segunda-feira, novembro 19, 2007

Bailado moderno português "patina" na capital do bailado clássico



A Companhia Nacional de Bailado exibiu na capital russa, no âmbito do Festival Dance Inversion, o bailado “Pedro e Inês”, que foi recebido com reticências pelos críticos de arte russos.
Limito-me a publicar algumas das críticas da imprensa russa especializada, pois tenho de reconhecer que não sou profundo conhecer de bailado moderno. Antes de passar às críticas, apenas gostaria de sublinhar que se tratou de um grande risco trazer uma companhia de dança moderna para uma das capitais do ballet clássico.
“Só um louco ou um português pode levar ao palco a história verdadeira dos principais amantes portugueses” – escreve Tatiana Kuznetsova, crítica de dança do diário Kommersant. Segundo Tatiana Kuznetsova, no espectáculo encenado por Olga Roriz, “o elo mais fraco é a longa dança inicial: “O Sono de Inês”, rico em movimentos estáticos”.
“Sete bailarinas (sete imagens da beldade castelhana) vivem, em sete monólogos, uma visão profética: a própria morte. As artistas bem ensinadas desempenham os seus solo com uma expressão fanática, mas a sua verbosidade patética parece demasiadamente longa e exageradamente melodramática” – considera a crítica.
“O rei Afonso acrescenta dissonância: durante todo esse tempo, o monarca, em convulsões no trono e fazendo caretas terríveis à própria coroa, desempenha o papel de mau no estilo do antigo teatro de pantonímia” – acrescenta Tatiana Kuznetsova.
A crítica considera, porém, que “o espectáculo é salvo precisamente pelas cenas mais arriscadas”, sublinhando momentos como o “adágio de amor de Pedro e Inês” e “a exumação encantadoramente bela do cadáver (de Inês)”.
“No entanto – sublinha ela – está longe de ser perfeita. A longa procissão do rei com o cadáver de Inês e a cena igualmente longa da coroação da morta são muito estragadas pelo “trono” idiota... parecido com uma cadeira de estomatologia ou ginecologia”.
“Mas todas as falhas deste bailado “incorrecto” são compensadas pela simplicidade e sinceridade dos sentimentos de que são capazes só os habitantes da Península Ibérica, periferia europeia da dança moderna que ainda não foi atingida pelo reflexo auto-destruidor dos vizinhos setentrionais mais apurados” – conclui ela.
Anna Gordeeva, crítica do diário Vremia Novostei, é menos clemente para com o bailado encenado por Olga Roriz.
Segunda ela, várias vezes a música parece não coincidir com a dança no palco. “A música aqui (uma mistura de sete autores...) estremece monotonamente, não coincidindo de forma alguma com a expressão dolorosa do pesadelo nocturno” – escreve a crítica, referindo-se a “O Sono de Inês”.
“A cena impressiona novamente, mas uma vez mais não coincide de tal forma com a música que parece que puseram a tocar outro fonograma por engano” – acrescenta ela, sobre a cena do assassinato de Inês.
“No fim de contas, a nossa versão sobre os sofrimentos do monarca por uma pessoa perfidamente assassinada também não pode ser considerada feliz: “Ivan, o Terrível” poderá ser ainda mais tenebroso” – conclui Anna Gordeeva, comparando o drama português ao assassinato do filho do czar Ivan, o Terrível pelo próprio pai.
“Talvez valesse mais se o bailado de Portugal trouxesse obras de coreógrafos cujos nomes provocam inveja dos amantes de teatro de Moscovo” – considera o diário “Vedomosti”.

Sem comentários: