Putin volta a "dar gás" à Europa

O Presidente russo, Vladimir Putin, iniciou na sexta-feira uma visita oficial ao Turquemenistão, mas o principal acontecimento terá lugar no sábado, no encontro dos dirigentes da Rússia, Cazaquistão e Turquemenistão.

Os três presidentes: Vladimir Putin, Nussultan Nazarbaiev e Gurbanguli Berdimukhamedov, vão acordar o projecto de construção de um novo gasoduto que transportará gás natural turcomeno para a Europa, através do território do Cazaquistão e da Rússia.

“O formato bilateral não é suficiente para a discussão da problemática energética” - explicou Serguei Narichkin, vice-primeiro-ministro russo, apresentando como exemplo positivo um encontro semelhante, ocorrido em Março, dos dirigentes da Rússia, Grécia e Bulgária, onde foi assinado o acordo sobre a construção do oleoduto Burgas-Alexandrupolis.

As capacidades de escoamento do sistema de gasodutos “Ásia Central – Centro” já não correspondem às ambições da Rússia, Turquemenistão e Cazaquistão neste campo. Daí a necessidade da construção de um novo tubo.

Alexei Miller, director da Gazprom, o monopolista russo de extracção e exportação de gás natural, declarou que o novo gasoduto, provavelmente, passará pelo corredor onde já existe outro tubo “Ásia Central-Centro-3”. Em 2006, este gasoduto permitiu transportar 400 milhões de metros cúbicos de gás. Segundo Miller, tendo em conta a exploração dos hidrocarbonetos na parte ocidental do Turquemenistão, “é preciso repetir o velho gasoduto numa variante moderna”.

O novo gasoduto atravessará 360 quilómetros de território turcomeno, 150 de teritório cazaque até chegar à Rússia, através da qual chegará à Europa Ocidental. O seu custo será superior a mil milhões de dólares e a capacidade anual de transporte será de mais de 30 mil milhões de metros cúbicos de gás.

As autoridades turcomenas tinham em mãos uma proposta de construção de um gasoduto com um percurso alternativo, através do Cáspio, Turquia, ladeando a Rússia. Porém, o projecto a assinar amanhã neutralizará essa proposta.

Deste modo, Moscovo vai controlar praticamente todo o gás extraído no Turquemenistão. No ano passado, a Rússia comprou 41 mil milhões de metros cúbicos de gás turcomeno e, este ano, planeia adquirir 50 mil milhões. A produção anual de gás desse país da Ásia Central é de 64-65 mil milhões de metros cúbicos, a maior parte da qual já foi garantida pela Gazprom através de contratos que vigorarão até 2028.

Entretanto, os presidentes da Polónia, Azerbaijão, Ucrânia, Geórgia e Lituânia reuniram-se na cidade polaca de Cracóvia com o objectivo de conseguir um acordo sobre a construção de oleo- e gasodutos do Cáspio para a Europa Ocidental, ladeando o território russo.

A Duma Estatal (câmara baixa do Parlamento russo) classificou esse encontro de “anti-russo”, mas Moscovo considera ter já conseguido duas vitórias na neutralização desse projecto.

O Presidente do Cazaquistão, Nussultan Nazarbaev, que prometera estar presença na cimeira de Cracóvia, trocou-a pelo encontro com Putin. Além disso, o Kremlin tem praticamente garantido o apoio do Turquemenistão para a construção do gasoduto que passará pelo seu território, deixando o projecto “anti-russo” sem matéria-prima.

Numa reunião realizada na sexta-feira, Putin e Berdimukhammedov manifestaram pela assinatura de um acordo que fixe o novo estatuto jurídico do Mar Cáspio, onde estão concentradas reservas significativas de gás e petróleo.

Moscovo já tinha conseguido chegar a acordo sobre a delimitação das fronteiras no Cáspio com o Cazaquistão e o Azerbaijão, mas falta ainda o apoio do Turcomenistão e Irão.