, em 1945, o Exército Vermelho não libertou a Estónia, mas impôs uma nova ditadura. O regime de Estaline deportou para a Sibéria mais de cem mil estónios em 1949,

A favor da manutenção do monumento manifestava-se a maioria dos habitantes de origem eslava do país, que constituem cerca de 31,2% da população. Trata-se essencialmente de russos, ucranianos e bielorrusos, bem como de seus descendentes, que Moscovo enviou para a Estónia depois da Segunda Guerra Mundial, a fim de consolidar a sua base de apoio.

A Estónia, actualmente membro da NATO e da União Europeia, obteve a independência em 1918, aquando da desintegração do Império Russo.

Em 1939, em conformidade com o pacto assinado entre Estaline e Hitler, a Estónia passou a fazer parte da União Soviética, voltando a reconquistar a sua independência em 1991.

3 comentários:

José disse...

Essa organização, "Nossos", também costuma estar presente em manifestações pró-Kremlim, não é? Quem são eles?

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Não sei porque razão, mas alguns leitores queixam-se de que nbão conseguem colocar comentários. Um deles é Pedro Reis, cujo comentário publico a seguir:"A questão da retirada do monumento ao soldado desconhecido é um bode expiatório para o verdadeiro problema que é a aversão dos Estónios aos Russos, como resultado da ocupação Soviética após a II Guerra Mundial.

Se calhar os Estónios até têm razão para não gostarem dos Russos, porém os Russos que vivem na Estónia não têm culpa do que Estaline fez na altura.

Enfim, falta de bom senso, entendimento e tolerância, de parte a parte. Algo que a Leste, desde tempos imemoriais, sempre aconteceu".





Abraço,



Pedro Reis

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro leitor José, os "Nossos" é uma organização controlada e financiada pelo Kremlin. Apoiam Putin, dizem eles.
Aproveito também para responder ao leitor Pedro Reis.
Estou parcialmente de acordo, mas o problema é bem mais profundo. Isso é apenas uma parte do problema, mas não deve esquecer que a política externa russa não tem contribuído muito para a solução do problema.
A esmagadora maioria dos russos que vivem na EStónia não saíram para as ruas para pilhar lojas de álcool, etc.
O problema central, e penso que mereceria uma meditação mais profunda da parte das duas comunidades: russófona (porque muita da chamada população russa da Estónia é constituída por ucranianos, bielorrussos, tártaros, etc.) e estónia, consiste em que as duas comunidades vivem de costas voltadas. Não se confrontam, mas tentam também só contactar no essencial. A comunidade russófona, se quer viver na Estónia, tem de aprender a falar estónio e o governo de Tallinn deve criar condições para isso.
Mas caro Pedro Reis, acho que os novos países do Báltico são um exemplo, porque dos seus teritórios não fugiram pessoas. Não obstante tudo o que se possa dizer, os russófonos preferem viver na Estónia, Letónia e Lituânia do que na Rússia. Penso que a razão é uma: esses países fgazem parte da União Europeia