sexta-feira, novembro 09, 2007

Putin, Putin, e mais uma vez Putin!


A Constituição da Rússia não permite a Vladimir Putin candidatar-se a um terceiro mandato presidencial, mas os seus apoiantes procuram desesperadamente encontrar forma de fazer com que ele continue a influir nos destinos do país depois de abandonar o Kremlin em Maio de 2008.
Para 15 de Novembro está marcada uma conferência com vista à criação de um novo movimento: "Por Putin!", que tem por objectivo fazer do actual Presidente o "líder da nação", uma espécie de Den Ziao Ping russo. Os organizadores ainda não encontraram a fórmula necessária para conseguir isso, mas o primeiro passo nesse sentido é fazer com que o Partido Rússia Unida, cujo cabeça de lista é o próprio Presidente Putin, tenha uma vitória esmagadora nas eleições parlamentares de 02 de Dezembro.
A direcção da Rússia Unida não esconde que pretende transformar as eleições num "referendo à política do Presidente Putin", tentando assim aproveitar a popularidade do dirigente russo.
Mas para que não haja surpresas desagradáveis, todos os meios são bons.
Luc van den Brande, chefe da missão da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa para acompanhar as eleições na Rússia, considera que nem todos os partidos que participam nas eleições parlamentares têm acesso aos meios de informação.
“Manifestámos preocupação pelo facto de, na Rússia, o Estado controlar completamente os órgãos de informação electrónicos. Quando falamos em eleições livres, incluímos incondicionalmente nisso a liberdade de expressão e de pensamento, a possibilidade de informar todos os eleitores da Rússia” – declarou Luc van den Brande numa conferência de imprensa em Moscovo.
Ele assinalou que todos os eleitores devem ter acesso a informação objectiva.
“Infelizmente, muitos dos nossos interlocutores informaram-nos que o partido no poder (Rússia Unida) controla totalmente a televisão e rádio. Isto, consideramos, não corresponde aos princípios de realização de eleições livres e democráticas” – sublinhou o parlamentar europeu.
Luc van den Brande declarou também que o Conselho da Europa se confronta com uma situação nova, quando “o Presidente se associou a um dos partidos políticos”.
“Isso é um assunto interno da Rússia” – frisou, mas acrescentou que “neste caso, podem confundir-se a função presidencial e a função de participante do processo político”.
Luc van den Brande considerou também que o número de observadores estrangeiros (trezentos) é claramente insuficiente.
“A Rússia é um país grande, tem nove fusos horários, seria preciso o dobro de observadores” – acrescentou.
Igual pedido a Moscovo foi feito pelos Estados Unidos e pela Organização para a Segurança e Cooperação na Europa.
O representante da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa destacou o grande trabalho desenvolvido pela Comissão Eleitoral Central da Rússia.
Praticamente todos os partidos políticos se queixam de discriminação nos média em relação ao Partido Rússia Unida, cujo cabeça de lista é o próprio Presidente Putin, bem como de dificuldades levantadas pelos poderes locais à propaganda eleitoral da oposição.
Boris Nemtsov, dirigente da União das Forças de Direita, denunciou o confisco de 15 milhões de exemplares do jornal “Problema Nº1” em 24 regiões do país, sublinhando que isso se deve ao facto de essa força política “ousar criticar duramente o poder”.
O Partido Comunista da Federação da Rússia acusa as autoridades de terem confiscado os computadores e maquinaria de uma tipografia da cidade de Omsk, obrigando ao encerramento desta empresa que imprima propaganda eleitoral para os comunistas.
Ao contrário da campanha eleitoral de 2003, os debates televisivos na actual campanha são transmitidos em directo, mas a oposição acusa o Kremlin de ter viciado as regras a seu favor. Embora a Comissão Eleitoral Central da Rússia considere ser obrigatória a participação de todos os partidos nos debates televisivos, a Rússia Unida decidiu não participar.
Além disso, os debates televisivos nos canais públicos não são transmitidos no prime-time. O primeiro canal (ORT) transmite os debates às 07 horas da manhã, o canal TVTS faz o mesmo às 17.45 e o Rossia, às 22.50 horas.
“Os reformados com insónias e os que se preocupam mais com os destinos da Rússia do que ela própria gostaria tornaram-se involuntariamente os telespectadores principais da corrida eleitoral” – ironiza o jornal Nazavissimaia Gazeta.

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