segunda-feira, abril 30, 2007

Recordar Mstislav Rostropovitch


O leitor deste blog Carlos Vidal escreveu-me um mail a perguntar se na Rússia não tinha acontecido alguma coisa, se não teria falecido o grande violoncelista e maestro Rostropovitch? Tem razão, não me esqueci desse triste acontecimento, só que o tempo não dá para reagir operativamente a tudo.
Vou tentar emendar o meu erro, não com a biografia do grande músico, publicada em numerosos órgãos de informações, mas com umas notas pessoais.
Não privei com Rostropovitch, mas estive muito perto dele numa situação muito especial, num daqueles momentos que nunca mais se esquece na vida.
No Jornal da Noite da SIC da passada sexta-feira, passaram imagens de Mstislav Rostropovitch a discursar no dia 22 de Agosto de 1991, durante a tentativa de golpe comunista para derrubar Mikhail Gorbatchov. Então, o grande músico, que tinha sido expulso do país e banido dos seus palcos, regressou à pátria para defender a jovem liberdade.
As imagens foram captadas na Praça Dzerjinski (hoje, Lubianka), logo após ter sido derrubada a estátua de Felix Dzerjinski, fundador da polícia soviética Tcheka-KGB. Nelas, se se olhar com alguma atenção, pode-se ver ao lado de Rostropovitch um jovem de barbas pretas com um microfone da TSF na mão. Era eu, que tive sorte de acompanhar alguns dos grandes acontecimentos históricos.
Habituado a ver um músico da dimensão de Rostropovitch agarrado a um violoncelo, era difícil imaginá-lo com uma metralhadora Kalachnikov nas mãos, mas aconteceu. Se a memória não me falha, Teresa de Sousa, então minha colega do Público, vivia no mesmo hotel onde estava hospeado Rostropovitch e vimo-lo a passar de metralhadora empunhada. Não acredito que ele pudesse apertar o gatilho, apenas queria mostrar que, tal como muitos outros russos, não queria ver mais os comunistas no poder.
Nesse momento, lembrei-me do 25 de Abril...
Depois, assisti a alguns concertos de Rostropovitch, nomeadamente no Coliseu de Lisboa, quando tocou com a Orquestra Sinfónica da Lituânia. Outro momento inesquecível, a mesma força, a mesma intensidade dos dias de Agosto de 1991, mas concentradas na música.
Aqui fica a minha singela homenagem.

1 comentário:

Unknown disse...

Só mesmo um regime comunista para obrigar um grande violoncelista a trocar o violoncelo por uma arma.
É uma bela metáfora dos regimes comunistas.